Semana passada a Netflix liberou toda a terceira temporada de Orange Is The New Black. Se você é como eu e já assistiu tudo, pode seguir em frente. Mas se você prefere guardar os episódios para que eles durem mais tempo, pare por aqui e vá para as nossas reviews individuais dos episódios.
Porque a gente acredita que a terceira temporada é a melhor da série até aqui? Vamos por partes.
O crescimento dos personagens secundários
Desenvolver personagens secundários não é nenhuma novidade pra Orange is the New Black, mas esse ano a série parece ter levado essa prática a um novo nível. Pra quê trazer novas detentas para (desculpem o trocadilho) roubar a cena se já há tantas personagens capazes de conduzir a série? A segunda temporada foi basicamente comandada por Vee (Lorraine Toussaint), que teve uma passagem tão marcante que, mesmo morta, segue sendo citada até hoje. Nada contra a personagem, mas, com tanto destaque dado à ela, acabou sobrando pouco espaço para o desenvolvimento de todas as outras detentas de Lichfield.
A terceira temporada chegou para corrigir essa “falha” e 90% das tramas surgiram a partir de novos comportamentos e novas interações entre personagens que já conhecemos de longa data. Quem poderia imaginar que Norma deixaria a barra da saia de Red e seria o centro (junto com Leanne) de um plot pautado em religião? Ou que viraríamos todos #TeamCaipira depois de sermos induzidos a odiá-la no começo da série? Ou que Cindy, por baixo daquela casca grossa, poderia se mostrar uma mulher tão sensível? Orange passou os treze episódios da terceira temporada dando aula de roteiro: criando e subvertendo expectativas, renovando velhas conhecidas sem jamais nos dar a sensação de que elas não estavam sendo elas mesmas e trazendo novas abordagens para a história que desde o começo mais cativou a todos: a vida dentro da prisão.
Os bastidores da prisão
Muito se fala que Orange não é um retrato fiel do sistema prisional norte-americano, e é bem difícil que seja mesmo. Mas até que ponto é preciso ser fiel a uma realidade para retratá-la e, pelo menos, trazer a discussão para a sociedade? Séries como Oz e Prison Break já trouxeram um pouco de prisões masculinas, mas nem mesmo elas chegaram a discutir a administração prisional, a contratação descriteriosa de guardas e as “maravilhas” dos bastidores do sistema carcerário. Com a nova direção de Lichfield a todo vapor, ouvimos pérolas que, infelizmente, são comuns não só no setor público como também no privado, como “ninguém se importa com o ‘a longo prazo'” ou “se não fizermos outra pessoa fará”.
Essa nova abordagem também nos trouxe um pouco mais dos assalariados da prisão e pudemos conhecer melhor O’Neill, Bell, Ford e Luschek, além do próprio Caputo, que, quem diria, continua envolvido com Figueroa. Até mesmo a relação entre guarda e detenta foi melhor retratada nessa temporada. Afinal, no que é mais fácil acreditar, em um envolvimento como o de Coates e Dogget ou o de Dayanara e Bennet? E por falar nele, será que ainda o veremos?
Para saber mais sobre a deturpação dos presídios femininos pelo seriado, confira esse texto do Brasil Post.
Nova abordagem à transfobia
Racismo, machismo e homofobia são assuntos sérios que, de uma forma ou outra, sempre foram abordados na série. Mas é no mínimo curioso que uma série que tem um transexual entre seus personagens tenha demorado tanto para abordar algo tão grave quanto a transfobia – e talvez tenha sido justamente esse o seu triunfo. Embora já tenhamos visto Sophia sofrer preconceito antes, essa foi a primeira vez que a vemos passar por maus bocados dentro da prisão. E quando isso acontece? Quando a audiência já se envolveu com a personagem e sua missão não poderia ser mais nobre: proteger o filho.
Infelizmente ainda vivemos em uma sociedade cheia de preconceitos e, para abordar um assunto como esse, é fundamental ter a certeza de que o público ficará do lado certo. E foi assim com a trama de Sophia. Como não se compadecer por uma mulher que está sendo agredida por algo que lhe é inerente: ser mulher? E trans, sim, como diria Laverne Cox, com orgulho.
Em junho, Laverne esteve em um evento e foi recebida por uma menina de 7 anos, também transgênero. A história é emocionante e pode ser conferida aqui.
Piper Badass
Pra quem ainda não sabe, Orange is the New Black é baseada no livro homônimo, escrito por Piper Kerman. E, embora série e livro sempre tenham tido suas diferenças (Alex Vause, por exemplo, nunca foi parar na mesma prisão de Piper) é a partir dessa temporada que os dois realmente passam a seguir seus próprios caminhos. A Piper original passou 11 meses na prisão e, hoje, além de trabalhar como consultora executiva da série, também dá palestras e trabalha em uma ONG que acompanha as mulheres recém-saídas da prisão. Já a Piper (Taylor Schilling) da série parece mais disposta a se meter em confusão do que em sair de Lichfield, e isso é ótimo!
Com a chegada de Stella (Ruby Rose), Piper descobriu que existe vida além de Vause e, pela primeira vez, vemos ela deixá-la pra escanteio. Mas ainda mais importante foi a mudança da sua relação com as outras detentas, já que nos últimos episódios Piper começou a se tornar alguém a quem elas temem, em uma relação co-dependente bastante perigosa.
A evolução de Crazy Eyes
Vários personagens cresceram nessa temporada, mas talvez nenhum deles mais do que Crazy Eyes. Uzo Aduba começou OITNB como uma mera admiradora da Piper, e desde então só fez evoluir mais e mais, independente de quem está a sua volta. Se na primeira temporada ela não tinha pouso certo, e na segunda seu lugar era onde Vee estivesse, na terceira Crazy Eyes, ou melhor, Suzanne, dominou a prisão. Seu romance intergaláctico erótico conquistou boa parte das detentas e lhe rendeu algo fundamental: conexões reais.
Suzanne sempre foi vista por todos como Crazy Eyes, inclusive suas amigas. É a chegada de Vee que desperta nela a necessidade de voltar a ser Suzanne, de ser enxergada como uma pessoa e de se conectar de verdade com alguém. Começar a escrever a pedido da nova conselheira Berdie é o que ela precisava para criar com as outras mulheres algum vínculo – por mais inesperado que ele pudesse ser.
Caminhos abertos para a 4ª temporada
Ao final da segunda temporada, quem fazia ideia do que aconteceria na terceira? Pois é. Já dessa vez, finalizado o último episódio, dá pra ter uma boa noção do que vem por aí. Se isso é bom ou não, só saberemos em 2016, mas a verdade é que todas as tramas que se abriram para o quarto ano da série prometem (e muito!).
- As repercussões do “tráfico” de calcinhas;
- A nova relação de Crazy Eyes;
- O novo Caputo, 100% do lado do sistema;
- O envolvimento entre Red e Healey;
- Soso e sua nova turma;
- O futuro do bebê de Dayanara;
- A saída de Sophia da solitária;
- A chegada de Judy King ao presídio;
- O dobro de detentas em Litchfield.
Também há algumas dúvidas sobre o elenco. Alex Vause está viva? A resposta provavelmente dependerá do contrato de Laura Prepon. E Nikki (Natasha Lyonne), voltará para a área de segurança mínima? Perguntas que só terão resposta ano que vem. Mas, se tudo correr como nos últimos 13 episódios, certamente valerá a pena esperar.
E pra você, qual foi a melhor temporada da série até aqui?