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Dia de combate à violência contra a mulher

Por: em 25 de novembro de 2010

Dia de combate à violência contra a mulher

Por: em

No dia 25 de novembro de 2010, duas datas importantes coincidiram. Uma, alegre, é o Thanksgiving (Dia de Ação de Graças) americano, quando agradecemos por tudo o que conseguimos alcançar neste ano. A segunda, não tão boa, é o Dia Latinoamericano e Caribenho de Luta contra a Violência contra a Mulher.

Desde 1981, o dia 25 de novembro é o dia da luta contra a violência contra a mulher, em referência ao dia do assassinato de três irmãs que lutavam contra a ditadura na República Dominicana e foram mortas a caminho da prisão onde iam visitar seus companheiros. Foi simulado um acidente de carro pela repressão. Isso aconteceu em 1960.

Em vários locais do Brasil estão acontecendo manifestações e palestras sobre o tema. Chega a ser absurdo pensar que, em pleno século XXI, ainda tenhamos que lutar contra algo tão básico: a desigualdade, discriminação e dominação masculina sobre as mulheres.

Sim, temos uma lei, a Lei Maria da Penha, que pune os agressores. Será mesmo? Aqui em São Paulo, pelo menos, a polícia não assume a sua responsabilidade; eles dizem que em “briga de marido e mulher, não se mete a colher”. Pois bem, se mete a colher, o garfo e a faca. Não importa o grau de intimidade entre o casal, nunca pode ter violência física ou psicológica.

O descaso no atendimento às vítimas chega a ser ridículo. Conheço uma mulher que precisou do amparo legal para se livrar do assédio do ex-marido e tudo o que as autoridades recomendaram foi “parar de atender o celular”. Oras! Boletim de ocorrência, só se ela chegasse na delegacia quase morta, né? E ainda assim, teria a sua moral questionada.

Faremos um mea-culpa também. Provavelmente, muitos de nós já vimos ou ouvimos relatos de casais que brigam constantemente, muitas vezes chegando aos tapas. Nós também temos que fazer a nossa parte, antes que algo mais grave aconteça. Chamar a polícia, os vizinhos, tentar impedir que algo mais grave aconteça enquanto a gente reclama que a briga alheia não deixa ouvir as cenas emocionantes da novela.

Não podemos esquecer do caso recente do “rodeio de gordas”, que aconteceu nos jogos universitários. Veja bem, universitários. Pessoas que, teoricamente, são mais instruídas fazendo uma barbaridade dessas. Um dos estudantes chegou a dizer que eles montariam também nas magras, como se isso fosse amenizar o fato de estarem tratando seres humanos como animais.

Ontem mesmo, li uma notícia dizendo que uma garota de 15 anos, que namorava escondida, foi descoberta pelos pais, surrada com chutes e golpes de cinta e infelizmente, acabou morrendo. Sempre que vejo notícias como esta, me pergunto: por que tanta hipocrisia? A mulher não é propriedade dos pais ou do marido e tem o direito de sair e namorar quem ela quiser. Não podemos tratar a sexualidade feminina como algo demoníaco a ponto de se justificar a morte de uma garota.

Já que estamos em um blog de séries, posso citar pelo menos um exemplo recente de violência contra a mulher (isso sem precisar citar o seriado Law & Order SVU, que trata somente de casos de abuso infantil e violência contra a mulher), muito bem tratado por Shonda Rhimes. Na série Private Practice, uma das personagens foi espancada e estuprada por um paciente raivoso, que descobriu estar sendo traído pela mulher e, como a Charlotte se recusou a atendê-lo quando ELE quis, ele se achou no direito de violentá-la, porque “ela mereceu”.

Um ponto que surpreendeu a todos foi ver como a Charlotte, chefe de staff do hospital, uma mulher durona e de personalidade forte, se encolheu, sentindo vergonha de ter sido subjulgada e se recusando a contar aos amigos o quão ruim foi o ataque. As vítimas de estupro precisam do apoio da sociedade e das autoridades, para perceber que ela não teve culpa no que aconteceu.

