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The Killing

Por: em 4 de abril de 2011

The Killing

Por: em

E então…quem matou Rosie Larsen?

Baseada na série dinamarquesa de sucesso Forbrydelsen, o canal AMC estreou ontem sua nova série: The Killing. Um drama criminal sobre o assassinato da garota de 17 anos Rosie Larsen, que segue a investigação, os suspeitos e a vida dos moradores da cidade de Seattle. Após assistir 1×01 Pilot e 1×02 The Cage, posso garantir que The Killing tem muito potencial, sabe instigar o telespectador com ótimas interpretações; roteiro viciante e produção de primeira, com fotografia, ambientação e trilha sonora que sabem mostrar a que vieram.

De um canal que já trouxe Mad Men, Breaking Bad, Rubicon e The Walking Dead, era difícil não estar esperando coisa boa de The Killing. O resultado final é que todas as minhas expectativas foram atingidas e a série, se continuar como seus dois primeiros episódios, tem tudo para se tornar uma das melhores surpresas do ano. Mas o que realmente a série tem de tão bom? 1) História: Diferente das outras séries do gênero, The Killing não é uma simples série procedural que mostrará um caso cada episódio sem focar como trama principal o desenvolvimento dramático na vida dos personagens. Não, cada um dos 13 episódios mostra um dia na investigação do assassinato de Rosie e como uma cidade lida com o assunto após a descoberta do corpo da garota. The Killing é mais uma daquelas séries estilo Lost ou Battlestar Galactica, na qual o que realmente importa é a vida dos personagens e seus devidos desenvolvimentos. Todos estão ligados ao mesmo fio condutor, mas é a força deles, com a ajuda do ótimo roteiro, que faz a série atingir seu máximo. Esqueça o foco 100% em técnicas de investigação e os clichês básicos. The Killing mostra que ninguém é quem aparenta ser, suspeita de todos os seus personagens e convida o telespectador a entrar na história e descobrir o assassino de Rosie junto dos detetives Sarah Linden e Stephen Holder. Ninguém ali é santo, nem mesmo os pais da garota ou os próprios policiais. Todos tem seus segredos, frequentemente lutando contra seus demônios internos. É um drama psicológico que explora os diversos ângulos da morte de uma garota e de como todos na cidade podem estar linkados com o crime.

2) Produção: Não poderiam ter escolhido local melhor que Seattle. Toda a ambientação da série e seus cenários cria o clima perfeito para a história de The Killing. Somos apresentados a uma cidade chuvosa, de cores frias e sombrias, cheia de florestas e lagos propícios para uma perseguição seguida de assassinato e objetos enterrados. As tomadas aéreas de Seattle ajudaram nesse começo da trama. Algumas mostravam a cidade em pleno horário de rush, mostrando que apesar do mistério principal da série, as pessoas seguem com suas vidas quando os fatos não lhe interessam. Outros momentos mostravam o clima frio e consequentemente triste de paisagens lamacentas e de verdes escuro, contrariando a anterior, mostrando os personagens envolvidos na vida de Rosie e de como a notícia de seu desaparecimento pode desacelerar a vida de tais pessoas, mesmo em uma cidade que não para. Como de costume das séries do canal, The Killing tem um passo lento, mas que não incomoda de forma alguma ou é motivo para decepção. Tal ritmo só ajudou na montagem da história, dando tempo para mostrar todos os ângulos da investigação e da vida dos personagens. Cenas mais fortes como a descoberta do corpo de Rosie e o desespero de seus pais, aliados a uma trilha sonora bem feita, reforçam a ideia de que o tempo de The Killing é perfeito como está. É claro que devemos ter cenas mais aceleradas, mas mesmo essas, como os flashes de Rosie correndo na floresta, criam uma sensação de mistério, que apesar de esperado, chama muito atenção quando realmente bem feito. E isso a série sabe fazer.

