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Dia internacional da mulher e as séries

Por: em 8 de março de 2012

Dia internacional da mulher e as séries

Por: em

Chegamos a mais um dia 8 de março. Aquele dia que muita gente confunde uma luta com uma celebração (como se fosse o dia dos pais ou das mães). É o dia em que muitxs dão “parabéns” às mulheres, entregam rosas, em que os homens prometem ser gentis naquele dia, pois é o seu dia, mulher.

Charlie’s Angels: mulheres como detetives particulares

Nunca entendi o motivo de se dar parabéns às mulheres neste dia. Por ter nascido mulher? Até onde eu sei, ninguém escolhe nascer mulher ou homem, assim como não escolhe a família ou país. Não me levem a mal; sei que as rosas e as congratulações são cheias de boas intenções, mas eu educadamente dispenso essa rosa.

Em 8 de março de 1917, uma ação política das operárias russas contra a fome, contra o czar Nicolau II e contra a participação do país na Primeira Guerra Mundial precipitou os acontecimentos que desencadearam na revolução de fevereiro. O líder Leon Trotsky registrou assim esse evento: “Em 23 de fevereiro (8 de março no calendário gregoriano) estavam planejadas ações revolucionárias. Pela manhã, a despeito das diretivas, as operárias têxteis deixaram o trabalho de várias fábricas e enviaram delegadas para solicitarem sustentação da greve. Todas saíram às ruas e a greve foi de massas. Mas não imaginávamos que este ‘dia das mulheres’ viria a inaugurar a revolução”.

A situação econômica e política da Rússia era então insustentável. Mais de 90 mil pessoas marcharam, exigindo pão e paz. Os protestos e as greves subsequentes culminaram na queda da monarquia. Alexandra Kollontai, uma das principais dirigentes feministas da revolução de outubro, afirmou que “o dia das operárias em 8 de março de 1917 foi uma data memorável na história”. (Blogueiras Feministas)

Dispenso porque este não é um dia de celebração – pelo menos, não no sentido de parabenizar mulheres por serem mulheres. Datas como o 8 de março, como o dia da consciência negra e tantos outros estão aí para nos lembrar que ainda há excluídos e marginalizados em nossa sociedade. Não é um dia de festa (até porque, se fosse, porque não teríamos um dia do homem? Temos o dia dos pais e o dia das mães, não?); é um dia para lembrarmos que as mulheres, apesar de serem metade da população mundial, ainda são tratadas como minoria.

De que adianta você dar uma rosa para a sua colega de trabalho sendo que, no caminho, criticou um motorista ruim dizendo “ah, tinha que ser mulher!”? Ou falar para a mãe ou esposa que “hoje, como é o seu dia, eu é que vou lavar os pratos”? Ou pior, dar os parabéns pelo dia internacional da mulher para emendar um “agora me faz um sanduíche”.

Mad Men: uma série focada nos homens, mas com grande atenção ao papel da mulher na década de 1960

Ainda recebemos salários mais baixos do que homens na mesma função (e espero que isso mude em breve com esta notícia); somos discriminadas só pelo fato de sermos mulheres; temos o nosso intelecto rebaixado porque “mulheres são seres emocionais, enquanto homens são os racionais”; há empresas que preferem contratar homens porque eles não engravidam e, por isso, trabalham mais; somos taxadas de vadias se ficamos com vários caras na mesma noite; não somos donas dos nossos próprios corpos.

Em dezembro e janeiro, fiz maratona da segunda, terceira e quarta temporadas de Mad Men (se você ainda não assistiu, assista e entenda porque a série é merecedora de todos os Emmys que abocanhou nos últimos anos) e eles mostram muito bem as dificuldades das mulheres tanto no lado pessoal como no profissional. E, mesmo sendo uma série ambientada nos anos 1960, muita coisa continua a mesma desde então. A Peggy, por exemplo, passou de secretária para redatora da agência de publicidade, mas é constantemente ignorada pelos colegas homens simplesmente porque ela é uma mulher. As ideias dela costumam ser as melhores (com o chefe dela roubando algumas e tornando-as dele, inclusive) e, mesmo quando o produto é voltado para o mercado feminino, ela é deixada de lado nas reuniões.

