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Friday Night Lights – 5×13 Always (Series Finale)

Por: em 14 de fevereiro de 2011

Friday Night Lights – 5×13 Always (Series Finale)

Por: em

Guilherme: Que troço difícil. Encontrar a palavra certa, a trama certa, o personagem certo pra começar a falar desse series finale. Até certo ponto, foi um final bem tradicional, com a série mexendo as peças pra que (quase) todo mundo terminasse numa boa posição, só que mesmo assim foi uma avalanche emocional tão grande e tão eficiente. ‘Always‘ finalizou Friday Night Lights nos mostrando os novos rumos de Vince, Jess, Luke, Becky, Matt, Tim, os Taylor, mas sem esquecer por um segundo de todo o histórico da série e da importância básica que permeou todas as temporadas: a força de uma comunidade. Friday Night Lights não foi exatamente uma série sobre futebol. Foi uma série sobre como o futebol pode influenciar e mexer com um lugar, com um grupo de pessoas. Seja em Dillon, seja na Philadelphia, seja na tela de todo mundo que assistiu à série: é esse sentimento de união que prova que Eric e Tami, seja lá onde estejam, vão SEMPRE ser absurdamente essenciais.

Caio: Nunca é fácil dizer adeus para algo. Para um amigo, parente…ou simplesmente para uma série de televisão quando você é um apaixonado por tv. O final de FNL foi lindo e as lágrimas rolaram soltas desde os minutos iniciais com o pedido de Matt até as luzes do campo se apagarem. O ponto é…nunca estamos prontos para nos separáramos de algo que nos deixou feliz…e FNL apresentou dezenas de “algos”. Seu calor sentimental; seus personagens cativantes; sua forma de ser produzida. O importante é que sempre se deve aprender alguma coisa com o que/quem você ama. Pode ser exagerado demais pedir para que vocês nos digam o que aprenderam com Friday Night Lights, mas deixando todos os sentimentalismos e clichês de lado, eu aprendi a perder o preconceito com os viciados por futebol ou qualquer esporte que incite uma paixão que FNL nos mostrou de uma forma incrivelmente realista.

Guilherme: Acho que o realismo foi a peça chave pra que FNL tenha sido tão fantástica quanto foi (tanto que a parte mais criticada por todo mundo durante toda a série foi na segunda temporada quando o Landry matou o estuprador da Tyra). É mais ou menos o que o Brad Leland (Buddy) falou nas entrevistas no final do episódio. Aqueles personagens são pessoas que a gente conhece, que a gente convive. E não são só detalhes aqui e ali, trejeitos ou algo do tipo. Eles são incrivelmente verdadeiros. Eles tão sempre mudando de opinião, indo pra um lado e pro outro, fazendo coisa boa, mas também tomando uma porrada de decisões ruins — melhor, decisões não exatamente ruins, mas muitas vezes ambíguas pra caramba. O engraçado, porém, é que a principal decisão dessa reta final não podia ser ambivalente assim. Eric precisava entender o lado de Tami, olhar bem pros dezoito anos de casamento, e enfim perceber o que a sua maior companheira, amiga e torcedora de todo esse tempo disse na cena PERFEITA do restaurante (última filmada da série, por sinal): agora era a vez dela.

Caio: Relacionamentos funcionam com duas partes. Por vezes uma delas é submissa por muito tempo, mas nunca funcionará para sempre. Foi isso que vimos no desfecho de Eric e Tami. Eles se amam mais do que tudo e conquistaram uma vida deliciosa juntos. Acompanhamos Tami moldando sua vida a favor do marido. Era óbvio que agora era a vez dela e como ele mesmo disse, poderia treinar em qualquer lugar. Julie incitou a conversa no restaurante e fez o pai perceber que os dois precisam cooperar. Matt queria fazer a filha dele feliz, assim como ele quer fazer com Tami. O final do casal mais simpático e verdadeiro da tv foi lindo. Coach transformando adolescentes em homens e Tami criando mentes maduras. Não importa onde eles estejam, é o que eles sabem fazer de melhor. A maior conquista deles é ver as pessoas que mudaram, e na série existem muitos exemplos. O melhor deles na series finale? O desabafo de Vince para Eric e Tyra querendo ser uma Mrs. Taylor quando adulta.

