Entre velhos conhecidos e excelentes aquisições no elenco, American Horror Story voltou! Bitchcraft foi tecnicamente superior às outras premiéres da série e conseguiu introduzir e contextualizar os personagens sem cair no didatismo, e apavorar sem abusar da violência gráfica. A fórmula é perfeita: bons personagens com potencial para conflitos, uma trama principal interessante e original e o humor ácido onipresente de Ryan Murphy. Coven definitivamente disse a que veio e, ao menos por enquanto, não deixou nada a dever à genial Asylum.
A sequência inicial, em 1834, nos apresenta a excêntrica, racista e sádica Madame LaLaurie (Kathy Bates) e suas filhas. Ao descobrir que a caçula rejeitou os melhores partidos para dormir com um escravo, ela o leva para o seu porão de horrores, onde mantém os criados sob tortura, e monta sobre ele uma versão macabra do minotauro, com o brilho nos olhos de quem acaba de ganhar um novo brinquedo.
Um salto no tempo nos leva até Zoe (Taissa Farmiga), que durante a sua primeira vez tem uma terrível descoberta: ela tem uma… digamos… “vagina letal” e causa instantaneamente a morte a seu namorado. A característica incomum traz também a revelação de que ela é uma bruxa – o que na mitologia da série significa que ela tem um dom especial – e é enviada para uma escola dirigida por Cordelia Foxx (Sarah Paulson) onde outras jovens bruxas aprendem a controlar suas habilidades.
Suas “colegas de turma” são Madison (Emma Roberts ), uma estrela de cinema com habilidade para mover objetos, Queenie (Gabourey Sidibe), uma boneca de voodoo humana, e Nan (Jamie Brewer), que possui uma audição muito mais apurada do que o normal. Núcleos adolescentes em geral são pouco interessantes, mas as meninas realmente roubaram a cena nesse primeiro episódio e não fizeram feio diante das veteranas.
Jessica Lange como sempre é a rainha de American Horror Story, e nos apresentou uma Fiona tão Suprema quanto o seu título sugere. Em busca de vitalidade e juventude ela usa tanto a ciência quanto a magia para manter-se bela, mesmo que isso custe a vida de uns e outros pelo caminho… mas isso são meros detalhes.
Um grande desafio para a série é se reinventar a cada ano usando praticamente os mesmos atores. Ainda é difícil dissociar os rostos de Sister Jude, Mary Eunice e Adelaide das personagens que vemos na tela (o que não acontece com todos, pois Lana Banana e Moira já foram completamente exorcizadas por Sarah Paulson e Frances Conroy), mas colocar um déja vu de Tate e Violet torna isso ainda mais complicado. No entanto, é provável que não demore até que os personagens de Coven encontrem as suas próprias identidades e se tornem mais reais para o público.
Os teasers já anunciavam uma temporada muito feminina, e essa premiére confirmou as expectativas. Temos mulheres diferentes, fortes, poderosas (literalmente) e que são o centro de todos os focos de ação apresentados na série. Todas as alianças, conflitos e questões são protagonizadas por mulheres, e se tratando de uma temporada sobre bruxas isso simplesmente não poderia ser diferente, já que as principais condenadas à morte por bruxaria ao longo da história foram mulheres, e até hoje o estigma de witch (assim como o de bitch) é predominantemente feminino.
American Horror Story é especialista em causar medo, desconforto e repulsa através de várias faces do terror, e isso fica muito claro quando vemos por um lado as histórias bizarras e fantasiosas de uma mulher que usa pâncreas humano como creme embelezador, uma adolescente que faz homens sangrarem até a morte através do sexo, uma bruxa que suga a juventude e a vitalidade de suas vítimas, e por outro lado o horror real e cotidiano de um estupro coletivo, ou do racismo latente que manchou e ainda mancha a história dos EUA e de todo o mundo. Há impacto visual e muito entretenimento nos artifícios fantasiosos, mas o terror psicológico e verdadeiro que Madison viveu durante aquela festa certamente foi o ponto mais assustador do episódio, porque mostra que até mesmo uma mulher com “superpoderes” é vulnerável à misoginia.
A surpreendente volta de Madame LaLaurie trará conflitos interessantes para a trama (aguardo grandes cenas com Fiona e mal posso esperar pela sua reação ao encarar Queenie pela primeira vez). Também estou curiosa sobre como – ou se – trarão Misty Day e Kyle de volta, e conhecer melhor a história da misteriosa Marie Laveau. E então, empolgados com as bruxas de Nova Orleans? Será que Coven vai conseguir manter a qualidade do início ao fim como Asylum? Deixem seus palpites e suas impressões sobre o episódio nos comentários!