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Dexter – 7×08 Argentina

Por: em 20 de novembro de 2012

Dexter – 7×08 Argentina

Por: em

Elogiar a construção narrativa dessa temporada de Dexter já virou chover no molhado.

A série que, no ano passado, apresentou uma das temporadas mais bagunçadas no que diz respeito a estrutura de texto e história deu a volta por cima e semana após semana, dá um show em tela. Com 75% dos episódios exibidos, já classifico esse sétimo ano como um dos 3 melhores e, a depender do que as próximas 4 semanas nos reservarem, ele tem grandes chances de se tornar meu favorito.

Argentina é um episódio que não funcionaria isoladamente. Para que o que foi apresentado fizesse algum sentido, foi preciso uma construção gradual que não começou aqui, mas sim na malfadada 6ª temporada. Isso é extremamente claro quando nos colocamos diante da Deb, de longe, o grande nome não apenas destes 50 e tantos minutos, mas da temporada em si. Jennifer Carpenter afirmou que Argentina é seu episódio favorito e fica claro o motivo. Nunca, em 7 anos de série, ela se entregou tanto a personagem como agora e o ‘acerto de contas’ entra ela e o Dexter perto do final trouxe a melhor atuação da atriz na série inteira.  O olhar, a impostação vocal, as nuances, praticamente tudo se encaixou, nada estava fora do lugar e foi um espetáculo, ouso dizer, digno não apenas de indicação ao Emmy, mas de premiação.

O foco maior no relacionamento dos dois começou a existir ano passado e, a despeito de qualquer ressalva que eu ainda tenha com o plot da paixão, eu tiro meu chapéu pra admitir que, sem ele, talvez toda a trajetória dos dois da temporada passada até aqui não teria tanta carga. Pela primeira vez desde que foi inserido,  ele não me irritou. Casou perfeitamente com toda a situação. Imagina a cabeça da Deb. Primeiro descobre que está apaixonada pelo irmão, depois tem que lidar com o fato de ele ser um serial killer e, agora, precisa aceitar o fato de que ele não irá matar uma assassina porque está atraído (até mais, eu acredito) por ela. De certa forma, tudo isso converteu-se em uma coisa só, um só tipo de sentimento, que foi o que levou a conversa dos dois. Não acho mais que a Deb esteja apaixonada; ela agora tem muito mais coisas para se preocupar. Mas de uma vez por todas, algo se quebrou entre eles.

Agora que o Dex sabe, que o Dex ouviu tudo da boca dela, a relação dos dois muda totalmente, ouso dizer que até mais do que mudou quando ela descobriu o dark passenger. A Hannah, de um jeito bizarro, mudou o Dexter. Pela primeira vez, ele encontrou alguém que o aceita como ele é plenamente, sem perguntas, sem julgamentos, sem meias verdades. Chega a ser assustador, mas eu não consigo imaginar que rumo essa relação dos dois vai tomar. O modo que ele se impôs para a Deb com relação a isso já mostra o quanto a coisa entre eles é diferente. Ela é a Argentina que o Dexter cita. É o lugar onde ele pode ser totalmente quem ele é, se despir de qualquer máscara. É cedo para dizer que ele a ama, mas, do jeito distorcido dele, o que ele já sente por ela caminharia facilmente para isso, caso a Hannah durasse mais tempo na série, o que é uma incógnita.

E aí entra aquele velho debate do Dexter psicopata que não deveria ter sentimentos. No começo, foi realmente assim que ele foi nos apresentado, mas há anos eu já não consigo enxergar o Dex como um psicopata. Sociopata, no máximo. A humanização imposta ao personagem, primeiro pela Rita e pela Deb, depois pelo Harrison e, de certa forma, agora pela Hannah, é a prova disso. Ele tem um vício de matar, uma sede por sangue que, sim, não é comum, mas ele não é um psicopata. Passa longe disso, eu ouso dizer. Ele tem uma mente que se assemelha, tem instintos rápidos, é estrategista, arquiteta de maneira (quase) sempre brilhante como pegar suas vítimas, mas para por aí. Dex tem sentimentos como qualquer outra pessoa e só isso já tira dele qualquer rótulo de psicopatia.

