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Mad Men 4×01 – Public Relations

Por: em 29 de julho de 2010

Mad Men 4×01 – Public Relations

Por: em

Mad Men Don Draper

Nas três primeiras temporadas de Mad Men, Don Draper era um personagem misterioso, reservado. Ninguém sabia nada sobre ele. Pouco a pouco esse estigma foi caindo à medida em que a gente descobria mais sobre seu passado, seus sofrimentos de infância… O Dick Whitman por trás de tudo. Mas não foi só a gente que descobriu esses segredos. Alguns personagens-chave passaram a conhecer a verdadeira persona de Don Draper, e quando finalmente chegou a vez de Betty ficar à par disso tudo, era porquê tava na hora do jogo mudar. E mudou MUITO. A essência da série continua intacta, mas todo o universo ao redor dela sofreu uma cacetada de renovações. No post recapitulando a terceira temporada, eu falei que Don agora era muito mais do que a máscara de um passado sofrido. Que ele finalmente era dono de sua própria vida. Public Relations quase nos mostra o contrário disso — um Don ainda mais perdido. Mas a reviravolta no final do episódio com ele tomando as rédeas da empresa e fazendo jus ao nome que agora carrega na porta me fez pular da cadeira de empolgação.

Mad Men is freaking back.

Pouco menos de um ano se passou entre o final da temporada passada e o começo dessa, mas já foi tempo suficiente pra Sterling Cooper Draper Pryce se estabelecer no mercado, principalmente depois do sucesso da propaganda que Don criou pra Glo-Coat. Mesmo assim, os negócios da agência não vão lá tão bem. A Sugarberry tava quase caindo fora, e Ho-Ho desistiu de vez de seu negócio quando Don não mencionou nada sobre Jai-Alai na entrevista do começo do episódio — mesmo que Harry tenha conseguindo encontrar na ABC um espaço pro programa bizarro que o cara queria montar. Só não mais bizarro que o bronzeado do próprio Harry depois de sua viagem pra Los Angeles. Sério, a testa dele parecia que pegava fogo de tão vermelha. Não entendi o porquê daquilo.

O que eu entendi — mas só por causa do Google — foi o teatro de Peggy com o novo personagem, Joey, declamando Jooohhhhnnnn e Maaaarrrrsha um ao outro. Isso faz parte de uma paródia de Stan Freberg de 1951, que estourou nas rádios na época em que foi lançada. Stan Freberg é praticamente o pai da comédia em campanhas publicitárias, e adequadamente, foi fazendo rir que Peggy executou a sua ideia pra aumentar as vendas da Sugarberry. Pena que não intencionalmente. É engraçado ver a ideia das duas “atrizes” (ênfase nas aspas) na briga por um peru sendo realmente levada a sério numa agência de publicidade. Pela reação de Don, porém, até em 1964 esse tipo de estratégia não era vista com muitos bons olhos — mesmo que, no final das contas, o resultado até tenha se mostrado efetivo.

Mad Men Peggy Joey

Fora da agência, o dia-a-dia de Don também parecia que ia dar uma reviravolta — pelo menos na teoria. Já na prática… Nem tanto. A solidão talvez seja um pouco maior com um apartamento só seu, mas as dinâmicas são as mesmas: uma empregada tomando conta da casa; os filhos visitam mas ficam em frente à televisão; o relacionamento com outras mulheres… A diferença é que, nesse último ponto, agora não é mais preciso manter segredo. Foi assim com o encontro marcado por Roger com a amiga de Jane. Apesar das aparências, porém, dá pra enxergar o jantar entre os dois como algo além de um solteirão procurando uma garota pra ir pra cama. Se fosse só pra isso, Don já teria sua garota de programa.

Bethany (interpretada por Anna Camp, vista recentemente em Glee e True Blood) é quase que o oposto de Don. Enquanto ela trabalha como atriz figurante, que espera ansiosamente o dia de ser o centro das atenções, Don simplesmente É o centro das atenções, mas prefere não assumir a responsabilidade. Prefere ficar na defensiva. O surpreendente, porém, é que se os dois de fato se reencontrarem depois do Ano Novo como combinaram, o contraste já vai ter se transformado numa semelhança gritante. A explosão de Don com os clientes da propaganda do biquíni e a nova entrevista pro Wall Street Journal representam justamente o Don renovado que tanto me empolgou: ele reconhece que é o centro das atenções, mas finalmente aproveita a oportunidade, liga o foda-se, e faz tudo do jeito que quer.

Quem iria amar ter a mesma oportunidade é a Betty. Talvez o que ela mais queira seja abandonar tudo e todos e viver tranquilamente com Henry Francis, mas a sombra do Don e dos três filhos pra criar ainda a mantém presa numa posição não muito menos desconfortável do que a do casamento. Sally tá dando cada vez mais trabalho (e Kiernan Shipka tá gigante!), já que não aceita a separação, e Don começou a seguir os conselhos do advogado com relação à posse da casa. E a pior consequência desses problemas enfrentados por Betty é que, eventualmente, eles também acabam afetando Henry. Quando os dois tão em casa, com as crianças debaixo do teto, Henry simplesmente ignora Betty na cama… Mas assim que Don busca os filhos e deixa o casal em paz, Henry já pega fogo antes de sair da garagem. Além disso, a relação dos dois tá fadada ao fracasso não só pelo fantasma de Don ainda tão presente na vida de Betty, mas até porque nem a família de Francis apoia o casal.

Mad Men Betty Henry

Public Relations funcionou tão bem porque uniu da maneira mais perfeita possível a vida pessoal de Don — o marco principal da série — com toda a situação dos negócios da Sterling Cooper Draper Pryce — o cliffhanger principal deixado na season finale. Com a nova dinâmica de trabalho estabelecida (e agora levada a um novo patamar com o pulso firme de Don), a quarta temporada tem espaço pra nos surpreender ainda mais no decorrer das próximas semanas. Mad Men não é exatamente uma daquelas séries que te deixam morrendo de ansiedade pelo próximo episódio, mas sinceramente? Mal posso esperar.

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P.S.: Roger Sterling, mais uma vez, com as falas mais engraçadas do episódio. É maldoso, mas foi impossível segurar o riso dele zoando o jornalista perneta. “Who is he to criticize anybody?”

P.S. 2: Pouco de Joan, mas foi bom demais ver a personagem de volta fazendo o que ela sabe melhor. O papel dela não é só o de organizar tudo na agência. Ela é a responsável por sempre falar as coisas certas nas horas certas pra todo mundo. Não tem como não amar.

P.S. 3: O visual da galera tá começando a ficar mais moderno, e é legal notar como isso chega bem mais rápido no setor de criação. Nunca em Mad Men a gente viu um personagem que se vestisse igual ao Joey. Pelo menos não no trabalho.

P.S. 4: Carla não foi demitida! Mas nem chegou a aparecer, só foi mencionada. E talvez apareça menos ainda, já que agora Don tem uma empregada latina pra dividir as atenções.

P.S. 5: Sterling Cooper Draper Pryce é um nome grande demais. A partir de agora: SCDP, certo?

P.S. 6: Tava com saudades de escrever reviews! 🙂


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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