Guilherme: E uma coisa que eu acho que eles souberam fazer MUITO bem foi montar a surpresa do casamento de Matt e Julie, mas sem aquele prisma de final de novela. O pedido de Matt colocava em cheque o que há de mais profundo no relacionamento de Tami e Coach. Ver a própria filha passar por esse momento de viver “pra sempre” com alguém que ama, ajuda demais a mostrar pros dois — pra Eric principalmente — que um casamento se forma na maturidade e no comprometimento de ambos os lados. Os dois momentos que tu citou ficam de prova de como era necessário o casal se acertar. Tomar uma boa decisão. Eles foram as pessoas que inspiraram boa parte daquela cidade, que moldaram a vida de muita gente enquanto moldavam a de si próprios. Eles não são esses series superiores acima de tudo e de todos — ok, na verdade são –, mas não é essa a impressão que eles passam nem querem passar. Os Taylor foram o coração de Dillon por toda a sinceridade, humildade e entrega nesses 5 anos na cidade.

Caio: Ao pedir Julie em casamento, Matt faz o casal Taylor rever todos os seus conceitos e dar uma olhada para o passado. Fico feliz que Julie (quem acompanhou as reviews sabe que nunca fui fã da personagem) tenha contribuído de uma forma tão importante para o fim da série. E imagino que, casada com Matt, vá conseguir amadurecer e fico com essa imagem da personagem, que deixará de ser aquela garota infantil, algo que nesse próprio final já foi mostrado muito bem, com ela tomando decisões não apenas por súbito egoísmo ou para provocar os pais. Não…ela só queria ser feliz. Grandma Saracen pode se despedir de nós fãs de uma forma tão simpática que não pude conter as lágrimas na cena em que ela entrega o vestido de casamento para Julie e pede que a garota lhe chame de vó agora que está na família. Matt foi Matt até o último momento, e mesmo Landry ter aparecido muito pouco (aqui coloco o desejo de 11 entre 10 fãs da série que era ver uma cena dele com Tyra) relembrou os ótimos momentos que passamos na companhia dos amigos e que nos fizeram rir muito quando estavam em cena.

Guilherme: Eu gostei muito como as menções a personagens antigos soaram naturais no episódio. O Landry voltou, mas voltou pra dar apoio ao amigo numa das maiores decisões de sua vida. O próprio Street, numa menção sutil pra caramba, me acertou em cheio, quando a câmera mostrou em 2 segundos o nome dele escrito no vestuário dos Panthers. Nada soou forçado, a história correu como tinha que correr. E eu sou obrigado a admitir que meus momentos favoritos foram com o Tim. Apesar de Eric, Tami, Matt… Repito pela bilionésima vez: é ele o meu personagem favorito. Eu amo como ele tenta passar a impressão de que não se importa, mas faz de TUDO pra ajudar seja quem for. É cabeça dura, tem pavio curto, mas acho que ainda mais do que os Taylor — o seu ‘Texas Forever’ é a marca mais forte de Friday Night Lights vai deixar na minha cabeça. Eu não ligaria mesmo se a série terminasse naquele momento em que ele e o Billy bebem juntos olhando pro horizonte de Dillon. Muita gente pode ter indo embora daquele lugar, mas ‘Texas Forever’ é o bordão que não representa exatamente O TEXAS, mas sim o lugar em que você se sente confortável, fazendo o que gosta, com as pessoas que gosta. Assim como Matt e Julie em Chicago, Jess em Dallas, Tami e Eric na Philadelphia…

Caio: A cena final dele com Billy foi genial. Porém, eu queria muito que o último momento da série fosse mesmo com o casal Taylor. Tim e Tyra tiveram cenas lindas também. Tim é o que melhor representa Dillon. Ele ama aquele lugar..ele não tem planos de sair de lá e vai esperar Tyra o tempo necessário, porque esse é Tim, a paciência em pessoa apesar de todas as preocupações com os que ama. Ele com o sobrinho deu show. E olha que eu nunca fui muito fã da atuação de Taylor Kitsch porque achava que é sempre mais do mesmo. Porém, por coincidência, essa semana assisti X-Men: Wolverine novamente, no qual Kitsch interpreta um personagem bem diferente e manda benzão, firmando de vez para mim o ator versátil que é. Ainda sobre os Riggins, fiquei imensamente feliz que todos os treinadores dos Lions foram para os Panthers, principalmente Billy, que merecia muito esse lugar. Mindy me pegou desprevenida e me vez chorar muito na cena em que se despede de Becky. Ela virou mãe, irmã e melhor amiga daquela garota, e reforçou que dizer adeus, mesmo que temporariamente, é ruim demais.

