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Looking

Por: em 21 de janeiro de 2014

Looking

Por: em

A primeira coisa que você tem que saber é que, não, Looking não é Girls For Gays. Tem uma proposta parecida, mas com uma ambientação e um encaminhamento diferente. Enquanto a série de Lena Dunham procura mostrar como a vida não é tão colorida para quem acabou de entrar na juventude – e caindo um pouco em discussões sobre gênero, até -, Looking não vem para discutir nada e nem para tentar desmistificar nada. Por esse piloto, o objetivo da série é apresentar um retrato verossimilhante e cru da vida de três homens gays de meia-idade em São Francisco e apenas isso.

Looking-protagonistas

Posto esse detalhe, parece claro que a série começou com o pé direito.

O roteiro e a narrativa de Michael Lannan são econômicos na exata medida que é necessário. O texto não tem firulas, gírias forçadas e nem tenta estabelecer padrões. Simplesmente joga Paddy (Jonathan Groff), Agustin (Frankie J. Alvarez) e Dom (Murray Barlett) no cenário, sem tentar encaixá-los em algum tipo pré-determinado (uma coisa que os produtos audiovisuais de temática gay adoram fazer, mesmo que inconscientemente). Os diálogos, tanto entre os protagonistas quanto entre os personagens secundários, fluem com uma boa naturalidade e ajudam a estabelecer a personalidade de alguns, como Paddy (que já se apresenta como o personagem mais interessante, cheio de conflitos internos que não deixa transparecer) e Dom.

O mesmo recurso, contudo, acaba também prejudicando um pouco o episódio piloto por prejulgar que o público já conhece aqueles personagens. Em momento algum, Looking se preocupa em explicar quem eles são. É algo que vem sendo usado cada vez mais em TV e cinema depois que a audiência começou a cobrar agilidade e que, por mais que funcione para criar intimidade, às vezes (como nesse caso), causa estranheza. Foi preciso alguns bons minutos para que eu me situasse na história e entendesse quem era Paddy, quem era Dom e quem era Augustin – embora, desse terceiro, muito ainda não tenha sido mostrado, deixando-o a sombra de seus dois companheiros de cena.

O bom é que a série parece ter esse medo, porque mesmo com o foco aqui sendo um pouco mais direcionado a Paddy, cenas de Dom e Augustin aparecem intercaladas.

Sobre Paddy, nos é mostrado seu trabalho como designer de videogame (uma profissão que eu adoraria seguir, vale ressaltar), relances de um relacionamento aparentemente perturbado com a mãe (perceptível em alguns diálogos – e é essa sutileza do episódio que me pegou) e uma vida que ele julga feliz e completa, mas que, pouco a pouco, o próprio percebe que não é. Paddy tem medo, e o mais assustador é que ele nem mesmo parece saber de quê. Talvez seja o medo que deve aparecer aos 29 anos (não posso falar com certeza porque ainda estou nos 22), quando é provável que a maior parte dos seus sonhos já tenha vindo abaixo e você percebe que não vai mais dominar o mundo. O medo de viver. E, é preciso dizer, Jonathan Groff (o melhor ator desse episódio, de longe) transmite tudo isso com excelência, seja com o mastigar incerto do cereal, o olhar assustado ao ser abordado no ônibus ou na cena final, onde o personagem parece realizar tudo isso – e decide tentar uma virada.

dom e paddy looking

A respeito de Dom e Augustin, ainda não aprendemos muito. O primeiro mora com a ex mulher (aparentemente. Ou ex namorada?) e tem alguns problemas com outro ex, Ethan. O modo como ele ficava tenso (e como sua ex mulher também) sempre que citavam o  “assunto” mostra que tem algo a ser resolvido aí ainda. Gosto de como o roteiro apresentou o personagem, um tanto agridoce, no limiar entre um sorriso forçado e uma grosseria gratuita. Já o segundo, pouco espaço teve, mas parece um personagem interessante também.

Meus elogios se estendem também a técnica da série. Não apenas a direção certeira, que soube priorizar muito bem cada um dos personagens e colocá-los dentro da história no momento que era adequado (e até mesmo alguns movimentos de câmera, como os usados na conversa entre Paddy e Richie no ônibus), mas também a fotografia um pouco soturnaLooking não é solar como Girlsé escura, quase sufocante, cinza. Qualquer relação com a naturalidade dos diálogos e a verossimilhança que a história mostrou ter não é mera coincidência.

No saldo final, uma estreia bastante promissora, sem dúvida. Minhas fichas continuam apostadas na possibilidade de estarmos diante de uma das melhores estreias do ano. A impressão que tenho é de que a medida em que um arco narrativo forte se estabeleça (mesmo que ele seja o dia-a-dia dos personagens, como foi aqui) e os personagens ganhem um desenvolvimento sólido e um bom background, o ótimo irá se tornar excelente.

Eu vou pagar pra ver. Vocês vão?


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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