O retorno de Astor e Cody exatamente nesse episódio vem para comprovar isso e traçar um paralelo com essa questão de “liberdade de ser você mesmo” que o roteiro trabalhou tão bem. Dexter tem sentimentos paternos com relação aos dois e não é porque ele se sente culpado pela morte da Rita, é por um instinto natural de protegê-los mesmo. Os diálogos com a Astor e a questão da maconha foram sensacionais. A maconha era a Argentina dela. O que a fazia se sentir bem, fugir da realidade, da dor e dos problemas por algum tempo, mesmo que curto. A cena final do episódio com a Astor e a Deb, depois da discussão com o Dex, na varanda, fumando e olhando o infinito, é de uma simplicidade e de uma carga dramática que impressiona. E inserir logo depois aquele abraço que o Dexter dá na Hannah só serviu pra elevar tudo ainda mais. Acho que foi um retrato perfeito da separação de caminhos que os dois estão estabelecendo. A Deb aceitou que o Dex é um serial killer. Mas acho difícil ela aceitar sua relação com a Hannah.

Quando eu falo que a estrutura do texto e da trama desse ano são de aplaudir de pé, não exagero. A trama do Isaak, agora, faz todo sentido e se encaixa perfeitamente não apenas com a história desenvolvida nesse episódio, mas na temporada em si. Hannah é a Argentina do Dex e o Viktor era a do Isaak. Muita gente achava que eles eram pai e filho, mas eu sempre pendi mais para a possibilidade deles serem amantes. A conversa do Dexter com o Isaak no bar gay corrobora tudo que o roteiro já tinha trabalhado antes, sobre a possibilidade de você encontrar um alguém – ou um lugar, um vício, uma saída – que te deixe confortável o suficiente para ser você mesmo. Isaak tem o exato oposto disso na irmandade e, com Viktor, era quando ele podia ser ele “livre”. E o Dexter mesmo sem saber, tirou isso dele, causando esse desejo de vingança. É como se o Isaak fosse uma versão às avessas do que aconteceu ao Dex quando o Trinity matou a Rita. E, bem, a gente viu o que o Dexter fez quando ainda estava na fase do luto.

No campo oposto, o Quinn tem que enfrentar uma chantagem da máfia e ir contra seus “princípios”. Engraçado que agora ele tem princípios, não é? Essa é, sem dúvida, a trama que menos me empolga nesse ano e embora eu não faça ideia de como ela vai terminar, na verdade eu não me importo muito. Mas eu não ficaria triste se o Joey partisse dessa para uma melhor no season finale que estamos perto de assistir. Contudo, se eu tivesse que apostar em um coadjuvante para ‘bater as botas’, seria a LaGuerta, que se aproxima cada vez mais do Dexter e do Bay Harbor Butcher. No ritmo que ela está, acho que a descoberta vai vir antes do fim da temporada e eu mal posso esperar. Sendo o próximo ano o derradeiro, uma das minhas maiores curiosidades é saber como eles vão fazer a amarração entre este e ele.

Eu tinha medo de falar isso antes, mas agora já me sinto seguro em afirmar que nem um desastre pode estragar essa temporada. Os roteiristas estão com as rédeas firmes e a construção da narratividade segue impecável. Anunciar o final para 2013 foi, certamente, uma das decisões mais sensatas, pois deu aos produtores a perspectiva exata que eles precisavam para por a ordem na casa.

Por tudo que eu falei acima, Argentina não foi só meu episódio favorito dessa temporada, mas o meu favorito desde a premiere da 5ª temporada, 2 anos atrás.

E é realmente muito, muito bom poder estufar meu peito e falar com orgulho que Dexter voltou a ser uma das melhores horas da minha semana. Que venham os últimos quatro!


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

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