Guilherme: Essa cena da Mindy foi espetacular, ainda mais levando em conta tudo o que a gente comentou sobre ela e o Billy no decorrer da temporada. A gente conhece os dois desde o começo da série (e, se não me engano, o BIlly é um dos primeiros personagens a aparecer no piloto), e a chance que foi dado aos dois de crescer naquele universo deu a esse quinto ano um ar tão fresco quanto o da nova leva de personagens da quarta temporada. Que, por sinal, fez uma transição fantástica com o elenco antigo. O começo ano passado foi devagar — mas isso é normal, é difícil se adaptar a personagens novos quando se tinha um grupo tão forte antes. Mas eles foram evoluindo com o tempo, cada um no seu próprio ritmo — e o principal, sem querer emular a galera que eles estavam substituindo. Isso acontece direto em uma cacetada de séries. Quando sai alguém, colocam outro com características parecidas — o que quase nunca funciona. Friday Night Lights sempre soube que Vince, Luke, Jess e Becky eram diferentes de Matt, Jason, Smash, Lyla e Tyra, e isso foi essencial pra que eu me importasse tanto com o casamento de Matt e Julie quanto com a transição de Vince pros Panthers, por exemplo.

Caio: Concordo plenamente. Billy e Mindy cresceram e não decepcionaram. Mostraram que seus atores tinham potencial e que com o bom roteiro recebido, se tornaram tão importantes quanto ao elenco regular. A aparição dos novos personagens foi mesmo estranha no começo, mas a evolução foi tão bem feita que eu arrisco dizer Vince foi o verdadeiro homem transformado por Coach, e não o Matt, apesar de toda a trajetória que os dois tiveram. A série não fez com que nos importássemos só com os adolescentes, mas com sua família. A mãe de Vince que o diga. Sofrida e pra lá de simpática, torcemos por sua reabilitação e choramos quando sofreu na mão do Ornette, que, com um ponto a mais para a série, mostrou que nem tudo tem jeito, que nem sempre existem finais felizes. Ele foi ao jogo do filho e provavelmente acompanhará a vida de Vince para sempre, mas não deixará de ser o cara mau caráter que é, pois não sabe, nem consegue viver outra vida. Gostei que não mostraram exatamente se os Lions ganharam o jogo no último passe. Bastou ver o anel no dedo de Vince para sabermos que a vitória tão merecida foi conquistada. E que jogo!! Tomadas de cenas excelentes para uma série que já é craque nisso. Cada um dos olhares acompanhando a bola que cairia no lugar certo. E os Dillon Panthers, mesmo sendo os Panthers, continuaram a ter o espírito dos Lions. Vince, Tinker, Buddy Jr., os treinadores…e claro, Buddy Garrity com seu golf cart contornando o campo, porque Buddy sempre vai ser Buddy e isso que mais aprecio no personagem.

Guilherme: O jogo foi fantástico. A câmera lenta prolongava todos os passes de um último jogo que precisava desse impacto emocional. Era a última vez que a gente iria ver em prática o esporte que foi o pontapé inicial pra tudo o que aconteceu em Friday Night Lights. Os Lions ganharam de virada, no último segundo, como na maioria das vezes… Mas quem se importa? O placar era um detalhe, a celebração era ao futebol. E é por isso que o passe de ouro não cai na mão de Luke, Hastings ou seja lá quem tenha marcado o touchdown da vitória arremessado por Vince. A bola cai nas mãos de um novo jogador, em um novo estado, em um novo colégio. A prova de que o jogo em si é mais importante do que qualquer resultado é a forma como o Coach chega pro seu QB1 e solta o absurdamente lindo “You may never know how proud I am of you.” Não importa quantos jogos os Lions já venceram ou já perderam. Independente disso, Vince Howard é uma pessoa renovada, que superou o INFERNO dentro de casa, superou uma crise egocêntrica gigantesca, e virou o líder talentoso e humilde que Eric buscava em seu time.

