Se Antipasto nos transportou para um mundo onde só existiam Hannibal e Bedelia, Primavera arremessou o púbico para dentro da mente sempre atormentada de Will Graham. A série vai revelando aos poucos o destino das vítimas do massacre de Mizumono, enquanto envolve cada vez mais a audiência na trama italiana.
Will é um dos personagens mais resilientes da TV. Apesar de todos os traumas a que foi exposto, da constante manipulação de Hannibal para confundi-lo sobre a realidade e sobre a sua própria sanidade, ele segue sobrevivendo e se modificando sem ser destruído. Mesmo nos momentos em que quebra, assim como a xícara daquela metáfora, ele consegue se recompor sem deixar rachaduras visíveis. Isso não significa que Will não muda. Ele mudou muito depois de ser tocado por Hannibal, mas está chegando o momento em que ele também vai mudar seu “mentor”.
Dr. Lecter mantém Bedelia por perto porque ela não tem outra opção. Por temor, por culpa, por uma dívida do passado, por instinto de sobrevivência. Com Will, acontece o mesmo… ele precisa de Hannibal, atravessa o oceano, segue todas as pistas que encontra no fundo da sua memória para chegar até o homem que já o feriu de tantas e tão profundas formas que já nem se pode mensurar. Mas não por temor. Por solidão. Porque de alguma forma, ele é a única pessoa com quem Will consegue se conectar, ainda que através dos meios mais doentios. Hannibal também já demonstrou que, apesar da costumeira ausência de sentimentos de um psicopata, ele sente falta da relação com Will, e já percebeu que não vai conseguir substituí-lo facilmente.
A solidão e o impulso de encontrar Hannibal – ainda que ele não quisesse, a princípio, admitir – fizeram Will construir na sua cabeça uma Abigail que servia como guia, como consciência, como pretexto para que ele começasse a sua jornada. A preocupação ali não era enganar o público sobre ela estar viva de fato ou não, tanto que a ausência de cicatrizes, os desaparecimentos repentinos e a própria atuação de Kacey Rohl já indicavam que tudo era uma invenção. As aparições da personagem serviram como um apoio para Will enquanto não havia outro interlocutor.
Nem bem chegou na Itália e foi recebido por mais uma das “obras de arte” de Hannibal. Já estava sentindo falta dos momentos em que ele se põe na mente dos assassinos para recriar a dinâmica dos crimes, e quando se trata do seu maior antagonista, a coisa fica ainda melhor. No FBI, Will passou episódios a fio tentando revelar à sua equipe a verdadeira face de Hannibal, pelo menos neste novo cenário ele encontrou alguém que muito antes dele já conhecia “O Monstro”. Mas será que ele vai colaborar com a polícia desta vez?
Há um certo alívio, um ar de realização de Will ao saber que finalmente o encontrou. Hannibal não vai se deixar enganar mais uma vez, então um truque como o que ele armou sobre a morte de Freddie Lounds não será suficiente. A despedida de Abigail foi carregada de simbolismos e aconteceu no momento em que Will se viu novamente conectado a Hannibal por desvendar as minúcias do cadáver deixado na capela. O elo renasceu, e, desta forma, Abigail pôde morrer novamente. Ela foi extremamente importante para Will, e vê-los passando por procedimentos similares – um na vida, a outra na morte – foi uma analogia muito bonita sobre a conexão que eles tiveram até o fim. Mas mais importante que tudo: aceitar a morte dela, deixá-la ir, era fundamental para que ele perdoasse Hannibal pelo que aconteceu naquela noite. A questão é: o que ele fará com esse perdão?
Algumas observações:
– Hannibal era bem gato quando jovem, heim?
– Serial killers que reproduzem pinturas famosas com os corpos de suas vítimas são bem comuns na ficção. Recentemente, The Fall e Dupla Identidade trataram do assunto, por exemplo.
– Will: vivo. Abigail: morta. Alana e Jack: ??
– Quanto tempo vocês acham que dura o investigador italiano?
– Acho equivocado dizer que a culpa sempre encontra Will. Está mais para: Will corre mais que Usain Bolt quando vê uma culpa dando sopa, no melhor etilo meme do ET “Uma culpa! Me solta! Quero me jogar nela!”.
Um pouco menos tenso e mais psicológico que o episódio de estreia, Primavera trouxe de volta, ainda que sem interações, a dupla que dá alma a essa série. Será que Hannibal vai se revelar logo? Como vocês acham que será a relação dos dois daqui para frente? Will deve temer pela própria vida? Deixe seu comentário!
