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Victoria

Por: em 12 de janeiro de 2017

Victoria

Por: em

Spoiler Free!

Este texto não contém spoilers,

leia à vontade.

Estávamos dividindo as séries para fazermos análises nessa mid-season e me deparei com Victoria, que estreia de 15 de janeiro pela PBS nos Estados Unidos, mas quando fui pesquisar mais sobre ela, descobri que se trata de uma série produzida originalmente pela ITV, emissora britânica, e que já tem a primeira temporada encerrada. Muitas vezes a gente acaba dando muita ênfase apenas para séries americanas e se esquece de que em outras partes do mundo, coisas incríveis estão sendo feitas, como disse a Virgínia em sua análise de Please Like Me. Mas eu digo que isso acaba agora, vem ver porque Victoria não é apenas uma das melhores séries que eu já assisti como é a primeira que eu daria nota 5/5.

Acompanhamos os primeiros 04 anos do reinado da Rainha Victoria (Jenna Coleman, de Doctor Who). Começamos no ano de 1837, com a morte do Rei William IV e seguimos com a coroação de Victoria, as primeiras dificuldades de sua liderança, a aceitação pelo povo e pelo Parlamento, os escândalos políticos envolvendo uma suposta relação com o mais velho Lord Melbourne (Rufus Sewell, de The Man in the High Castle), seu casamento com Príncipe Albert (Tom Hughes) e o nascimento de sua primeira filha, Princesa Victoria.

Victoria e o Parlamento

O primeiro ponto que preciso destacar é a caraterização de época. Todas as filmagens foram feitas em castelos ingleses parecidos com os castelos onde a família real realmente morou, o que traz um ar extremamente genuíno à produção. Os figurinos são maravilhosos, assim como todos os objetos de cena que foram feitos com extremo detalhe e precisão. É possível se perder ao prestar atenção a tantos detalhes e ficar deslumbrado. Além de tudo, efeitos especiais foram utilizados de modo inteligente para adaptar cenas aéreas ao período, assim como modificar cenários de modo a ficar o mais parecido possível com os originais, dando um aspecto de pintura. Tudo feito com extremo primor e capricho.

Victoria, assim como é um costume de séries britânicas, tem um número reduzido de episódios, apenas 08, o que ajuda a desenvolver melhor a trama. Cada capítulo tem um nome que é utilizado como tema central daquele momento específico da vida da Rainha. Por ser baseado em fatos reais, quem sabe um mínimo sobre a história da Inglaterra, já sabe o que acontecerá, mas a criadora soube dosar pequenas surpresas e leves liberdades poéticas para tornar a nossa jornada mais interessante e esse é outro ponto de destaque. 07 dos 08 episódios são de autoria da escritora e poetiza Daisy Goodwin, que soube transmitir a linguagem poética para a série com maestria. Pequenos momentos de hesitação, trocas de olhares, paixões proibidas. Tudo é muito bonito de assistir.

Lord Melbourne e Victoria

A linguagem feminina foi outro ponto que me conquistou. Além da criadora e escritora, 02 dos episódios mais importantes, quando ela se apaixona e quando se casa com Príncipe Albert, foram dirigidos por uma mulher, que souberam mostrar a alma de Victoria não como Rainha, mas como a mulher apaixonada pelo seu marido que era. Porém, a parte mais importante vem da própria Victoria, que precisa provar a todo o momento que, mesmo sendo uma jovem mulher, é capaz de tomar as próprias decisões, agindo contra os interesses mesquinhos de todos os políticos que a cercam no Parlamento. É claro que ainda há um pensamento retrógrado comparado com os dias atuais, como quando Victoria acha um absurdo algumas pessoas quererem que mulheres votem, mas essa era uma época em que nem voto popular existia na Inglaterra. Mesmo assim, são as mulheres quem levam a trama adiante.

Essa força feminina fica mais evidente quando vamos para o elenco estendido. Alguns personagens fictícios foram inseridos para trazer vida aos  empregados do palácio, a quem Victoria tratava com respeito. Uma das cenas que mais me tocou foi quando Miss Skerrett, (Nell Hudson, de Outlander) está fazendo seu penteado e ela percebe que a empregada está sem um lenço no pescoço e lhe dá vários de seus próprios lenços. O que Miss Skerrett faz com os lenços eu não vou contar, mas Victoria, sem ter conhecimento, foi extremamente benevolente, levando Miss Skerrett a diz a frase que me marcou:

À sua própria maneira, tudo que ela (a Rainha) vê são apenas duas garotas, fazendo o seu melhor.

