Foram quatro anos de dramalhão, riqueza, vinganças, mentiras, malabarismos de roteiro, pessoas morrendo, pessoas morrendo e voltando à vida, pessoas morrendo, voltando à vida e morrendo de novo, mas em algum momento a jornada de Amanda Clarke precisava terminar. Por isso aqui estamos, diante de duas sepulturas: em uma, jaz Revenge. Na outra, o bom sensinho de Sunil Nayar.
Se fizessem um teste de DNA em Revenge, descobririam que ela foi, na verdade, uma novela mexicana criada como uma série americana… talvez partindo dessa premissa seja um pouco mais fácil aceitar a narrativa surreal deste último episódio. Sim, eles deram um jeito de amarrar algumas pontas, mas através dos caminhos mais preguiçosos e das soluções mais desanimadoras. A série que nos fez perder o fôlego tantas vezes, justamente em seu final apresentou 42 minutos repletos de bocejos.
A arcada dentária do cadáver encontrado na mansão era compatível com a de Victoria porque pertencia à sua mãe, afinal. E dá para dizer que o embate final entre Marion e Vic foi apenas o primeiro dos vários acertos de contas frustrantes que essa finale apresentou. Assumir um assassinato para ser enviada para uma prisão de segurança máxima deve ser o plano de fuga mais inusitado de todos os tempos, mas tudo bem, vamos voar. Se a sequência de Emily deixando a cadeia tivesse sido tão emocionante quando a de Victoria deixando o hospício, teria valido a pena, mas a série preferiu apostar na preguiça e nas saídas mais óbvias e inverossímeis que conseguiu bolar.
Jack e Amanda só não teriam um final feliz juntos se algum deles morresse. Eles se empenharam tanto nessa tarefa que quase deu pra acreditar que estavam tentando se livrar da companhia um do outro. Depois de descobrirem que Ben morreu na casa de Marion e que Victoria ainda está viva e livre, eles decidem:
( ) fazer uma denúncia anônima para a polícia contando tudo
( ) arrumar um jeito de localizar Victoria
(x) aproveitar o aconchego da casa da morta para um rala-e-rola vespertino
Mas tudo bem, a gente releva porque, né? Foram quatro anos de chove-não-molha, Amanda estava presa e Jack na seca desde a morte da agente fake aleatória que matou o Daniel. Quando tudo parece bem, quem aparece? A Courtney Love! É óbvio que o personagem mais ferrado de Revenge não poderia se despedir da gente sem uma dose de sofrimento. E dá-lhe facada no pâncreas. E Dá-lhe hospital, e dá-lhe Emily aparecendo no quarto que está rodeado por policiais para conversar tão alto com Nolan que até a Louise resolve aparecer pra confabular junto.
Ai, Louise… a ruiva doidinha foi mais manipulada que massinha de modelar. Mãe, irmão, #TeamEmily, #TeamVicky, todo mundo tirou uma casquinha da ingenuidade e da carência da destrambelhada. A quantidade de gente no velório de Victoria já era um indicativo de que ninguém estava botando fé naquela morte, então deu até dó de ver Lou-Lou gastando um discurso emocionado pra homenagear a mother Grayson em vão. O embate entre ela e Victoria foi outro que não convenceu, mas é fato que ela só não mudou de lado novamente por falta de tempo.
Por falar nisso, Margaux, a rainha da indecisão, passou mais um episódio rolando de um lado pro outro no seu dilema interno de “vingar ou não vingar”. Ela sabia que tinha causado a morte de Ben, e ainda assim mandou mais uma vez a Courtney Love atrás da Emily. Mudou de ideia só por causa de uma foto do presunto e de um sermão do Nolan? Só não mudou de lado novamente por falta de tempo [2].
A fuga mal escrita da cadeia, as coadjuvantes bipolares, as soluções corridas… nada doeu tanto quanto o confronto final meia boca de Emily e Victoria. Foi pra isso que trouxeram a personagem de volta? Para uma conversa completamente artificial, onde até mesmo as atuações de Emily VanCamp e Madeleine Stowe estavam muito aquém do que já vimos essas duas atrizes apresentarem? Desperdiçar o plot twist de Aftermath só faria algum sentido se essa cena fosse a melhor de toda a série, mas entra fácil na galeria das piores. O discurso rendido de Victoria não teve nada a ver com a mulher forte que conhecemos. Dizer que já estava morta antes de Amanda nascer? Francamente. Se matar para incriminar sua maior inimiga seria muito mais digno que atirar pelas costas de Emily depois de ser abatida por David.
O corte entre as cenas de Emily sangrando até quase morrer e depois colocando flores na sepultura do pai foi sutil como um elefante dançando tango. Eu me senti meio Zileide Silva e fiquei alguns segundos pensando “desculpa, me perdi aqui. Vamos tentar de novo…”. Valeu a tentativa de emocionar ao mostrar a morte de David, e a execução foi até razoável... se o personagem fosse um pouco mais querido, teria funcionado bem.
Amanda pode ter seguido em frente, mas continuou assombrada pelos pesadelos envolvendo o coração de Victoria batendo em seu peito. Se é real ou não, nem faz muita diferença, já que as vidas das duas foram ligadas por laços bem mais fortes que um órgão. A gente já sabe que Ems sempre vai carregar um pedaço de Vic com ela, não precisavam usar uma metáfora tão tosca pra sublinhar isso.
O casamento de Jack e Amanda foi o típico encerramento de novela das 21h. Digno, até. Seria melhor se todos os personagens da série não estivessem mortos ou esquecidos no limbo e a festa cheia de figurantes, mas isso é só um detalhe. Já que repetiram tantos plots, poderiam ter repetido também o casamento na praia. Os dois mereciam dizer “sim” no lugar em que se conheceram depois de tudo. Entre todos os erros deste final de série, com certeza o final feliz para os dois foi um acerto. Mais por Jack que por Amanda, aliás… Amanda teve vários outros amores durante esse tempo, mas o coração de Jack sempre pertenceu à filha de David Clarke.
A despedida de Nolan e Emily foi outro momento pra guardar no coração. Eles formaram uma das melhores duplas imbatíveis do mundo das séries e mereciam aquela troca de ternuras finais. O destino do hacker ficou em aberto e tornar-se uma referência no mercado das vinganças deixa brecha até mesmo para um spin-off do personagem. Eu super apoio!
Two Graves marcou a entrada de Revenge para o hall das séries com finais polêmicos. Se por um lado a anti-heroína dos nossos domingos teve um final feliz, por outro, ficamos sem saber o real destino de vários personagens que em algum momento foram importantes para a trama. Amando ou odiando, um episódio não apaga os méritos dessa série que, por bem ou por mal, nós acompanhamos durante quatro anos. No fundo, sabemos que nossos verões nunca mais serão os mesmos longe dos Hamptons. E você, faz parte do time que amou ou odiou o encerramento da saga de Amanda Clarke?
