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Masterchef Brasil

Por: em 19 de setembro de 2014

Masterchef Brasil

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No 2 dia de setembro foi ao ar a estreia do Masterchef Brasil, versão nacional do reality show de origem australiana que faz sucesso em todo o mundo e já foi produzido por mais de 40 países. Nas duas primeiras semanas de programa, fomos apresentados aos jurados e acompanhamos a escolha dos participantes, e, entre receitas inusitadas de risoto de morango e suco vegano, finalmente conhecemos aqueles que serão os 16 participantes do programa.

Agora que o programa efetivamente começou, é possível fazer uma análise mais apurada da versão brazuca do reality. E então, vale a pena conferir o Masterchef Brasil? Vamos por partes.

Os Jurados

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Se, por um lado, Henrique Fogaça, Paola Carosella e Erick Jacquin não são a escolha ideal por não serem rostos conhecidos do grande público, por outro, fica fácil entender o porquê dessa escalação. Profissionais da culinária mais famosos como Olivier Anquier (Diário do Oliver), Claude Troisgros (Que Marravilha!), Alexa Atala (Mesa para Dois) e  até mesmo o não-chefe Rodrigo Hilbert (Tempero de Família), já estão ocupados com seus próprios programas – muitos deles bastante queridos pelo público brasileiro, e quando começaram também eram ilustres desconhecidos da audiência. Se deu certo com eles, porque não daria para o trio do Masterchef Brasil?

Carismáticos eles são. Particularmente Fogaça, que parece ser o mais inspirado na edição americana do programa, com Gordon Ramsay,  Joe Bastianich e Graham Elliot. Já Carosella, surpreende positivamente, fugindo do estereótipo “juradas mulheres são sempre boazinhas”; embora não lhe falte doçura para com os candidatos, também não é fácil ganhar um elogio da argentina. Quem fica um pouco abaixo do nível dos dois é Jacquin, um pouco por não ter ainda encontrado o timing que seus colegas já encontraram, parte pela limitação do idioma. Jacquin é francês e, embora pareça dominar o português, tem um sotaque muito forte, o que acaba fazendo com que a edição tenha que recorrer às legendas, influenciando um pouco no ritmo das suas críticas.

Os candidatos à Masterchef

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Se com os jurados a produção foi certeira, com os participantes do programa, nem tanto. Principalmente nos dois primeiros episódios, ficou claro o baixo nível de preparação dos candidatos. Tem quem tivesse a coragem de apresentar para os jurados um misturado de ovo com arroz (!).  Claro, alguns fatores certamente ajudaram a gerar esse casting tão limitado. Primeiro, o reality é da Band, e, convenhamos, nem todo mundo assiste o canal, que também optou por não investir tanto em mídia – pelo menos digital. Sites de entretenimento, especializados em televisão, em culinária, etc., quase não divulgaram a chegada do Masterchef ao Brasil, e as primeiras notas começaram a sair pouco antes da estreia. Ou seja, muita gente boa nem ficou sabendo do programa e a maioria dos candidatos acabou vindo de São Paulo mesmo, onde o os episódios foram gravados.

Também há a questão do brasileiro não ter o costume de estudar culinária. Infelizmente, ainda somos um país predominantemente machista, e o ato de cozinhar muitas vezes ainda é tido como algo menor, e sempre relegado à mulher. Nas escolas públicas da Austrália, por exemplo, é normal ver crianças aprendendo a cozinhar. E é claro que, quanto antes se começa, melhor vai se ficando com o passar dos anos. Na versão australiana do Masterchef, seria impossível imaginar quinze pessoas cozinhando o mesmo pedaço de carne, sem inovar e transformá-lo em algo completamente inusitado, e foi exatamente isso que vimos por aqui: a grande maioria dos participantes servindo picanha na chapa na primeira prova. Isso é padrão Masterchef?

A edição do programa

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Ao contrário de outras edições de reality shows no Brasil, o Masterchef parece ser uma filial – e não uma franquia. E qual seria a diferença entre os dois? Quem compra uma franquia, desembolsa o valor pedido pela marca e recebe a concessão, ou seja, o direito de levar aquele modelo de negócio para a sua cidade ou país. Embora a empresa franqueada responda ao franqueador, não há uma dependência direta, nem controle. Já a filial não, a mesma empresa resolve se expandir e pronto, abre uma nova loja em um novo local: uma filial. A Starbucks por exemplo não possui franquias, só filiais.

Aqui no Brasil, nos acostumamos a ver reality shows com cara de franquia, ou seja, programas que, com o passar do tempo sofreram mudanças e tomaram rumos diferentes dos originais. O Big Brother foi assim, The Voice parece ir pelo mesmo caminho. A Globo e o SBT se acostumaram a comprar o formato e tentar imprimir nele a sua marca. Mas fica a pergunta: até que ponto vale a pena mexer em time que está ganhando? E é isso que a Band pareceu ter entendido com o Masterchef Brasil. Não foi divulgado se alguém da equipe original do programa (ou da versão americana) veio dar uma força no Brasil por uns tempos, mas a verdade é que tudo está quase exatamente igual à fórmula de sucesso. As provas, a narração feita pelos participantes, o cenário, tudo está impecável. Há apenas um defeito que se expande por alguns momentos do programa, e esse defeito tem nome e sobrenome…

 

A Ana Paula Padrão

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Alguém consegue explicar o que a jornalista Ana Paula Padrão está fazendo apresentando o Masterchef? Ok, comunicação é comunicação e hoje já é mais do que normal encontrarmos jornalistas no comando de programas de televisão voltados para o entretenimento, como Pedro Bial no Na Moral e Fátima Bernardes no Encontro. Mas os dois são exemplos de formatos criados a partir dos pontos positivos e particularidades de cada profissional. Já a presença de Ana Paula Padrão no Masterchef é algo completamente diferente. Até mesmo o fato do reality ter um apresentador já é, em si, um aborto.   As versões mais famosas de Masterchef pelo mundo não possuem apresentadores, quem comanda o programa são sempre os jurados e, quando há a necessidade de uma narração, ela é feita em off. Embora o primeiro ano da série na Austrália tenha tido uma apresentadora (a também jornalista Sarah Wilson), ela foi logo descartada no segundo ano. Então porque não aprender também com os erros do formato original?

Ana Paula Padrão está completamente perdida no programa. Durante as provas, a impressão que fica é que ela sente a necessidade de fazer alguma coisa, e muitas vezes acaba praticamente interpretando, fazendo caras e bocas enquanto os juízes dão seu veredito.  Talvez para justificar sua presença, também houve a inserção de flashes fora da cozinha, com os participantes contando para Ana Paula como é a sua vida, como começou o desejo de cozinhar, etc. Precisava? Com certeza não.  Talvez alguém com mais experiência como Fernanda Lima desse mais certo na função, mas ela certamente permaneceria desnecessária. Impossível não pensar que, por os jurados serem desconhecidos, a Band resolveu tentar garantir a audiência com pelo menos um nome de sucesso.  E com isso nós ganhamos uma temporada inteira de momentos de vergonha alheia. Obrigada, Band!


Para quem quiser acompanhar, Masterchef Brasil vai ao ar na Band, todas as terças-feiras, às 22:45.


Cristal Bittencourt

Soteropolitana, blogueira, social media, advogada, apaixonada por séries, cinéfila, geek, nerd e feminista com muito orgulho. Fundadora do Apaixonados por Séries.

Salvador / BA

Série Favorita: Anos Incríveis

Não assiste de jeito nenhum: Procedurais

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