No dia 13 de maio de 1888 a princesa Isabel assinou a lei que aboliu a escravidão no Brasil – a Lei Áurea. A data marcou o fim formal da escravidão no país e foi um importante passo para inserção dos negros que aqui viviam como membros da sociedade. Infelizmente tal inserção e a própria abolição foi apenas formal, uma vez que nenhum plano de colocação no mercado de trabalho, de moradia, educação e saúde foi propiciado para aqueles que sofreram por muitos anos! Atualmente vivemos um tempo diferente, onde não há mais a escravidão nos moldes daquela época. Porém ainda há muito o que ser feito para que negros sejam não apenas formalmente iguais, é preciso buscar a igualdade material!
The Book of Negroes é uma minissérie produzida em coprodução pelos canais BET dos Estados Unidos e CBC do Canadá e foi exibida em seus episódios. A série foi adaptação da obra lançada em 2007 por Lawrence Hill.
A Jornada de Aminata
A série narra a jornada de Aminata Diallo, protagonizada pela excelente Aunjanue Ellis, capturada ainda em sua infância por mercadores de escravos e levada para a Carolina do Sul nos Estados Unidos. No caminho para o barco ela conhece o menino Chekura, ajudante do homem que a capturou, e ali nasce uma amizade que permaneceria mesmo com a distância e o tempo.
Aminata é comprada por um produtor de algodão e em sua fazenda ela aprende secretamente a ler, fato que a ajudou a melhorar sua condição e fator crucial para o desenvolvimento da história. As investidas sexuais de seu “dono” e as diversas tentativas de fuga de Aminata dificultam sua permanência na fazenda e um acontecimento (não quero me aprofundar no spoiler) é crucial para sua saída de lá.
Já em Nova Iorque ela conhece negros livres e fugitivos e estabelece com eles uma relação de amizade e confiança, passando aos poucos seus conhecimentos de leitura e escrita. Quando a Revolução Americana estoura ela aproveita uma oportunidade para fugir para Nova Escócia – no Canadá, porém sua vida continua não sendo fácil. A recusa da população local em aceitar os negros e a falta de emprego, moradia e comida dificultam muito a vida dos que para lá migraram. Aminata utiliza mais uma vez seus conhecimentos para sobreviver.
Pareço ter problemas para morrer. Eu não deveria ter vivido até hoje. Sou Aminata Diallo, filha de Mamadu Diallo e Sira Kulibali. Já estive do outro lado do grande rio.
A protagonista além de letrada também tem conhecimento sobre o nascimento de crianças, ofício que aprendeu ainda na África com sua mãe e isso a faz conhecer o Capitão Clarkson, que lhe oferece a oportunidade de registrar os negros que iriam para a Nova Escócia ajudar no desenvolvimento da nova Colônia Inglesa – então surge o The Book of de Negroes – e das anotações de Aminata o mundo pôde então conhecer a história e a origem dos negros que para lá foram.
Sobrevivência não tem nada a ver com virtude!
Todos os dias (…) mergulho a pena na tinta para ser um novo tipo de djeli, uma djeli para leitores nos dois lados do grande rio. Finalmente abolimos o comércio de homens. Mas ainda temos um longo caminho para caminhar. Ainda precisamos abolir a escravidão.
Atuações, direção e figurino
– As atuações são excelentes e tanto Aunjanue Ellis, que dá um show de atuação no papel de Aminata, quanto o elenco de coadjuvantes se saem muito bem, dando a carga dramática ideal para a história. Temos a figura conhecida de Cuba Gooding Jr, no papel de Sam, um ex-escravo e dono de uma hospedaria/taberna, ele tem papel crucial no estabelecimento de Aminata em Nova Iorque e a amizade entre os dois é de fato muito bonita. Também estão no elenco Louis Gosset Jr,- um escravo fugitivo que se torna um pastor metodista, Ben Chaplin – o Capitão John Clarkson, Allan Hawko – que dá vida a Salomon Lindo, um judeu que compra Aminata e a propicia uma atividade mais ligada aos seus conhecimentos com a escrita e a leitura e por fim Lyriq Bent, ator que deu vida a Chekura.
– A direção é muito boa, não há cenas desnecessárias e como já dito a carga dramática é bem adequada. As cenas de castigo físicos nos escravos não são apelativas e isso não significa que não provoca no telespectador o desconforto que o tema deve causar. A direção de arte e figurino são bem legais também e reconstrói bem a época em que se passa a história.
Nossas histórias são muito mais do que contos de aventura. São gritos por verdade, justiça e liberdade. Mesmos contos de perdas e dificuldades nos são coragem e abrem as portas para o amor.
The Book of negroes é uma série que merece a atenção daqueles que buscam uma história mais profunda, com vários pontos que devem ser constantemente lembrados e refletivos. Por isso se você é um telespectador em busca de uma boa produção com tema mais sério: está série é para você! Também recomendo para aqueles que, assim como eu, gostam de ver os livros de história transplantados para a TV! The Book of Negroes Vale Cada Minuto do seu tempo!
