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Dexter 5×07 e 5×08 – Circle Us e Take It!

Por: em 16 de novembro de 2010

Dexter 5×07 e 5×08 – Circle Us e Take It!

Por: em

Dexter

Semana passada, eu li uma entrevista antiga com David Simon, criador de The Wire e Treme, onde ele falava que não curtia a maneira como as pessoas paravam pra analisar cada episódio de uma temporada individualmente, antes de conhecer a conclusão de cada história. Sem as informações que ainda vão ser expostas nas semanas seguintes, muito da análise se baseia em dedução — e do dia pra noite, muitos dos argumentos e críticas direcionados à série podem acabar indo por água baixo. Se por um lado eu discordo dele — afinal, o modelo da TV nos Estados Unidos simplesmente é construído pra ser discutido semana após semana —, o que essa segunda metade do quinto ano de Dexter tá me mostrando é que boa parte do material construído no começo da temporada finalmente tá funcionando — e as críticas agora perdem um pouco (só um pouco) de sentido. As tramas agora parecem caminhar em uma mesma direção. Esses dois episódios foram muito mais coesos, e mesmo que isso não seja desculpa pra chatice que foi boa parte das semanas iniciais, Dexter tá tentando se desculpar da melhor maneira possível. E tá conseguindo.

O patinho feio da temporada seria a trama sem graça do assassino de Santa Muerte, mas o panorama que o tiroteio no clube montou no 5×07 e foi trabalhado no 5×08 funcionou bem demais. O que eu mais tava odiando em Dexter era como todos — TODOS — os coadjuvantes não recebiam nenhuma história nos padrões de qualidade da série. Na verdade, as histórias deles sempre foram mais fracas comparadas às do Dexter, mas dessa vez a coisa tava excepcionalmente pior. O momento em que tudo isso virou de cabeça pra baixo foi quando a Deb acertou o tiro bem na testa de Carlos Fuentes. Além do tiro resolver perfeitamente o pequeno trauma da Deb com o garoto do pescoço cortado, ele abriu uma séries de conflitos legais pra tirar o departamento de polícia de Miami do limbo em que estava.

Principalmente por causa da LaGuerta. A falta de ética no trabalho já era interessante por si só, já que era um alívio pros problemas repetitivos na relação com o Batista, mas a trama funciona ainda melhor do que o normal porque ela nos faz lembrar o histórico da personagem. LaGuerta tem mó pose de mulher centrada, mas a facada nas costas que ela deu na Deb não foi uma atitude que surgiu de agora. Já na segunda temporada ela mostrou o que era capaz de fazer pra conseguir a chefia do departamento (destruindo a vida pessoal da antiga tenente pra derrubá-la profissionalmente, lembram?), e se esse espírito de porco ficou escondido durante os últimos dois anos foi simplesmente porque na terceira temporada ela sofria a dor a respeito do Doakes sendo acusado de Bay Harbor Butcher, e na quarta, porque o romance com Batista falou mais alto.

E o outro lado da moeda é ainda melhor, porque até que enfim a Deb ganhou uma história boa na temporada. E o mais legal é que mesmo que o tiro na testa tenha deslanchado boa parte dos problemas na delegacia, pra Deb, a história se expandiu ainda mais, e de uma maneira que eu não esperava. Tô muito curioso pra ver como a série vai trabalhar a relação entre ela e o irmão daqui pra frente. Deb foi fria e não sentiu remorso nenhum pela morte cometida, e isso espelha muito toda a história da vida do Dexter. O irônico é que Deb tinha licença pra matar, mas o tiro dela a colocou em meio à sujeira do departamento. Servindo de bode expiatório, a injustiça sofrida por Deb chega a reconfortar as ações do seu irmão. Dexter mata ilegalmente pra suprir um buraco que ele sofreu na infância, mas o código de Harry o força a matar como um justiceiro, como um herói. É o Dark Passenger encapuzado que a gente viu lá na segunda temporada e agora começa a ganhar um sidekick. Lumen é o Robin de Dexter.

