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Mad Men 4×03 – The Good News

Por: em 12 de agosto de 2010

Mad Men 4×03 – The Good News

Por: em

Minha rotina pra escrevar as reviews dessa temporada de Mad Men anda sendo a seguinte: vejo o episódio já na madrugada de domingo, revejo tudo na madrugada de quarta, e finalmente escrevo e publico a review na manhã de quinta. Acontece que a primeira vez que eu assisti a The Good News foi tão estranha que eu quase preferi pular essa segunda parte. Sorte que, no último segundo, mudei de ideia.

Mad Men Don Draper

The Good News não foi um dos meus episódios favoritos de Mad Men. Além de algumas outras coisas que eu vou discutir mais pra baixo, a viagem de Don pra California soou MUITO estranha. O que era novidade na segunda temporada quando Don encontrou a verdadeira Mrs. Draper, dessa vez deu lugar a cenas desconfortáveis que pareciam não se encaixar de jeito nenhum com o resto do episódio. Assistindo pela segunda vez, porém, fiquei com uma pulga gigante atrás da orelha imaginando como essa falta de coesão talvez tenha sido uma armadilha proposital e efetiva. Isso não elimina de jeito algum o fato de eu preferir infinitamente que essas cenas californianas dessem lugar a personagens que ficaram completamente ausentes no episódio, como Peggy, Pete e Roger, mas é empolgante a tarefa de tentar encontrar algum sentido em meio a tudo que a viagem de Don rendeu.

Mad Men se transforma completamente quando Don vai pras bandas de lá. A trilha sonora muda, as cores mudam, tudo fica mais vivo. Afinal, é o lugar onde Don pode ser Dick e não existe julgamento por isso. Só que agora que a personalidade verdadeira de Don tá tão presente até em Nova York, a fuga pro Oeste já não funciona tanto. Quando ele dá em cima de Stephanie, o que o cara tá mostrando não é a aquela mesma faceta de garanhão de sempre, mas de um homem que não comanda o jogo como antes. Que tá envelhecendo e ficando pra trás. E pior, quando ele descobre sobre o câncer de Anna, é decretado de vez que a Califórnia como válvula de escape não dura pra sempre. De um jeito ou de outro, ela se desmorona aos poucos… Na volta pra casa, já no avião, a aeromoça acorda o Don e a edição sobreposta faz com que toda a viagem pareça só um sonho. Essa até podia ser a intenção de Don, mas, no final das contas, tudo aquilo foi muito mais uma pesadelo.

E mesmo depois do pesadelo, o que ele encontra na ‘vida real’ é ainda mais triste. Na véspera de ano novo, a melhor companhia de Don é a de uma prostituta, a mulher que mais o conhece nessa nova vida de solteiro e que mais tá acostumada com o seu novo apartamento — como nota a estrela do episódio, o absolutamente genial Lane Pryce.

Mad Men Lane Pryce

Eu não canso de falar que o Roger é o personagem que mais me faz rir em Mad Men, mas eu nunca soltei risada tão alta quanto nas cenas do Pryce bêbado nesse episódio. Desde que foi apresentado à série na temporada passada, Pryce é o workaholic odiado e excluído pelos funcionários da agência, porque é dele a tarefa ingrata de ficar em cima das despesas, cobrar das pessoas o trabalho que o dinheiro da empresa paga. Só que dessa vez a gente pôde ver que o vício em trabalho do britânico vai um pouco além de querer manter os negócios da SCDP em dia. Ele também sofre na vida pessoal e se afunda nas papeladas do escritório pra tentar esquecer um pouco dos problemas que vive com a mulher. Chega a ser engraçado o cara indo pra cima do Don atrás de conselhos pra relação.

Entretanto, o mais engraçado é que mesmo preferindo ficar na defensiva e não aconselhar ninguém, Don dá o melhor conselho da noite mesmo sem querer. “Is that what you want? Or is that what people expect out of you?” Don na verdade só repetiu o que a empresária de pesquisa de mercado o falou no episódio anterior, mas sua relevância, não só no caso de Pryce, como no universo da série inteira, é interessante pra caramba. Os personagens de Mad Men — aliás, não só os personagens, nós também — estão sempre correndo atrás do melhor pra si mesmos, mas toda hora esbarram em obstáculos que têm muito mais a ver com a imagem que tentam passar do que com aquilo que buscam de verdade.

É algo que até mesmo a Joan tem que enfrentar. Atrás da personalidade forte que a personagem carrega, tem uma mulher sofrendo pra conseguir montar uma família. A cena de Joan desabando no ombro no marido é de rachar o coração porque quebra um pouco das expectativas que a sua imagem sempre tão centrada nos passa. Eu só não fui tão fã desse arco durante o episódio porque acabou soando um pouco redundante com tudo que a gente já viu no decorrer da 3ª temporada. Com a exceção da revelação dos abortos, nenhuma das dificuldades que Joan vive com o marido é novidade.

Mad Men Joan Holloway

Apesar de eu fechar a cara com a Califórnia de The Good News, depois que Don voltou da viagem, minhas expectativas foram atentidas com as cenas protagonizadas pelo trabalho cada vez mais fantástico de Jared Harris. Foi divertida (e trágica) a demissão da secretária de Pryce depois que ela se enrolou com a entrega das rosas, mas nada supera as cenas dele no cinema assistindo Godzilla e depois, no jantar, brincando de cowboy com o pedaço de bife. Coisa de gênio. “It’s been a magnificent year” diz um Pryce ainda sóbrio em determinado momento do episódio. A gente só passou 3 semanas em 1964 pra saber se a afirmação é 100% verdadeira, mas tô torcendo pra que, no final da temporada, a gente possa dizer o mesmo desse próximo ano que a série começará a retratar.

Gentlemen, shall we begin 1965?

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P.S.: Três episódios, três feriados. Thanksgiving, Natal e Ano Novo. Será que a tradição se mantém semana que vem?

P.S. 2: Engraçado ver Anna e Don discutindo sobre OVNIs… As cenas na California foram quase isso.

P.S. 3: Eu não falei no meio da review, mas odiei a forma que eles usaram o câncer pra causar impacto na relação da Anna com o Don. É um truque TÃO manjado nas séries, que foi um pouco decepcionante vê-lo em Mad Men de maneira tão convencional.

P.S. 4: Stand-up comedy é mais velho do que eu imaginava.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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