3) Atores: Um elenco que em apenas dois episódio conseguiu nos chamar atenção é algo notável, pois não tiveram tempo em cena o suficiente para fazer com que nos importássemos. Mireille Enos é a protagonista dessa trama. Já li algumas críticas a respeito da falta de expressão da atriz, mas acredito que Sarah precisa dessa caracterização. Enos é uma atriz pouco conhecida. Quem acompanhou a recém finalizada Big Love conhece melhor a atriz. Eu tive o prazer de ver Enos interpretar as gêmeas Kathy e Jodeen, e apesar de não ter tido tanta importância na trama nem se sobressaído como outros atores, é inegável o talento da atriz. De uma mórmon fundamentalista praticante da poligamia à uma detetive, Enos fez uma transição muito interessante. O sueco Joel Kinnaman é um ótimo achado. Seu personagem Holder facilmente é o que se destaca na história por seus métodos não convencionais. Os pais de Rosie, Stanley e Mitch, interpretados por Brent Sexton e Michelle Forbes são outros dois personagens que deram show nesses episódios. Não conhecia Sexton, mas fiquei bastante emocionado nas cenas da descoberta do corpo de Rosie com sua excelente atuação. Forbes é um caso a parte. Sou fanboy da atriz pelos seus trabalhos em In Treatment e True Blood, e fico imensamente feliz em saber que agora, em uma série que já vem ganhando os críticos, ela tenha material suficiente para uma indicação ao Emmy. Forbes põe uma força incomum em seus personagens, ao mesmo tempo que adiciona um tom de mistério e intriga o telespectador, e Mitch, mãe de Rosie, não foge da fórmula. Ainda no elenco que tiveram uma participação maior estão Billy Campbell, Kristin Lehman e Eric Ladin, como o vereador Richmond, a consultora Gwen e o gerente de campanha Jamie, com boas atuações, mostrando o lado político da cidade que pode estar ligado com o crime.

O melhor que The Killing faz é mostrar que todos tem segredos, mas não apontar diretamente um suspeito principal. Claro, é fácil ficarmos com um pé atrás com o ex-namorado Jasper e o gerente de campanha Jamie. O primeiro é um adolescente instável e aparentemente perigoso ligado a vida de Rosie e com um histórico não muito bom, fato que presenciamos quando seu pai o confronta. O segundo é alguém capaz de tudo para fazer o vereador Richmond ganhar a eleição de prefeito, mostrando que não se importa com o assassinato e querendo usar isso a favor do político, além de que ele e a consultora Gwen (também atual affair do vereador) são os possíveis delatores de dentro da campanha que podem ter prejudicado e vazado informações, já que todos os outros computadores foram verificados e nada foi encontrado. O vereador Richmond é um personagem que me chamou atenção. Não parece culpado e sabe como é a dor de perder alguém querido, mas a série também soube mostrar que ele tem segredos e que há muita coisa de seu passado e de sua eleição para descobrir. É fácil dizer que é alguém que não quer vê-lo ganhar que matou Rosie, pelo fato da garota ter sido encontrada em um dos carros da campanha dele, mas quem pode dizer com segurança de que não foi um deles que plantou isso, ou então de o carro ser apenas uma simples coincidência? De fato, The Killing sabe nos deixar com suspeita de tudo e de todos, deixando-nos perdidos no meio da investigação, mas com vontade de cavar informações.

Não há de fato alguém bonzinho na trama. Até mesmos os detetives escondem coisas. Sarah não irá sair da cidade, mas o que realmente a levou querer ficar? Desde o começo dos episódios vimos que a detetive não estava 100% feliz com a ideia de se mudar para Los Angeles, casar e criar uma família. O negócio é que Sarah (e consequentemente as expressões de Mireille Enos) casam com o clima frio e triste de Seattle. Mas existe muita coisa por trás dos motivos dela querer ficar…em nenhum momento ela expressou vontade sincera de deixar o emprego de detetive na cidade e se mudar, sempre achando um imprevisto ou desculpa para continuar a investigação. Sarah é uma personagem forte, que sabe o que faz, e tem bons instintos. Ao olhar para a bicicleta rosa dentro da garagem dos Larsen, ela já descobriu que Stanley e Mitch não tinham cara de suspeitos, mas eram os pais de Rosie. É uma personagem difícil de examinar, visto que não sabemos o que se passa em sua mente o tempo todo. Sarah gosta do trabalho, ama o filho (típico pré-adolescente chato), mas enfrenta problemas ao criar o garoto sozinha e nesse ambiente no qual ela fica pouco em casa, além dele não gostar do padrasto (interpretado por Callum Keith Rennie, que fez o assassino de Harper’s Island). Ela não é aquelas personagens que mostram o poder feminino em uma investigação e que descobre tudo daquela forma clichê chata. Sarah Linden é uma mulher calma, real, experiente no que faz, mas que também é simplesmente humana, e erra.

