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Homeland – 4×07 Redux

Por: em 12 de novembro de 2014

Homeland – 4×07 Redux

Por: em

Perspectiva é tudo. Redux foi um episódio atípico justamente porque apontou o foco para personagens e situações que o público já conhecia, mas sob um olhar completamente diferente. O ponto de vista de Haqqani, o outro lado de Lockhart, o interior da mente de Carrie. Às vezes você não precisa de uma reviravolta para mostrar algo novo, basta mudar o ângulo de visão.

lockhart

O sequestro de Saul mobilizou a CIA e levou Lockhart até o Paquistão para tentar negociar o seu resgate com pessoas que oficialmente nem assumem estar por trás do crime. Temos certeza de que Tasneem está, os demais, podemos apenas supor que sim. Apesar de toda a animosidade entre o ex e o atual diretor da CIA, não se pode acusar Andrew de ficar apático à situação. O senador recorreu até mesmo ao presidente para ter uma oferta de peso a fazer pela vida do colega e foi extremamente firme e sensato durante todo o episódio conduzindo a operação. Não vamos esquecer, no entanto, que ele – assim como Sandy – tinha uma parceria de troca de informações com o inimigo, e que não se sabe exatamente qual é o limite dessa relação. Acabou mesmo com a morte do ex-chefe da divisão?

Em quatro temporadas, uma coisa é sempre certa: o sétimo episódio tem grandes momentos para o Saul. No ano de estreia, apesar de “The Weekend” ser oficialmente o “episódio da cabana”, foi o momento em que Saul capturou e interrogou Ailleen, o que acabou revelando muito sobre ele também. Na segunda temporada, “The Clearing” resgatou essa improvável relação quase paternal entre ele e a terrorista. Ailleen negociou informações falsas com ele em troca de óculos que ela usou para se matar – algo que Saul nunca superou. Ano passado, em “Gerontion”, ele fez uma série de articulações para tentar passar a perna em Lockhart e se manter no comando da CIA. E agora temos Redux, explorando momentos incríveis entre Saul e Haqqani.

Abu Nazir e Javadi, apesar de não serem vilões clássicos, tinham uma aura intimidadora que eu não consigo ver em Haqqani, mesmo depois de matar Aayan com toda aquela frieza. O alívio de ter uma proteção temporária, a felicidade de reencontrar a família, a doçura e a dedicação com que ele defende seus ideais – ainda que estes ideais sejam desprezíveis para nós – nada nele soa como um fanático terrorista. Haqqani é um líder que inspira seus muitos seguidores primordialmente através do carisma, da admiração que desperta, e não pelo medo. Ok, talvez o fato de ele ser um gato tenha me influenciado um pouquinho, mas ainda é por aí.

haqqani

Não é a primeira vez que vemos os princípios da CIA e dos Estados Unidos serem defendidos em um diálogo com os contrapontos dos seus inimigos históricos. Abu Nazir e Carrie já tiveram uma conversa parecida quando era a loira a sequestrada da vez. Mas, como já disse, é tudo uma questão de perspectiva. Saul foi muito certeiro nas suas colocações (aliás, que coragem de falar aquilo tudo em uma sala cheia de terroristas), mas Haqqani levantou pontos extremamente relevantes e consistentes, que surpreendem em serem ditos às claras na TV americana, principalmente sobre o governo Bush. Saul pode até pensar que não é tão valioso, mas a verdade é que seu descuido no aeroporto vai custar muito caro ao governo americano.

Carrie já estava demorando a sair do controle. Em quatro temporadas, vimos incontáveis surtos da agente da CIA. Até agora, nenhum tinha conseguido ser mais épico que aquele em que ela monta a linha do tempo de Abu Nazir na parede da sala de estar. Até Redux. Ver a Carrie doida não é novidade, mas ser a Carrie doida, sim! Neste episódio o público foi levado para dentro da cabeça dela. A direção fez um trabalho muito, muito bom com os efeitos e câmera, mixagem de som, recorte das cenas… tudo milimetricamente calculado para que a gente sentisse na pele o desespero que é não saber o que é real e o que é imaginação, ter a percepção de tudo ao seu redor completamente alterada e perder o controle sobre a sua cabeça.

Trocar os remédios de Carrie por pílulas de farinha foi a forma que eles encontraram de desestabilizar a chefe e toda a sua divisão. Se Carrie é a grande mente por trás da operação que pretende aniquilar Haqqani, é um trunfo e tanto ter o poder de manipular essa mente. E nós fomos manipulados junto! Eu só tive certeza de que não era Quinn no hospital quando o vi plácido e sereno na sala de operações. Na hora em que Carrie sacou a arma imaginária e atirou nos homens de carro eu quase arranquei os cabelos. Mas nada, nada tinha me preparado para o que veio depois.

brody

A temporada foi tão bem construída que a ausência de Brody nem tinha sido sentida – nem pelo público, e nem pela Carrie-durona-heartless-drone-queen. Mas em seu momento de maior vulnerabilidade ela acabou alucinando que ele estava vivo, que estava na sua frente. Racionalmente a gente sabe que aquilo era impossível, mas eu duvido que alguém não tenha balançado por um segundo e acreditado que o Marine One realmente estava de volta. E foi absurdamente reconfortante ver Damian Lewis e Claire Danes juntos novamente. Foi uma cena incrível como só os dois conseguem fazer, e expôs toda a fragilidade que Carrie tinha escondido durante seis episódios.

Algumas observações:

– Que mosca mais perturbadora! Desde Breaking Bad uma mosca não me deixava tão irritada quanto a daquela cela.

– Sempre que a Carrie surta, eu imagino a Claire Danes postando no Twitter #PartiuEmmy

– Como se não bastasse colocarem um bebê com a máscara do Brody, ainda fazer a Carrie alucinar com ele. Deixem a menina superar, gente! Coitada.

– Rolou um momento de meta-confusão mental em que ela falou com o Brody como se fosse com o Aayan, né? “Eu estava disposta a te deixar morrer” com certeza não foi pro Nicholas.

– Queria um Numan Acar pra mim. Onde vende?

Redux foi repleto de referências ao passado e deixou muitas perguntas para o futuro. Como Carrie vai recuperar o controle? Será que ela vai se tocar que seus remédios foram adulterados? Saul vai ser salvo? Lockhart vai continuar em sua versão não-escrota até o fim da temporada? O que você acha? Deixe suas teorias nos comentários!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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