Quantas vezes não ouvimos pessoas falarem que a mulher estava com uma roupa muito curta, era muito sensual e coisas do tipo, para justificar o estupro? Como se os homens não tivessem a capacidade de se controlar perante uma mulher voluptuosa. A mesma lógica é aplicada nos países onde a burca é a vestimenta das mulheres. Dizem: fêmea, cubra-se, pois os machos irão atacá-la. E muita gente não percebe como nós, no “avançado” Ocidente, nos comportamos exatamente igual ao “atrasado” Oriente Médio.

O que podemos fazer para impedir que casos de violência contra a mulher continuem? Temos que parar de tratá-los como se fosse algo menor ou algo que acontece somente em cidades do interior. É um problema público, de todos nós. Temos que tratar as vítimas como vítimas e não questionar a moral delas. Temos que denunciar. Temos que parar de fazer brincadeiras e piadas sobre o tema e tratá-lo com seriedade. Falar, discutir o assunto.

E não podemos esquecer dos pequenos tipos de violências do cotidiano. Ou alguém ainda acha justo uma mulher ganhar menos do que um homem, fazendo o mesmo serviço do que ele? Ou achar que é justo/normal/natural a mulher trabalhar fora e, quando chega em casa, ter que cuidar da casa, dos filhos e do marido, que não vai levantar a bunda do sofá para ajudar nas tarefas domésticas sem que ela o mande lavar a louça umas cinco vezes (e, no final, acaba ela fazendo o que mandou o marido fazer)?

Por isso, independente das suas convicções políticas, é importantíssimo ver que pelos próximos quatro anos, teremos uma mulher como presidenta. Você pode não gostar da Dilma ou do PT, mas não pode deixar de reconhecer a importância que é ter uma mulher para representar o maior país da América Latina. Uma passagem que a Dilma contou nas primeiras entrevistas me tocou bastante. Em um dos comícios, uma menina perguntou à então candidata se mulher podia assumir a presidência do Brasil (uma pergunta muito compreensível, já que em toda a nossa história, somente homens assumiram o cargo). A Dilma respondeu: Sim, ela pode.

Para finalizar, alguns dados sobre a violência contra a mulher, retirados do Portal Violência contra a Mulher:

· Um em cada 5 dias de falta ao trabalho no mundo é causado pela violência sofrida pelas mulheres dentro de suas casas.

· A cada 5 anos, a mulher perde 1 ano de vida saudável se ela sofre violência doméstica.

· O estupro e a violência doméstica são causas importantes de incapacidade e morte de mulheres em idade produtiva.

· Na América Latina e Caribe, a violência doméstica atinge entre 25% a 50% das mulheres.

· Uma mulher que sofre violência doméstica geralmente ganha menos do que aquela que não vive em situação de violência.

· No Canadá, um estudo estimou que os custos da violência contra as mulheres superam 1 bilhão de dólares canadenses por ano em serviços, incluindo polícia, sistema de justiça criminal, aconselhamento e capacitação.

· Nos Estados Unidos, um levantamento estimou o custo com a violência contra as mulheres entre US$ 5 bilhões e US$ 10 bilhões ao ano.

· Segundo o Banco Mundial, nos países em desenvolvimento, estima-se que entre 5% a 16% de anos de vida saudável são perdidos pelas mulheres em idade reprodutiva como resultado da violência doméstica.

· Um estudo do Banco Interamericano de Desenvolvimento estimou que o custo total da violência doméstica oscila entre 1,6% e 2% do PIB de um país.

P.S.: Para quem mora em São Paulo e sofreu algum tipo de violência contra a mulher, pode entrar em contato a Defensoria Pública (Avenida Liberdade, 32) para atendimento e consultoria. É preciso levar documentos de identidade, comprovantes de residência e de renda e quaisquer cópias de documentos/provas pertinentes ao caso em específico. E também é preciso chegar cedo, por volta das 6h30. A Defensoria Pública fará uma triagem no primeiro atendimento, que é na parte da manhã, e agendará um novo encontro bem rápido (coisa do dia seguinte) – esse é com hora marcada, não precisa madrugar.  A partir daí, é só esperar o defensor público e estagiários darem andamento ao caso.


Bianca

Feminista interseccional, rata de biblioteca, ativista, ama filmes, séries, cultura pop e BTS. Twitter sempre vai ser a melhor rede social.

São Paulo - SP

Série Favorita: Grey's Anatomy

Não assiste de jeito nenhum: Lost

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