Parece absurdo enquanto assistimos – e até “desculpável” por se tratar de uma época passada –, mas é algo que continua acontecendo até hoje em muitas empresas.

Do lado pessoal, temos a Joan que, embora seja a femme fatale, consegue impor respeito por ser uma espécie de gerente das secretárias do escritório, mas insiste em viver com o marido uma grande mentira em que ela não é nem um pouco feliz. Tudo isso para manter a imagem de esposa competente, de família de comercial de margarina, aguentando até mesmo que o marido a estupre.

Hoje em dia, temos as delegacias da mulher, temos a lei Maria da Penha, temos aparatos legais para defender as mulheres desses abusos. Mas não é fácil se livrar da dependência psicológica (que também é uma forma de abuso), seja porque a mulher ainda cresce ouvindo que ela é a dona do lar e tudo o que acontece no âmbito familiar é de responsabilidade dela, seja porque acha que não consegue viver sem o “príncipe encantado” que virou um sapo, seja pela dependência financeira.

Sex and the City: porque mulheres podem e devem se unir

Como estamos em um blog de séries, é preciso voltar a discussão um pouco para a TV. Uma das primeiras coisas que estudantes de comunicação aprendem na faculdade é que a mídia em geral influencia e é influenciada pelas mudanças que ocorrem em sua época. Nos anos 1960/1970, as mulheres começavam a reivindicar os seus direitos, principalmente sexuais por conta da pílula anticoncepcional, estavam trabalhando fora e lutavam por mais igualdade entre os gêneros. A série Charlie’s Angels (1976) acompanhou esta mudança, mostrando mulheres fortes e independentes se virando em um mundo masculino, sem medo de dar porrada nos vilões que apareciam.

Sex and the City (1998) mostrava as aventuras sexuais e amorosas de quatro amigas que queriam viver a vida em Nova York sem medo de serem felizes. Como não colocar a Samantha como símbolo dessa nova luta sexual dos anos 1990/2000? Ela era uma mulher forte, inteligente, divertida, bem sucedida, que transava com qualquer homem (da idade dela, mais velho ou mais novo) simplesmente porque ela tinha vontade. Ela era dona do seu corpo e ninguém podia tirar isso dela. E tem mais; em um mundo que prega que não existe amizade entre mulheres, Carrie, Miranda, Charlotte e Samantha chutaram bundas e mostraram que existe sim uma amizade e cumplicidade muito forte entre nós.

Recentemente e ainda no ar, temos Grey’s Anatomy (2005), que logo no primeiro episódio já mostra que a protagonista Meredith é adepta dos one night stands (ou seja, dormir com um cara e nunca mais vê-lo), é independente e a única pessoa capaz de fazê-la sofrer é a rígida mãe. Temos também a Cristina, que não quer ter filhos e decidiu abortar nas duas vezes em que descobriu que estava grávida, causando muita controvérsia nos Estados Unidos. Um dos casais mais bonitos e queridos do Seattle Grace é composto por duas mulheres donas de seus próprios narizes, Arizona e Callie, sendo que a última teve uma briga enorme com a família que não aceitou a sexualidade da filha. Não posso deixar de lado o fato de a pessoa mais respeitada e competente do hospital ser a Bailey, uma mulher negra, ou seja, uma pessoa que a sociedade em geral costuma relegar o lugar mais baixo na pirâmide social.

Na ficção, caminhamos cada vez mais para um mundo mais feminista (porque feminismo é a ideia radical de que mulheres são gente) e, consequentemente, mais justo para homens e mulheres. Não seria ótimo se a realidade também fosse assim? Ao invés de oferecer uma rosa neste 8 de março, comece a combater as piadas machistas, a espantar a preguiça ajudando nas tarefas de casa e a lutar para que os direitos das mulheres sejam os mesmos dos homens também na prática.


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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