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Dexter 5×09 e 5×10 – Teenage Wasteland e In The Beginning

Por: em 30 de novembro de 2010

Dexter 5×09 e 5×10 – Teenage Wasteland e In The Beginning

Por: em

Dexter

Eu sei, eu sei. Falei que nessa reta final não ia mais fazer review dupla de Dexter. E dessa vez os dois episódios se casam tão mal que é um pecado deixar o 5×10 no mesmo texto que o 5×09 — que até teve seus méritos, mas comparado ao avanço na trama que foi In The Beginning, fica difícil traçar qualquer comparação entre eles.

Uma coisa que me preocupava pra caramba em Dexter e que me fez brochar durante a maior parte dessa quinta temporada foi a forma como a série negou o potencial que a morte da Rita tinha pra série. Todas as temporadas seguem uma fórmula tão fechada que as expectativas pra esse ano eram de uma reviravolta geral nesse esqueminha de sempre. Não só no protagonista em si, mas em toda a estrutura ao redor dele. Por quatro anos, a fórmula seguiu muito bem (até na terceira temporada, provavelmente a pior, a coisa funcionou bem, só decepcionando no final), só que chega uma hora que tudo fica muito repetitivo e previsível. Eu me sinto repetindo as mesmas palavras mil vezes justamente porque essa temporada inteira não para de se repetir. Em vez de um supervilão, agora é um grupo de supervilões. Em vez de uma pessoa atrás de Dexter, agora são duas atrás dele. A série mexeu em detalhes que no geral não fazem tanta diferença assim e que me deixam uma impressão enorme de que o brainstorm pra quinta temporada foi feito numa preguiça enorme. “Joga qualquer coisa aí. Não vai dar pra superar o ano passado mesmo.”

Acontece que quando a merda bate no ventilador, a série sempre faz bonito. Sempre. Eu ando gostando muito menos de acompanhar essa temporada do que os últimos textos talvez fizeram transparecer, mas o 5×10 funcionou bem demais pra eu despejar qualquer rancor secreto que eu guarde por Dexter. Os clichezôes continuavam lá — inclusive o que mais me irrita: o de nos enganar toda hora (a diferença é que agora já dá pra perceber que a gente vai ser enganado 5 minutos antes, vide Deb e Quinn supostamente quase encontrando Dex e Lumen com a mão na massa). Só que é ingênuo pra caramba eu achar que um dia eles vão mudar isso. Já são mais de 50 episódios fazendo a mesma coisa. O jeito é aproveitar o que eles sabem fazer melhor: finalmente juntar todo mundo nos mesmos conflitos, e nos deixar ansiosos pra ver como eles vão ser resolvidos. É capaz que boa parte de tudo isso acabe em morte — outro elemento sempre presente na fórmula da série —, mas e Lumen? A principal e mais interessante peça dessa temporada me deixa cada vez mais satisfeito. E apaixonado por Julia Stiles.

Isso porque ela age com tanta naturalidade. Naturalidade talvez nem seja a palavra certa, mas a personagem leva uma vantagem gigante pra cima de outros coadjuvantes de luxo que eu nem sei direito explicar porque isso aconteceu só com ela: Lumen não parece que caiu de para-quedas só pra fazer parte da trama da temporada. Em pouco tempo, ela já parecia um indivíduo único, que em vez de impulsionar a história do Dexter, ela complementava a história dele. É por isso que eu fico sempre com a impressão de que ela não vai embora daqui a 2 episódios. Afinal, depois de 5 anos, Dexter finalmente começou um relacionamento com alguém baseado quase que inteiramente em verdades. Ele pode até ter aprendido a cultivar um carinho enorme por todo mundo ao seu redor: Rita, as crianças, Deb, etc. Mas todas essas relações começaram através de uma mentira — e ainda precisam viver por trás dela. Dexter e Lumen não.

Dexter Jordan Chase

E é importante que o casal não seja visto  sob o olhar julgador de quem acha que Dexter ainda precisa respeitar o fato de ser um récem-viúvo. A morte de Rita não precisa prendê-lo. Pelo contrário. Ela liberta o personagem. E o que ele tá fazendo agora é justamente ajudar a sua nova parceira a se libertar também. Ela precisa saber que cada uma daquelas pessoas que a colocaram naquele limbo emocional finalmente tiveram o destino que merecem. Agora, quando chegou a vez dela mesma meter a mão na massa, a coisa fluiu bem porque ela não quer matar só por matar. Ela absorve todo o ritual de Dexter naturalmente — não como se tivesse seguindo um passo-a-passo de como se tornar uma assassina. Ela tem um propósito, e isso faz toda a diferença.

Mas olhado do outro lado, quais serão os propósitos do grupo de Jordan Chase? Nada, nada, nada pode justificar as bizarrices extremamente cruéis orquestradas por eles — só o som e os relances dos DVDs gravados já arrepiam —, mas ali também existe alguma motivação forte comandando tudo. Cole, Boyd, outros-que-eu-não-lembro-o-nome… Provavelmente esses são só capangas filhos da puta mesmo. Mas Jordan Chase? Eugene Greer? Que desejo doentio existe por trás daquele cara? A cena em que ele conversa com sua primeira vítima e fala como ela é especial chega a ser meio hipnotizante, me deixando morrendo de vontade de conhecer ainda mais sobre o que se passa (e o que já se passou) por aquela mente. Queria muito que a série não o tratasse apenas como um vilão simples que vai acabar levando uma facada no peito. É claro que eu quero que ele morra, mas tem material de sobra ali pra que a personalidade surpreendentemente única de Jordan Chase se desenvolva e levante uma porrada de discussões legais antes de sua eventual fatalidade.

O posto de vilão simples e (quase) genérico provavelmente vai ficar com o Liddy. E por mais que eu esteja me amarrando no jeitão do Peter Weller desvendando o caso como um investigador competente pra caramba (e ironicamente, ele estar fora do departamedo de polícia é um dos motivos que o faz investigar tão bem), ele é o que menos me incomodaria se fosse embora no destino tradicional de todos os antagonistas de Dexter. Acho que a série merece que a identidade assassina de seu protagonista seja revelada primeiro por Deb dentre os personagens principais. Eu não gostei como eles revertaram tão rápido a suspensão dela e a colocaram de novo numa trama confortável — investigação pura e simples —, mas ela faz isso tão bem. Pega cada detalhe, liga com outros, age cheia de força de vontade. E tudo isso sem soar fora do comum, absurdo, super-inteligente. Ela não merece descobrir o segredo de seu irmão através de um velho aproveitador. Ela merece descobrir sozinha. Eles se conhecem e eles se entendem o suficiente pra isso. Mas também é engraçado como a gente sempre pensa na possibilidade de que algum dia o mundo inteiro vai descobrir que Dexter é um serial killer. Vai ver a série termina e o Dark Passenger continua escondido…

Nah, provavelmente não. Bora continuar deixando Dexter ser meio previsível e repetitiva. Quando a parte chata passa, o clímax é absurdamente recompensador. Igual tá sendo agora.

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P.S.: Eu odeio a Astor. Tá aí meu comentário sobre o 5×09.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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