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Breaking Bad – Final da 3ª temporada

Por: em 17 de junho de 2010

Breaking Bad – Final da 3ª temporada

Por: em

Breaking Bad Walter White Heisenberg

Durante quase toda essa terceira temporada de Breaking Bad, a gente viu um Walt muito mais vulnerável do que na temporada passada. Nos primeiros episódios, a ameaça dos Primos chegando em Albuquerque causava uma tensão imensa pra gente, mas nunca pro próprio Walt, que cantava A Horse With No Name feliz no banheiro sem ter a menor ideia de que os assassinos o esperavam logo atrás da porta, sentados na sua cama. Acabou que Hank matou um deles, o outro eventualmente morreu no hospital e só então Walt se deu conta do perigo que o rodeava. Ainda assim, a vulnerabilidade continuou — pior, aumentou — porque quanto mais íntimo a gente ficava do poder de Gus Fring, mais era possível perceber como o Walt era só uma das peças no esquema gigantesco do tráfico de drogas. A nova rotina da produção de metanfetamina era igual a qualquer outra rotina entediante. Walt entrou no mundo das drogas não por causa de sua família, do dinheiro e do câncer. Ele entrou porque sua vida tinha se tornado um fracasso. “We’ve got nowhere to go but up” disse um Walt mais jovem, cheio de ambição, confiante que sua vida era e continuaria a ser um sucesso. Nada deu certo. E é aí que entra a adrenalina do tráfico, que o colocou em situações terríveis, mas que faziam com que ele se sentisse vivo novamente. É por isso que foi tão empolgante acompanhar o renascimento de Heisenberg — tomando novas decisões terríveis e cruéis, mas que representavam como Walt está de novo no comando das coisas, e ainda melhor — motivado pelo desejo de proteger o terceiro filho que a sua versão jovem sempre quis. Pena que, no final das contas, Walt nunca consiga escapar de causar sofrimento atrás de sofrimento, e o que era pro bem de Jesse, acabou se transformando no trauma mais pesado e impactante na vida do garoto: o assassinato de Gale.

Jesse foi a estrela dessa temporada. O personagem mais sincero e o mais corajoso. E, ironicamente, também o que mais errou. Logo no primeiro episódio, ele soube admitir pra Walt que era o cara mau da história, que ele não tinha volta. E talvez depois de disparar a arma bem no rosto de Gale, ele realmente acabe se transformando nessa pessoa, mas durante tudo o que a gente acompanhou esse ano, Jesse tá muito mais pra herói de Albuquerque do que pra vilão. O ponto fraco dele sempre foram as crianças — desde a primeira temporada, ajudando o seu irmão, passando pelo garotinho de Peekaboo no ano passado e, finalmente, o filho de Andrea e a criança que matou o Combo. Por sinal, a situação que levou Jesse a descobrir quem assassinou seu amigo foi uma das poucas coisas que eu não gostei na temporada. Breaking Bad tem várias coincidências que sempre funcionam bem sem soarem forçadas, mas essa me deixou uma impressão maior de ter sido escrita só pra avançar a história. Tanto que essa foi realmente a única função de Andrea na trama. O que importa, porém, é que no clímax de toda essa situação, Jesse estava preparado pra morrer pelo o que acreditava. Ele não se importava mais em viver ou morrer, contanto que aqueles dois marginais pagassem pelo que fizeram com uma criança. Marginais é pouco até. Aqueles dois filhos da puta.

O pior é que, parando pra pensar, a minha vontade era usar o mesmo xingamento carinhoso pro Walt. Mas é aí que mora uma das maiores qualidades de Breaking Bad: depois de tudo o que ele já fez — depois de colocar o Jesse na situação de ter que matar pela primeira vez — o Mr. White ainda é um cara carismático. Na cena da lavanderia, logo quando o Walt fala pro Jesse no celular o que ele tem que fazer, eu pulei da cadeira de empolgação e só não saí gritando pela casa porque já era madrugada, ia acordar o pessoal aqui. Eu queria entrar na tela e empurrar o Jesse pra casa do Gale. VAI LÁ, METE UM TIRO NA CABEÇA DAQUELE NERD. Só que assim que o Jesse tocou a campainha “daquele nerd” e apareceu com a arma na mão e o olho vermelho de tanto chorar que eu me dei conta. O sofrimento que o Aaron Paul transmitiu foi TÃO verdadeiro, TÃO avassalador, que eu cheguei a temer que o Jesse enfiasse a arma na boca e estourasse os próprios miolos como cliffhanger final da temporada. A vida dele já tinha descido pelo ralo há muito tempo, desde a morte de Jane. Um suicídio seria bizarro de tão terrível, mas não inverossímil. Mas isso não aconteceu, Jesse ainda tá vivo, e Gale morto em sua frente. O quão pior ele pode ficar agora?

