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Orange is the New Black – 2×02 Looks Blue, Tastes Red

Por: em 18 de junho de 2014

Orange is the New Black – 2×02 Looks Blue, Tastes Red

Por: em

Looks Blue, Tastes Red foi o primeiro episódio de Orange is the New Black sem a presença de Piper. Após uma season première inteiramente centrada em Chapman, tivemos a introdução de grande parte das tramas que se desenvolvem na segunda temporada. Apesar do grande volume de informações em diversos núcleos, a série conseguiu manter a leveza e o bom humor habituais e provou que todas as detentas têm potencial para segurar um episódio, não apenas a protagonista.

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Taystee é, provavelmente, a personagem mais carismática da série. Tem uma energia incrível, um humor inteligente e é linda in every single way, merecia há muito tempo um episódio para chamar de seu… e ele chegou em uma hora muito estratégica na trama para apresentar Vee ao público. Neste primeiro momento nós conhecemos a personagem de Lorraine Toussaint através do olhar de Tasha, e já sabemos que ela é uma traficante de relativo sucesso que ocupa o papel de mãe na vida dos jovens que alicia, oferecendo a eles proteção, conforto, dinheiro e o que eles mais desejam: uma família. A imagem que Taystee tem dela é realmente a de uma salvadora que foi a única a olhar com carinho para ela.

A ligação entre o passado e o presente acontece através de duas feiras: a de adoção, no abrigo onde a pequena Tasha vivia, e a de emprego, já em Litchfield. Nos dois momentos Taystee demonstra que tem potencial, é inteligente, capacitada, mas a vida nunca lhe oferece boas oportunidades. A história dela derruba completamente o mito da “meritocracia”, que atribui o sucesso ou fracasso de alguém exclusivamente ao seu esforço pessoal. Taystee, apesar de ter o perfil psicológico perfeito para o mundo corporativo, nasceu pobre, negra, foi abandonada pelos pais e nunca conseguiu ser adotada. Ela se manteve afastada do “caminho errado” enquanto pôde, mas todas as portas se mantiveram fechadas para ela, exceto a de Vee.

E quem está de volta é Pennsatucky, embora não esteja nos seus melhores dias. A pseudo-pastora de Litchfield não parece ter feito falta a suas seguidoras, que na verdade aproveitaram bastante o período de paz sem as loucuras de Doggett. Com menos influência entre o seu próprio grupo, ela terá que encontrar outras formas de sobrevivência na cadeia, ainda mais por estar desmoralizada pela surra que levou da Taylor Swift do tráfico. Tiffany pode ter perdido os dentes, mas continua com as garras bem afiadas e conseguiu negociar uma cirurgia com Mr. Healy em troca do silêncio sobre o que aconteceu naquela fatídica noite.

Outra que também não está em bons lençóis é Red. A russa começa esta temporada após perder a cozinha, o apoio das suas meninas e ainda sem dinheiro nem para comprar miojo na lojinha. Definitivamente, ficar por baixo não combina com Red! Ela começa, mesmo que involuntariamente, uma aliança com o grupo de idosas – o que as trará também para o centro da ação na série. Mulheres idosas são negligenciadas e invisibilizadas em todas as esferas da sociedade, quando elas estão inseridas em um grupo ainda mais marginalizado (a população carcerária, no caso) isso se torna ainda pior. Mais um acerto da série em abordar este tema e representar essas pessoas de alguma forma.

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A relação de Larry e Polly começou a ser sublinhada neste episódio. Sozinha com um bebê de colo, ela precisa desesperadamente de ajuda e encontra no (ex)noivo de Piper uma boa companhia. Natural que eles se ajudem já que ambos estão passando por momentos difíceis, mas foi extremamente desconfortável assistir a todo aquele diálogo dando uma leve queimada no filme de Piper e ainda com os peitos de Polly marcando presença a todo momento.

O alívio cômico do episódio ficou por conta da saga da prisão de ventre da Dayanara e todas as piadas de cocô derivadas dela. Outro momento impagável foi o aconselhamento profissional para as detentas, quando conhecemos os talentos de cada uma. Devo dizer que me identifiquei bastante com as escolhas profissionais de Poussey! E acho realmente que a Suzanne seria uma ótima ajuda para crianças com algum tipo de deficiência cognitiva. Crazy Eyes é subestimada, mas é uma grande mulher com um coração maior que os olhos. E como além de fazer rir a série gosta de cutucar feridas, destaco também a fala de Cindy sobre a imagem negativa da indústria de cigarros e a comparação com outras grandes corporações supostamente “do bem”, mas que matam de forma muito mais traiçoeira. Como não amar essa série, minha gente?

O problema dos aquecedores, do orçamento e do repórter na cola de Fig para saber os detalhes sobre a aplicação dos recursos financeiros em Litchfield foi introduzido de forma rápida no episódio, mas também é um tema importante que merece a atenção do público e promete desdobramentos ao longo da temporada.

Episódios como Looks Blue, Tastes Red são a prova incontestável de que a série conhece o mundo que retrata. É claro que um show de TV é mais glamoroso que a realidade, mas Orange is the New Black toca em pontos delicados com tanta precisão que é impossível não repensar nossos conceitos sobre o perfil das pessoas que em algum momento “saíram da lei”, e o que as levou a tomar estes caminhos. Entretenimento de qualidade com responsabilidade social sem cair na pieguice é raro, mas a série sempre nos entrega um material impecável neste sentido. Deixo como última imagem para vocês o lindo sorriso da Dogget. Apreciem essa belezinha até a próxima review… e durmam se puderem!

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Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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