Caio: Ao seu lado Vince teve sempre a fantástica Jess. E mesmo eles não terminando juntos pela mudança dela para Dallas, a garota conquistou o que mais queria. Era só ver as expressões faciais que Jurnee Smollett fazia durante os jogos, ainda mais nesse último. Ela ama aquilo, ela quer aquilo. É confiante e destinada. Jess nunca irá cair por pouco, e se cair, levantará sozinha. Ela como nova ajudante do time de Dallas não poderia ter sido melhor. Ela precisava dessa utilidade, mais do que ser apenas a grande mulher do lado de Vince, mais ou menos a mesma coisa de Coach e Tami. Por isso digo que não fico triste mesmo que as vidas de Jess e Vince tenham tomado rumos diferentes. Ambos estão fazendo o que amam. Enquanto isso, outros esperam ansiosamente a volta do verdadeiro amor, como foi o final de Luke e Becky. Após a divertida e bela cena em que Luke vai atrás de Becky na casa dela e a mãe da garota comenta sobre usar camisinha dessa vez, sabia que nada mais os separaria. Mesmo sendo triste o olhar desamparado dela dizendo adeus enquanto Luke vai para o exército, não é definitivo. Ele volta…sempre voltará.

Guilherme: O que eu mais curti na Jess conseguindo a vaga na equipe de treinadores em Dallas foi o uniforme preto. KICKING. ASS. Do jeito que ela merecia. Quanto ao Luke, o exército foi inesperado, mas não exatamente num bom sentido. Também não no mau. Acho interessante a abordagem porque mostra como às vezes plano nenhum adianta, os rumos simplesmente nos pegam de surpresa, mas ao mesmo tempo acho que eu nunca me importei tanto com o Luke a ponto do alistamento ter me surpreendido ou mexido comigo (Apesar de que seria triste imaginar um desfecho parecido com o do episódio mais pesado de FNL. Precisa dizer qual?). Mas chega a ser injusto falar qualquer palavrinha negativa diante desse episódio. Quando a quinta temporada começou, eu não levei tanta fé que a reta final me emocionaria do jeito que me emocionou — mais ainda do que na primeira e na terceira temporadas. Friday Night Lights vai deixar um buraco enorme na TV atual americana, porque é difícil DEMAIS encontrar qualquer produção com o tanto de honestidade que ela carrega.

Uma série que soube usar o tom documental sem deixar que o estilo por si só chame mais atenção que a história. Uma série com uma das minhas trilhas sonoras favoritas de todos os tempos (e eu sou eternamente grato por FNL ter me apresentado Explosions In The Sky). Uma série com um dos elencos mais talentosos e carismáticos da TV — em ambas as fases. Uma série… Aliás, uma não. Friday Night Lights foi o que duas, três, quatro, dez séries não conseguiram ser — e que vai deixar esse marmanjo aqui vergonhosamente em prantos toda vez que reassistir a esse series finale. Ainda tá cedo demais pra falar algo do tipo, mas quer saber? Tô nem aí: Friday Night Lights vai sempre ser um marco. Always.

Caio: Honestidade é o que define a série. Realismo em 99% de suas tramas nos levaram para Dillon e nos fizeram crescer com aqueles personagens. Para nós fica a grata lembrança de ter acompanhado essa história e a sincera felicidade em poder ver tudo de novo. Para mim, assim como sei que falo pelo Gui, fica o agradecimento por quem acompanhou as reviews, e da decisão de fazê-las em conjunto, do que não me arrependo de forma alguma. A gente nunca sabe os caminhos que nossas vidas tomarão, apesar dos planos, como o Gui muito bem colocou, e com o que devemos gastar nosso tempo. Mas sei que daqui há muitos anos, quando eu e vocês olharmos para trás e lembrarmos de como Friday Night Lights tocou nossos corações, tudo terá valido a pena.


Caio Mello

São Bento do Sul – SC

Série Favorita: Lost

Não assiste de jeito nenhum: Séries policiais

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