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Os Altos e baixos da 2ª temporada de True Detective

Por: em 17 de agosto de 2015

Os Altos e baixos da 2ª temporada de True Detective

Por: em

A grande expectativa gerada pela primeira temporada de True Detective foi difícil de superar. Pelo mundo afora vemos muitas pessoas reclamando desta temporada, assim como outras defendendo. Resolvemos então fazer uma balanço do que aconteceu nessa confusa história, mas que ainda gera uma boa diversão.

Para se analisar a 2ª temporada de True Detective é necessário se desvincular e não comparar com a 1ª. O sucesso e a surpresa que a série provocou tornou difícil a tarefa das temporadas seguintes, (se houver uma terceira temporada). Abaixo destacamos os pontos positivos e negativos da 2ª temporada da série antológica.

Logo no início a HBO mostra a sua marca registrada com uma abertura excelente com a música de Leonard Cohen. O cantor parecia ser a encarnação da maldade; na verdade a música era sobre o conflito da Palestina e Israel. A letra da música da abertura mudava todo episódio e se prestarmos bem atenção, veremos que ela tem total relação com o episódio que será exibido. O restante da trilha sonora de cada episódio é muito bem escolhida e combina com o clima que querem passar.

A direção de Arte também foi impecável. Nas cidades fictícias, nas festas, na investigação. A paleta de cores escolhida foi muito feliz e deu um tom de cidade suja e empoeirada, mais um ponto para a série. As cenas finais mostrando as mortes foram lindas! Talvez quisessem realmente mostrar que o momento mais bonito da vida dos dois foi aquele, ainda cheio de tristeza e mesmo com a certeza do que aconteceria em seguida.

Mas isso não é suficiente para fazer de uma série um clássico instantâneo. O fato de serem quatro protagonistas prejudicou o desenvolvimento e compreensão de forma geral. Tínhamos 3 policiais e um criminoso com sérios problemas. Um homossexual que não aceitava sua orientação e tinha uma mãe complicada. Um detetive que teve a ex esposa estuprada e com isso a dúvida da paternidade de seu filho. Um criminoso tentando deixar para trás seu passado para se tornar um empresário legítimo e uma policial com infância complicada e problemas com jogo. Eram muitos problemas para serem abordados e isso prejudicou visivelmente o desenvolvimento da trama central. O espectador não teve tempo de assimilar a história nem de ser conectar com os personagens, torcendo ou sofrendo por/com eles.

Mas se a história central ficou prejudicada, ao menos as os personagens tiveram um bom desenvolvimento. Os diálogos foram menos filosóficos do que na primeira temporada, não enfiaram frases marcantes em todo episódio. Por outro lado, havia uma riqueza no texto e tudo tinha um sentido, as palavras tinham significado. Mas de novo, nem todos eles foram coerentes, sigamos analisando os personagens.

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A Detetive Ani Bezzerides como uma das personagens principais é um ponto positivo para a série. Além de ser a protagonista mulher para amenizar o machismo, Bezzerides foi a personagem mais coerente. Tanto em personalidade, que se manteve como lutadora, um pouco esquentada e cheia de problemas na vida (com a família e com trabalho), quanto em atitude para enfrentar as coisas e querer saber a verdade sobre tudo. Talvez o romance e o filho no final tenha sido o ponto baixo da história da detetive, não era necessário esse nível de envolvimento para que ela continuasse sozinha lutando para revelar a verdade.

A atuação de dois protagonistas tem que ser destacada como pontos positivos: Para quem conhecia Vince Vaughn das comédias pastelões, foi uma grata surpresa vê-lo fazendo um personagem dramático. Como o mafioso Frank ele conseguiu dosar, foi contido quando precisava ser, foi violento nos momentos certos. Quem sabe este não foi um divisor de águas em sua carreira?

Rachel McAdams vinha de filmes com alguma expressividade, mas papéis que não possibilitaram a ela mostrar seu talento. Assim como para Vince,  True Detective pode alavancar também sua carreira no cinema e quem sabe voltar para a TV em outra produção de qualidade. Na série ela foi impecável ao interpretar o papel de uma detetive correta, porém com problemas emocionais e marcada por um acontecimento ocorrido em sua infância.

