Fazia muito tempo que não tinha uma sensação tão boa ao ver um piloto e tive que segurar a vontade extrema de abraçar a televisão/computador. Hart of Dixie é tudo aquilo que os materiais promocionais e entrevistas com elenco e direção prometeram: uma série focada no crescimento e relação entre os personagens em uma cidadezinha do interior cheia de peculiaridades, tradições e belezas naturais.
Em HoD, Rachel Bilson interpreta Zoe Hart, uma jovem médica, aparentemente, auto confiante que está finalizando o período de estágio em um importante hospital de New York. Hart possui toda sua vida planejada desde os nove anos, quando, por influência e admiração por seu pai, decidiu se tornar cirurgiã cardiotorácica. Para sua ambição tornar-se realidade, parece que a jovem ligou o “piloto automático” e todas as suas ações, inclusive a escolha de seu namorado, possuem um único objetivo: ser colega e respeitada por seu pai.
Entretanto, seus planos mudam ao ser informada que não foi aceita para o programa de residência e seu namorado dá um basta na relação, ambos alegando que Zoe precisa melhorar suas habilidades com pessoas. Assim, a jovem, “exilada de Manhattan”, muda-se para a cidadezinha de Bluebell, no interior do Alabama, onde irá trabalhar como clínica geral em um consultório privado. Aí que surgem as primeiras perguntas de Hart of Dixie: por que o Dr. Harley Wilkes faz tanta questão de que Zoe trabalhe com ele? E por que ele deixou metade da clínica para ela em seu testamento? Esses questionamentos já são respondidos ao final do episódio, mudando toda a dinâmica e percepção familiar e comportamental de Zoe.
Naturalmente, o comportamento de menina da “cidade grande” da Dra. Hart não atrai muitos fãs em Bluebell: a família Breeland, composta pelo sócio de Zoe na clínica o Dr. Brick Breeland e sua filha Lemon (Jamie King), vão fazer de tudo para que a jovem não se sinta confortável na nova cidade. Aliás, a sulista apegada às tradições Lemon me parece a personagem que mais tem a crescer e desenvolver-se em Hart of Dixie, afinal quem não gosta de uma vilã com cara de anjo e vestindo roupas de época?
É claro que Hart já “angariou” alguns admiradores pela cidade, como o prefeito da cidade, e ex-jogador de futebol, Lavon Hayes (Cress Williams), seu vizinho bad boy Wade Kinsella (Wilson Bethel) e o advogado George Tucker (Scott Porter), noivo de Lemon. No piloto, o roteiro já deixa óbvio que o triângulo amoroso Wade – Zoe – George será um dos plots principais do show.
A volta de Rachel Bilson a televisão é consistente, mesmo que o seu personagem em The OC seja extremamente marcante e difícil de esquecer. A atriz possui muita habilidade e carisma para apresentar as diferenças entre a cidade grande e o interior, de uma forma “atrapalhada” e simpática como a série pretende desenvolver. Mais do que uma menina deslocada de seu ambiente natural, Zoe é uma mulher que não parece se conhecer. Toda a sua vida foi pensada para seguir os passos e reconquistar o afeto de seu pai, assim a viagem ao sul será, mais do que uma mudança de ares, uma jornada de autoconhecimento.
A série possui um elenco fantástico e fundamentar-se-á em torno dos personagens, suas escolhas, conseqüências e direções que suas vidas tomarão. Além de plots leves, como as tradições e acentos sulistas, o show irá evidenciar a comunidade machista e racista que, apesar de totalmente retrógrada, é tão presente no antigo território americano escravocrata. A relação implícita entre Lemon e o prefeito da cidade confirma o quão devastador a questão racial ainda pode ser.
Hart of Dixie terá sua estréia oficial na próxima segunda-feira, dia 26 de setembro, no canal americano CW e, provavelmente, conquistará muitos fãs saudosistas do tempo áureo da WB.
Para minha felicidade ser completa, só faltava o Seth Cohen aportar em Bluebell com o seu Summer Breeze.
P.S.: Vocês sabiam que “dixie” é uma palavra utilizada pelos americanos para se referir a coisas ou pessoas provenientes dos Estados Sulinos dos EUA?