Dexter

Os dois não são perfeitos — longe disso —, mas são as dores que eles compartilham que fazem deles uma dupla interessante — e eficiente. Eu amo quando uma série reconhece o que tá fazendo, mesmo que acabe não funcionando mais pra frente, mas foi muito legal acompanhar o voice-over do Dexter dizendo que, assim como Harry e Miguel, tá na vez de conferir se a Lumen consegue encarar aquilo que ela viu. No começo da temporada, a gente comentava como a história da Lumen tinha muitas chances de soar repetitiva, e ouvir o nome do Miguel nesse episódio me conforta porque a serie meio que prova que não quer fazer a gente de burro. Eles também sabem do risco de Lumen se transformar em uma personagem redundante. O que tá sendo feito pra mudar isso é colocá-la no mesmo patamar de Dexter. Com Harry e Miguel, os dois pareciam estar em um pedestal, olhando de cima. Harry como uma espécie de mentor. Miguel como um advogado mimado e obcecado. Lumen encara Dexter de frente porque seus sofrimentos são compatíveis. Ela pode até não durar mais do que uma temporada, mas a cena fantástica do Dexter matando Cole acho que já deixa claro que o desfecho da personagem não vai ser o mesmo dos outros dois — se é que ela realmente vai embora no final desse ano.

Quem tá correndo risco agora é Jordan Chase. O mistério do grupo de garotos não chega a me empolgar tanto (até porque Rubicon fez isso melhor recentemente na sua excelente — e, infelizmente, única — temporada), mas me anima a caçada de um cara tão high profile como ele. Sempre cercado de fãs e seguranças, arrumar um jeito de matar Jordan vai ser complicado, e mesmo que Dexter às vezes me decepcione com umas reviravoltas um pouco forçadas, não dá pra não ficar no mínimo intrigado. E não só com Chase. Eu não faço ideia de como a série vai trabalhar com a eventual descoberta de Quinn sobre Dexter (depois do cliffhanger no 5×08, não consigo imaginar ele NÃO descobrindo), mas a apaziguada que o personagem deu depois do romance com a Deb também mostra a tentativa da série de fugir de outro repeteco: Quinn não é um Doakes 2.0.

Mas mesmo com suas diferenças, a história ainda parece pelo menos um pouco reciclada. O que essa quinta temporada de Dexter tá mostrando é que aquele universo já foi explorado demais. A história do serial killer que trabalha pra polícia não é tão abrangente, e Dexter já extraiu dessa premissa talvez um pouco mais do que ela permitia. Mas o reciclado tá na moda. O processo é meio sujo no começo, mas eventualmente acaba mostrando que os resultados são eficientes. Um pouco demorado demais pra uma temporada de 12 episódios, mas pra quem tava esperando se decepcionar mais e mais esse ano (eu!), o jeito agora é aproveitar o pote de ouro que Dexter nos deu nesses últimos episódios. Querem de volta a série sensacional que nos conquistou nos últimos anos? A chance é agora.

Take it.

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P.S.: A review acabou sendo bem mais do 5×08 do que do 5×07, mas TENHO que deixar registrado esse quote do episódio retrasado: “This is either a saint or the most boring action figure i’ve ever seen.”

P.S. 2: O ex-noivo de Lumen ou é um ator ruinzinho, ou foi mal escalado, ou os dois. A cena dele com a Lumen além de não ter funcionado tanto, bizarramente me passou muito mais a impressão de que eles eram irmãos em vez de noivos. Mas ao mesmo tempo a cena serviu pra provar como a série fez um bom trabalho com a Lumen. Mesmo sem saber quase nada sobre o seu passado, a personagem já era interessante o suficiente pra carregar o melhor arco da temporada com o Dexter.

P.S. 3: Duas reviews duplas seguidas. Agora que só faltam 4 episódios pra terminar a temporada e que eu me empolguei de vez, prometo que vou me comportar direitinho e não me atrasar nas próximas semanas.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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