Breaking Bad Jesse Pinkman

Vendo ainda o outro lado da história, o do Gale, a minha empolgação pela decisão de Walt continua soando absurda e surreal. O episódio fez um trabalho excelente em trazer o aprendiz-de-químico de volta à série e transformá-lo num personagem ainda mais singular. Ele não é exatamente vítima de toda essa história, afinal ele sabia muito bem em que ramo estava envolvido e do que aquelas pessoas eram capazes, mas não tem como não ficar com pena dele depois de acompanhar um pouco da sua vida excêntrica, porém feliz. Ri muito dele cantando Crapa Pelada certinho, seguindo a letra da música palavra por palavra. Quando o Gus foi conversar com ele sobre o comando do laboratório, ainda dá pra ver umas fotos na parede: fotos de viagens, voos de asa-delta, alpinismo… Gale era um ser humano como qualquer outro — estranho pra cacete — e por mais que a gente se sinta conectado com a história de Walt, as consequências de suas ações vão muito além do quão badass elas parecem.

Mesma coisa com o Mike, o capanga com todas as qualidades que um capanga deve ter: faz o que mandam e faz bem — melhor, faz bonito. Os mesmos balões que compra pra filha neta*, ele usa pra destruir a fiação elétrica e assassinar a galera do cartel. Essa cena, aliás, foi a única que destoou um pouco mais da história central do episódio e deixou a impressão de que tavam preparando o terreno pra temporada que vem. A jogada de Gus de acabar com os Primos e se livrar do controle do cartel foi inteligente, só que os riscos tão começando a se mostrar altos demais. Só não entendi uma coisa: se aqueles asiáticos estavam no depósito controlando os materiais químicos pro grupo de Gus, porque o Mike resolveu dar um tiro na mão do cara? Só por diversão? Talvez até tenha sido, porque eu dei risada na hora. Mas de novo — meus instintos emocionais ao assistir Breaking Bad não funcionam de acordo com as regras sociais de normalidade. Só tem uma risada que eu soltei no episódio que eu posso ter certeza de que não faz de mim um ser bizarro: quando o Saul chega no Laser Tag e desabafa a raiva dele com Walt por colocá-lo no meio de tudo aquilo. E depois ele ainda vai procurar alguma máquina de Tetris pra deixar o Walt e o Jesse conversarem em paz. Fala sério, Saul Goodman pra presidente já.

E Skyler pra vice. Pagou de criminosa experiente nos episódios anteriores a season finale, mas foi procurar sobre lavagem de dinheiro na Wikipedia. É exatamente o tipo de coisa que eu faria, aliás, FAÇO — só que em vez de colocar em prática, eu reescrevo pra encaixar nos trabalhos da faculdade. Mas tô divagando. O ponto que eu quero chegar falando sobre a Skyler é como a família de Walt ficou completamente ausente dessa reta final. Não falo isso como reclamação porque o episódio usou perfeitamente os seus 40 e tantos minutos de exibição, mas como será que Walter Jr, Holly, Hank, Marie e a própria Skyler vão se encaixar no meio de todo o inferno que Walt se meteu ao enfrentar Gus Fring de frente? Pra mim, a resposta tá na própria pergunta. Gus não pode acabar com o Walt porque ele é a sua única fonte de fabricação de metanfetamina… Então por que não ir atrás de sua família?

Breaking Bad Jesse Pinkman

Tão cruel como cada situação que Breaking Bad nos apresenta vai ser a espera pela quarta temporada no ano que vem. Ainda mais pra mim que comecei a assistir a série não faz nem 3 meses. É a primeira vez que eu passo mais de uma semana sem um episódio inédito pra assistir. Mas é fato que a gente agora precisa de um tempo pra respirar e tentar absorver tudo o que aconteceu não só nessa season finale, como na temporada inteira. Breaking Bad meio que atingiu um ciclo completo com Jesse introduzindo Walt ao mundo das drogas e agora com Walt introduzindo Jesse ao mundo do assassinato. O que vem daí pra frente é pano pra manga pra muita discussão. Tudo que eu falei aí em cima pode ser rebatido, discordado, não fazer sentido nenhum, ampliado com opiniões mais ricas… E quando uma série tem a capacidade de fazer tudo isso é porque uma coisa pelo menos é indiscutível: sua qualidade fora do comum. Breaking Bad é exatamente isso. Brilhantemente fora do comum.

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P.S.: Leitura essencial: entrevista do Sepinwall com Vince Gilligan, criador da série. MUITA coisa interessante sobre o episódio em si e sobre a série em geral no texto.

* Valeu, Larissa! 🙂


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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