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Mad Men 4×04 – The Rejected

Por: em 20 de agosto de 2010

Mad Men 4×04 – The Rejected

Por: em

Mad Men

Eu não sei até que ponto o meu envolvimento com essa temporada de Mad Men influencia no quanto eu tô gostando dela. Eu gostei muito de todos os episódios da 3ª temporada no ano passado, mas dessa vez eu ando tão mais empolgado em assistir cada detalhe de cada episódio com tanto cuidado, que eu fico um pouco na dúvida se essa 4ª temporada tá realmente boa igual eu imagino, ou se é só a minha proximidade maior que me deixa cada vez mais apaixonado pela série. De qualquer jeito, The Rejected é concorrente forte pra entrar na minha lista de episódios favoritos de Mad Men porque poucas vezes eu lembro da série ter brincado com tantas histórias diferentes ao mesmo tempo sem fazê-las parecerem triviais. Pelo contrário, praticamente tudo o que aconteceu em The Rejected traz desenvolvimentos importantes pra caramba nas tramas de diversos personagens. É surpreendente que na estreia de John Slattery na direção da série (direção de qualquer coisa, na verdade), Mad Men apresente um episódio tão gostoso de se assistir.

Depois do episódio de Natal, o relacionamento de Don com Allison ficou escondido sob uma máscara que, pra Don, é muito conveniente, mas pra Allison, se prova cada vez mais difícil de sustentar. Quando a Dr. Miller chama as garotas pra reunião de pesquisa, o cenário montado é perfeito pra mostrar isso. Don tá ali atrás do vidro, assistindo a tudo, e por mais que ele se sinta desconfortável ao ver a Allison desabando depois que uma de suas colegas de trabalho fala mal do namorado, ainda existe uma barreira entre os dois. É quase como se o Don estivesse assistindo a tudo pela televisão. Ele pode até se sentir mal pelo que vê, mas o vidro evidencia o distanciamento que existe ali. Por bem ou por mal, a choradeira de Allison é algo distante de suas preocupações. Não é nem que ele não QUEIRA atravessar aquela barreira — ele até tenta ajudar com a carta de recomendação (pelo menos até sugerir que a Allison mesma escrevesse) — a questão é que ele não pode e nem conseguiria atravessar as distâncias gigantescas que existem entre os dois. E dentre todas essas distâncias (conflito de gerações, ética profissional, autopreservação…), a que fala mais alto é exatamente a mais simples: Allison é uma boa pessoa. Don, não.

Isso anda se tornando presente não só pra gente, como pros próprios personagens. Quando Allison vai embora da agência, quem ocupa o seu lugar é a secretária velha, que fala alto, que não escuta direito, e principalmente, que nunca vai cair no charme embrigado de Don, nem dormir com ele na primeira oportunidade que surgir (OU VAI?). Já no final do episódio, discutindo os resultados da pesquisa com as garotas, Don insiste com a Dr. Miller: “You can’t tell how people are going to behave based on how they have behaved.” O irônico é que Don se tornou patético e previsível justamente porque todo mundo já percebeu como seu comportamento funciona. A frase dele é válida pra caramba no universo da publicidade, e provavelmente foi a jogada certa recusar a ideia do casamento como briefing pra campanha do creme. O problema é que, apesar de Don ter um olhar eficaz pra observar o mundo ao seu redor, o que ele não sabe é se encaixar nessa nova geração que surge nos anos 60. A vida dele tá quase fadada àquela rotina enfadonha que a última cena mostrou tão bem ao concluir o episódio. Don tá muito mais perto da velhice dos seus vizinhos do que da juventude contagiante da Peggy.

Mad Men Peggy Olson

Que, sem dúvidas, foi a personagem que eu mais gostei de ver em cena nessa semana. Ela ainda tem medo de ficar sozinha e sonha com um casamento (como foi mostrado na cena dela experimentando a aliança da Dr. Miller), mas a nova amizade com a Joyce (Zosia Mamet, vista recentemente em United States of Tara) mostrou uma Peggy tão mais leve, tão mais confiante de sua posição… A Elisabeth Moss vem trazendo uma alegria pra personagem que se encaixa em The Rejected como uma luva, porque é ela a responsável em evidenciar não só a diferença de gerações em Mad Men, como a diferença de postura. Ela não é muito mais velha que a Allison, mas tem uma cabeça tão diferente da secretária que coloca as duas personagens em patamares completamente diferentes. Peggy não é só a mulher moderna. Ela é a modernidade. É ela que vai na festa e fuma maconha (não pela primeira vez, claro: “My name is Peggy Olson and I’d like to smoke some marijuana” é um clássico da 3ª temporada), presencia o lesbianismo da amiga, se encanta com o experimentalismo da videoarte e se interessa pelo assassinato de Malcolm X — que, por sinal, coloca esse episódio dois meses após o anterior, já que a morte do ativista americano aconteceu no final de fevereiro de 1965.

