Pela segunda vez a abertura de The Good Wife surpreende. A sequência dinâmica mostra como a vida dos advogados de “porta de cadeia” pode ser bastante repetitiva. Diversos clientes (e muitos deles com pouca disposição) passam e recebem um atendimento não personalizado, diferente daquele que Lockhart & Gardner (vou usar o nome original, peço perdão aos mais xiitas) costumava oferecer. Essa inclusive é alvo de mais uma das piadas de Alicia que comparara seus clientes pobres aos antigos. Afinal, clientes são todos iguais: é o cachê mais caro, o tratamento VIP e os bolinhos recheados que os dividem entre castas.
O título do episódio vem do caso delicado da semana. Na triagem um jovem é preso ao quebrar uma obra de arte de um museu. No universo de The Good Wife é necessário doses de estupidez ou coragem para ser honesto. Ao confessar que quebrará mais outras obras, Alicia percebe que esse só a ponta do iceberg: o rapaz, na verdade, é filho de uma grande fotógrafa que pretende vender suas fotos para um museu. O problema está no fato de que muitas fotos dessas crianças contem momentos íntimos de nudez, que já causou problemas em entrevistas de emprego, romances e até envolvimento com pedófilos.
Mais uma vez, a ação é dividida em três fronts: a vida de Alicia; Cary e Eli. Nossa boa esposa procura um novo investigador e acaba caindo nas graças de Jason Crouse, o novo e charmoso investigador. Desde sua primeira cena o personagem é introduzido com doses e mais doses de carisma fazendo com que a própria Grace faça seu voto pela escolha.
Cary vai bater de frente com Howard e descobre que o velho advogado não é tão velho assim, pelo menos, não tão palerma. A série de pequenos conflitos gera certa movimentação ao episódio, ainda que desnecessária. Fica então a pergunta: qual o lugar de Cary e da própria firma na série? Membros ainda do elenco principal, suas tramas são desfocadas por outras mais relevantes e seu lugar é opaco. Com o embate de Cary e os outros associados mais velhos, será que ao longo da temporada veremos a formação de outra firma?
E Eli Gold.
Eli Gold é simplesmente um dos melhores personagens dessa série. Em sua empreitada para destruir Ruth Eastman ele cita It Follows, consegue o perdão e uma cadeira no partido para Alicia e prova a confiança de sua antiga secretária. Além de ir pessoalmente até o gabinete do governador e pedir perdão, num plano detalhe que focaliza o aperto de mãos. As mãos desses dois antigos amigos é uma linha borrada, metonímia para esse relacionamento. Peter, sem saber, acaba de dar a Eli sua primeira vitória. O embate entre ele e sua nova chefe de campanha está só começando.
Durante o julgamento, do outro lado temos Nancy. Sim, nossa amada Nancy, que sempre se faz de boba na corte. Alicia ainda cita os mais de doze casos nas quais estiveram de lados opostos em diferentes julgamentos quando a moça finge não conhecê-la. Outro fato curioso é o estômago do juiz Dunaway, ex-judeu e convertido ao islamismo, que ronca alto por causa do ramadá, muitas vezes nas sessões.
O futuro das fotos é ambíguo, assim como a maioria dos personagens da série. Mãe e filho decidem se reconciliar, afinal, ambos são inocentes. Pelo menos em suas motivações, gerando, mais uma vez, apertos de mão. Como os King gostam dessa metáfora! A inocência aqui não pode se estender ao resto do elenco: será que Alicia sabe o tratado que firmou com o diabo ao aceitar sua cadeira junto ao partido? Eli tem plena consciência de suas atitudes?
Se a abertura foi dinâmica, não podemos dizer o mesmo do episódio em si. Toda deidade destruidora tem seu par mantedor: a força de Shiva, por exemplo, está em Vishnu, aquele que permanece. As renovações precisam de assentamento para serem instauradas.
Assim é Innocents, dando continuidade ao que Bond fez semana passada.