O outro detetive é realmente uma incógnita. O que dizer de Stephen Holder? Por que ele foi parar em Seattle depois de trabalhar no departamento de narcóticos e ter começado a carreira como agente secreto? Sua inexperiência em homicídios é algo bom para a investigação, ainda mais seus métodos não convencionais. A cena em que ele engana duas garotas deixando-as fumar maconha e conversa sobre uma “festa” entre os três é realmente sinistra, mas funciona perfeitamente para o personagem. Holder não gosta de seguir as regras, comprovado desde o começo quando prometeu aos pais de Rosie que iriam pegar o responsável. O personagem melhora ainda mais aliado a Sarah, formando uma dupla totalmente diferente, mas que funciona. Com certeza há muito do seu passado para ser descoberto, mas estou ansioso para ver como Holder trabalhará para encontrar o assassino de Rosie. Para ele, todos são suspeitos até que se prove o contrário e não hesita em mostrar sua desconfiança. A melhor amiga Sterling, o vereador Richmond e o professor Bennet passaram para uma lista de suspeitos na mente de Holder (vamos e venhamos, esse professor realmente é estranho e Sterling sabe mais do que aparenta).

Porém, o que mais me chamou atenção além de tudo isso já comentado é o lado familiar. Foram cenas tratadas com grande delicadeza, mas que apesar do aspecto sutil, tiveram uma enorme carga dramática. Esse equilíbrio é outro ponto a favor de The Killing. Não conhecemos Rosie pessoalmente, mas muito sabemos da vida da garota. Por um lado ela é a garotinha do papai, ingênua e amada por todos; mas por outro é a típica adolescente que briga com a mãe, mente sobre festas e namoros e é muito mais adulta (mesmo que sexualmente) do que todos pensam. Não foi confirmado se ouve estupro, mas esses episódios parecem indicar que sexo seja um fato importante na morte de Rosie, visto as cenas finais. Em casa o clima sempre pareceu bem. Os pais Stanley e Mitch realmente se amam, e vivem suas vidas simples, mas satisfatórias, com muita alegria. Porém, existe outro lado da moeda. Assim como levantado pela própria tia, por que Mitch não ligou para a filha o final de semana inteiro? Sua filha vai para uma festa e passa dias fora de casa e você não liga para perguntar como as coisas estão? Ficou no ar que Mitch e Rosie não tinham, talvez apenas ultimamente, a melhor das relações, e Forbes conseguiu expressar muito bem a culpa da personagem. O pai ainda está em choque, algo normal em tais situações. Todas as cenas da família foram excelentes, com destaque no momento que contam aos outros dois filhos que Rosie está no céu. Acompanhar esse ângulo da investigação será um presente para nós fãs!!

No final das contas, The Killing merece ser vista e tem um tremendo potencial. Tudo contribuiu para que esses dois episódios funcionassem muito bem e estou ansioso pelo próximo. O interessante é que o canal AMC vem se esforçando para deixar a série intrigante, como você pode mexer nas coisas de Rosie, visitando seu quarto. Ajuda muito para quem quer brincar de detetive e descobrir pistas sobre seu assassinato. Antes da estreia eu já estava com vontade de tornar tudo isso mais divertido para nós fãs aqui nas reviews. Portanto faremos enquete em toda review sobre quem vocês acham que é o responsável pelo assassinato de Rosie. Visitando o site da AMC vi que o canal também tem essa ideia, mostrando personagens até então improváveis. Na enquete entrarão diversos deles, mesmo aqueles que aparentemente já tem um álibi, pois como a série mesmo já mostrou, qualquer um pode estar por trás do assassinato de Rosie Larsen.



Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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