Os empregados do palácio

No final, nos estamos torcendo por essas pessoas, para que cada uma tenha a sua vitória. Faz tempo que eu não sentia tanta verdade em uma série e grande parte disso se deve aos incríveis atores. Jenna Coleman é uma Victoria de tirar o fôlego. Em nenhum momento eu senti que sua atuação estava exagerada ou abaixo do tom. Os maneirismos que coloca ao falar são uma delícia de acompanhar. Sua postura está sempre correta em momentos políticos, mas é descontraída e relaxada entre amigos, como se tivesse treinado sua vida inteira para ser Rainha. Eu não preciso nem falar sobre o resto do elenco, resta dizer que muitos já são acostumados a participarem de produções de época, além de ser fato conhecido o treinamento e capacitação de atores britânicos.

Quanto à parte histórica, como disse anteriormente, há leves liberdades literárias, portanto é importante checar os fatos antes de assumir que tudo que está na série é verdade. Para não entregar spoilers, destacarei apenas uma discrepância. A relação de Victoria com seu tio Rei Leopold da Bélgica, sempre foi de total confiança e confidência, sendo irreal o primeiro momento de animosidade entre eles por Leopold sugerir que Victoria se case com Albert. Mas essa mudança é necessária para mostrar que Victoria é dona de seu próprio destino, sendo ela quem decide com quem deve se casar, proferindo a minha segunda frase favorita e que enche meu coração de calor e mel só de lembrar a cena:

Para mim esse não é um casamento de conveniência. Não. Eu acho que será um casamento de inconveniência!

Victoria e Principe Albert

Depois que terminei a série, fui me informar mais e descobri que a audiência da primeira temporada foi tão espetacular que não apenas garantiu a renovação para uma segunda temporada antes do término da primeira, como da produção de um especial de natal inicialmente rejeitado pela emissora. A ITV tem planos de fazer 06 temporadas cobrindo todo o reinado de Victoria, mas ainda não sabe se Jenna Coleman continuará interpretando a personagem em seus anos mais velhos, pois sua aparência física muda muito e esse era um dos pontos pelo qual ela era conhecida. Eu espero que decidam utilizar próteses ou algo do gênero, pois ela está perfeita e não sei se conseguiria aguentar uma troca dessas.

Voltando a falar da audiência, para compararmos, Downton Abbey, também da ITV, teve uma média de 9,7 milhões de expetadores em sua primeira temporada. Victoria manteve uma média consistente de 7,7 milhões. Esse número me deixou chocado, pois, enquanto nem sabíamos da existência de Victoria, How To Get Away With Murder está com uma média de 4,1 milhões e parece que o mundo inteiro assiste. Tem alguma coisa errada nessa equação. The Crown está ai para mostrar que séries históricas funcionam, mas mesmo assim, só começou a aparecer na minha timeline do Facebook após ganhar o Emmy. Quero deixar bem claro que não estou comparando as séries, mas sim popularidade x audiência.

Eu ainda não assisti The Crown (mas pretendo retificar esse deslize em um futuro próximo, eu sou fissurado pela família real), portanto não posso comparar, mas Victoria traz uma noção diferente, pois suas personagens não estão mais entre nós. Suas histórias já se encerraram e acompanhar seu desenvolvimento é uma jornada doce e ao mesmo tempo amarga. Mas eu prevejo que será recompensadora, pois toda a beleza e poesia e amor que a série nos reserva faz valer a pena o investimento.

Victoria durante sua coroação

Caso vocês queiram embarcar nessa carruagem, podem esperar os episódios serem lançados pela PBS, que irão ao ar semanalmente a partir do dia 15 de Janeiro, ou buscar a série completa quando foi exibida pela ITV. Um aviso para quem for assistir a versão da PBS, caso o primeiro episódio tenha menos de 60 minutos, houve edição e cortes, portanto, baixe o original. Os outros têm os costumeiros 45 minutos de duração.


E ai, vai assistir Victoria? Já assistiu? Gosta de séries britânicas e históricas? Tem alguma para me indicar? Diz para mim nos comentários!


Paulo Halliwell

Professor de idiomas com mais referências de Gilmore Girls na cabeça do que responsabilidade financeira. Fissurado em comics (Marvel e Image), Pokémon, Spice Girls e qualquer mangá das Clamp. Em busca da pessoa certa para fazer uma xícara de café pela manhã.

São Paulo / SP

Série Favorita: Gilmore Girls

Não assiste de jeito nenhum: Game of Thrones

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