E o mais legal é que o grande desenvolvimento no episódio envolve muito menos tempo de tela pra Elisabeth Moss, mas mesmo assim levanta questões que vêm desde a primeira temporada. A gravidez de Trudy e a felicidade de Pete mostram um avanço TÃO grande na história dele com a Peggy. Enquanto ela não é mais a secretária que se encanta e vai pra cama pro sofá com qualquer funcionário da agência (e engravida!), Pete também já não é mais o cara mimado completamente inseguro de sua posição não só no casamento, como no trabalho. O pulso firme dele pra conseguir transformar a conta da Clearasil em uma conta milionária pra SCDP foi brilhante. Ele não tá nem aí se o sogro dele o chama de filho da puta. Ele conseguiu o melhor que podia pra agência e ainda tem um filho a caminho. Eu acredito muito na sinceridade da cena em que Peggy parabeniza o novo papai da série. Os dois talvez ainda não sejam as pessoas perfeitas que procuram ser (algum de nós algum dia chega lá?), mas com certeza eles estão no caminho certo, cada vez mais confortáveis da posição em que ocupam em suas respectivas vidas. De um lado, Peggy e seus novos amigos. Do outro, Pete e seus novos clientes.

Mad Men Pete Campbell

The Rejected reuniu todas as qualidades de Mad Men e colocou tudo pra funcionar em uma hora praticamente perfeita. Foi um dos episódios mais dinâmicos da série porque deu espaços preciosos pra três de seus personagens principais sem medo de supervalorizar ou desprezar qualquer um deles. Pete, Peggy e Don formaram um conjunto MUITO interessante, que soube expressar bem demais o conflito de gerações dos anos 60. Quando eu chegar nos meus 80 e reclamar que a minha esposa ignorou as pêras que eu tanto pedi, me lembrem de rever The Rejected e lembrar que em 1965 existia um cara muito mais novo e muito mais rejeitado do que eu.

Don Draper, sua situação não tá boa não, cara.

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P.S.: John Slattery agradou Matthew Weiner. O cara que iria dirigir o penúltimo episódio dessa temporada arrumou outro trabalho e deixou o cargo em aberto — agora ocupado pelo intérprete de Roger. Responsabilidade grande, já que os penúltimos episódios de Mad Men têm o costume de dar espaço pra grandes acontecimentos. (1ª temporada: disputa Nixon Vs. Kennedy; 2ª temporada: crise dos mísseis de Cuba; 3ª temporada: assassinato de Kennedy).

P.S. 2: Por sinal, uma das cenas mais legais que Slattery dirigiu foi a espiadela da Peggy depois que a Allison se revoltou com Don. Ri muito da cabeça da Peggy aparecendo do nada ali no cantinho, sem que fosse preciso nenhum movimento de câmera.

P.S. 3: Tô numa maratona de Community, e não tenho como terminar esse post sem dedicar uma parte à Alison Brie. Primeiro porque não tem como não gostar dela. Segundo porque, como atriz, ela realmente manda bem pra caramba. Aliás, é legal notar como Trudy e Pete cada vez funcionam melhor como um casal, fazendo um contraste gigante com o episódio anterior nas cenas de Joan com o marido.

P.S. 4: Segundo episódio seguido sem nenhuma participação da Betty. Pior, sem nenhuma participação da Sally.

P.S. 5: Cooper apareceu só uma vez no episódio, praticamente como figurante. Mas também serviu pra sustentar o argumento do conflito de gerações: era ele o plano de fundo na cena em que a Joyce aparece na SCDP pra chamar a Peggy pra festa.

P.S. 6: Pete batendo com a cabeça na parede igual a Peggy batendo com a cabeça na mesa. Não tem nada de mais, mas é legal descobrir esse tipo de detalhe num episódio que é basicamente sobre eles.

P.S. 7: Quase esqueci: Ken de volta! Até gostei da participação dele, mas nunca fui muito com a cara do personagem. Foi bom rever, mas fico satisfeito se ele continuar distante.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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