Comecei o texto do episódio passado falando que a principal características dessa temporada de Game of Thrones seria a mudança de direção que o jogo dos tronos assumiu após a morte de Robb Stark e o “fim” da Guerra dos Cinco Reis. Desde a primeira temporada e a famigerada decapitação de Ned, a série se provou diferente das demais no aspecto da improbabilidade. Acredito que quase ninguém esperava a morte do patriarca Stark, assim como não esperava a de Robb e, agora, a de Joffrey. São exatamente essas viradas repentinas que fazem da série tão deliciosa de se assistir. Semana passada estávamos em um ponto, hoje estamos em outro, assim, da noite pro dia.
Que Joffrey era odiado por 9 entre 10 fãs (isso se não forem 10), parece fato concreto. Desde que assumiu o trono e foi o responsável direto pela morte de Ned, o pequeno rei foi acumulando ódio e mais ódio a cada episódio, não apenas fora, mas dentro da série. Por isso mesmo, é tão difícil imaginar quem possa ter sido o responsável direto pelo seu envenenamento. Só neste episódio, vemos Olenna e Tyrion com atitudes que poderiam muito bem ser interpretadas como “pistas” para tal. Mas dentro de uma corte tão grande como Porto Real e num momento como um casamento – onde todos estão distraídos- , qualquer um pode ter sido o responsável. A acusação imediata recaiu para Tyrion pelo azar das circunstâncias. Havia acabado de ser humilhado pelo rei e estava sendo obrigado a servir sua bebida. Ser odiado pela irmã também não ajuda em nada nesse ponto.
Outra “pista” deixada pelo episódio é o chamado que Sansa recebe para fugir no meio de toda a confusão. Chamado que, pelo olhar duro que ela lançou a Joffrey quando ouviu as palavras do bobo da corte, deixa claro que a proposta foi aceita. Longe de Porto Real, Sansa pode crescer – como pessoa e como personagem – e se torna mais uma das promessas da temporada.
São várias as desmembrações que a morte do rei traz. Primeiro, com Tyrion preso, o clima de instabilidade no reino tende a piorar. Em seguida, tem a questão dos Tyrell. Porto Real não tem mais a mesma força de outrora e perder o apoio de Jardim de Cima pode ser crucial. Ainda existe o casamento de Cersei e Loras em andamento (o que se depender de Jaime, não deve acontecer), mas e Margaery, quais rumos tomará? No meio de todo esse turbilhão, ainda temos Jaime, que diferente de Cersei, nunca nutriu ódio pelo irmão e, pra terminar, encontrou nele um dos únicos apoios desde que voltou à capital sem uma mão. De que lado o gêmeo ficará é um mistério, já que por melhor que ele possa estar tentando se tornar, sua obsessão por Cersei ainda é grande.
Como se Cersei já não tivesse “problemas” o suficiente para lidar. Tyrion enviou Shae para longe – então, nisso, ela perdeu – , mas ainda existem 2 figuras femininas na corte se impondo à ela: Brienne e Margaery. A primeira pode ser o que Jaime precisa para se livrar da rainha. Não no sentido romântico, porque por mais que a série tenha insinuado que haja um interesse da parte de Brienne, de Jaime não parece haver reciprocidade. A relação dos dois na temporada passada, como a própria Brienne colocou em palavras, ajudou a salvá-los – para Jaime, um pouco menos literal, já que grande parte de sua mudança se deve a ela -, mas não os aproximou como amantes. E, analisando, isso é o que é o mais legal no relacionamento entre eles.
Quanto a Margaery, o casamento com a Joffrey tornava Cersei, como Oberyn fez questão de frisar muitas vezes, ex-rainha regente. E todos sabemos o quanto Cersei ama o poder e tudo o que ele traz. Com a nova viuvez da rosa (inclusive, ela já pode começar a se tratar, porque dois maridos e reis mortos no intervalo de tempo de uma temporada e meia…), fica complicado imaginar os rumos que a rivalidade das duas irá tomar, mas que ela continuará a existir, isso parece bem claro.
Outro suspeito em potencial do envenenamento é Oberyn, que não teve tanto destaque aqui como no passado, mas em um pequeno diálogo, deixou claro para Cersei e Tywin que não está na corte apenas para celebrar o casamento real e sim conseguir vingança contra todos os Lannister, responsáveis pelo que aconteceu a sua irmã Elia e seus sobrinhos durante a rebelião de Robert.
Mas nem só de Casamento Real viveu o episódio. Alguns núcleos que não apareceram na premiere, voltaram a dar as caras aqui e a saga de Theon, ou melhor, Fedor, foi um deles. Em uma temporada, já deu pra ver os estragos que Ramsay e sua psicose fizeram no psicológico de Theon. O brilho nos olhos deu lugar a uma inércia um tanto quanto perturbadora, a postura outrora firme agora é semelhante a de um boneco joão-bobo e até mesmo a fala adquiriu uma secura e uma negrura angustiantes. Como disse Ramsay ao seu pai, ele não é mais Theon Greyjoy, herdeiro de Balon, agora é apenas Fedor. Um servo domesticado para atender as vontades doentias de seu mestre. Com a chegada de Lorte Bolton e sua clara birra com o filho e o modo como ele tratou o prisioneiro, as coisas podem melhorar um pouco para Theon, mas isso só o tempo pode comprovar.
As frentes narrativas de Bran e Stannis apareceram por poucos minutos, mas se enquanto com o primeiro pode-se perceber um avanço (ainda que pouco) na história, quando o pequeno Stark recebe um “chamado” e entende para onde tem que ir (o que foi a forma da série contornar a retirada de Mãos Frias, um personagem dos livros que não aparecerá), com o segundo tudo soou mais do mesmo e tudo que vimos foi novamente Melisandre exercendo seu poder e cometendo barbaridades em nome do deus que tanto acredita.
Talvez seja a hora da série começar a trabalhar mesmo seus núcleos paralelos, porque nem só de tramas centrais vive um programa de TV.