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Já a atuação do Collin Farrell foi um tanto acima do tom. Parece que ele mirou no sucesso do Matthew McConaughey, tentou copiar traços da atuação do colega e misturou com algo estranho e como resultado tivemos um personagem bem fanfarrão e exagerado. Ele teve o melhor material para trabalhar, uma história interessante, um passado escuro, estava sendo pressionado por todos os lados mas ficou preso no bigode e não entregou o que imaginávamos.

O maniqueísmo de séries americanas também teve uma ponta aqui, o que prejudicou o Detetive Velcoro no fim. Mesmo o personagem que era pra ser ruim, corrupto se desenvolve somente para o bem e no final ainda é um exemplo, faz tudo por amor. Por que o Velcoro não foi aquele policial conformado e corrupto até o fim? Faria mais sentido ele terminar sendo aquele conformista, que vai aceitando as coisas como estão, aceita ordens de quem está no comando sem se incomodar com os objetivos. Tentar “dar um jeitinho” para conseguir se safar e até quem sabe ficar com o filho. Ainda assim foi um dos personagens com a melhor história na série, junto com Frank.

O policial rodoviário Paul Woodrugh (Taylor Kitsch) foi mal construído, o caso com a atriz só serviu para colocá-lo na força tarefa e este foi retratado mais uma vez “de passagem”. Ao final nada na vida dele ganhou muito destaque, nem ser gay e lutar contra isso, nem o filho, nem o caso inicial com a atriz. O motivo dele estar nessa força tarefa também foi muito fraco. Só porque ele achou o corpo? Não faz sentido. Apesar dele ter sido muito importante em alguns momentos para salvar a pele de todo mundo com seu background militar, essa habilidade de combate também não era motivo para ele estar na força tarefa, onde era necessário detetives, não soldados. A atuação dele agradou, soube trabalhar com o material que tinha e conseguiu transparecer bem um homem marcado pela guerra e com dificuldade de aceitar sua orientação sexual e seu passado.

Outros tantos personagens foram citados e não apareceram em cena ou apareceram muito pouco. Foi uma confusão de ideias e pessoas sendo citadas, e novos rostos aparecendo no final sem nunca ter tido nenhuma pista da existência deles. Também tivemos muitos vilões, tinha policiais e políticos corruptos e gangues variadas. Isso foi muito danosos e confundiu a cabeça do telespectador. sem o tempo necessário para assimilar. Essa temporada precisaria de mais dois episódios para deixar a história redonda e se salvar.

O final da série ainda está confuso. Entendo o desejo e a intenção de se fazer uma trama que vai se desenrolando e cada nova pista leva à um novo problema para ser solucionado antes que tudo se resolva, mas ainda está confuso, até o que estavam realmente investigando. Uma morte de um investidor, que levou a uma gangue latina, que não era nada disso. Que levou à corrupção política no desenvolvimento urbano, que levou ao desaparecimento de pessoas, que levou à alguém querendo destruir o negócio do Frank, que levou a um roubo, que levou a corrupção policial, e? No final a morte inicial foi solucionada e não tinha nada a ver com muita coisa.

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Uma das melhores sequências da série, o tiroteio entre a polícia e a gangue latina, poderia ter sido também o que traria a série de volta aos trilhos. Já imaginaram se ali todos ficassem contra todos? Um lado bom foi o retrato do pós tiroteio; todos sofreram como era esperado, nenhum teve ímpetos de heroísmo como algumas séries americanas, nenhum saiu dali dizendo “fiz o que era necessário para proteger os cidadãos” ou coisa do tipo. Estar em um evento massacrante como aquele deve ter efeitos profundos na pessoa, como estar em combate.

Podemos resumir os pontos negativos da segunda temporada de True Detective em uma palavra: Excesso. A boa direção, o roteiro, a história para nos entreter estava ali, mas o excesso de casos para resolver e entrelaçar e o excesso de personagens também estava, isso prejudicou grande parte da audiência.

Agora nos resta perguntar: O que você achou desta temporada?


Camila

Mineira, designer, professora que gosta tanto de séries que as utiliza como material didático.

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Fringe

Não assiste de jeito nenhum: Supernatural

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