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Mad Men 4×08 – The Summer Man

Por: em 20 de setembro de 2010

Mad Men 4×08 – The Summer Man

Por: em

Mad Men Don Draper

The Summer Man tinha uma tarefa difícil: dar continuidade a essa excelente temporada de Mad Men depois de seu melhor episódio, The Suitcase. O que ele até conseguiu, mas sem o mesmo nível da semana passada. Na verdade, quando eu assisti pela primeira vez, achei BEM abaixo do nível da semana passada. Mas como tudo na série, a segunda vez foi muito mais interessante de se engolir, e apesar de eu ainda considerar o episódio o mais fraco da temporada, The Summer Man tem assunto de sobra pra se comentar.

Acho que um dos maiores problemas do episódio foram alguns recursos usados pra expressar o que se passa na cabeça de Don — que até são interessantes na teoria, mas na prática não caíram muito bem. Foi direto demais, enquanto no restante da série as tramas geralmente se desenvolvem de uma maneira mais sutil. O voice-over, por exemplo. Não é novidade que mais e mais a gente vem conhecendo todas as facetas de Don — e depois do episódio da semana passada, é quase seguro dizer que a gente finalmente entende o que se passa de fato na cabeça dele. Mas quando a narração explicita isso, nos dizendo exatamente o que o personagem tá pensando, acaba soando um pouco estranho no universo de Mad Men. Não só a forma de a história ser contada é diferente, mas o recurso em si é meio incompatível com o que a gente já viu. É diferente de quando a gente vê o fantasma da Anna em The Suitcase, por exemplo — aquilo não é o tipo de coisa que a série faz com muita frequência, mas quando acontece, não parece forçado.

E antes fosse só o voice-over, mas a cena no escritório de Don, quando ele se desconecta de tudo e passa só a se concentrar no barulho das bebidas, pra mim também não se encaixou muito bem. Tematicamente, ela é perfeita, afinal, muitas das causas pros sofrimentos e frustrações do Don vêm do seu quase-alcoolismo, mas se na hora em que a ideia é executada ela causa essa estranheza, alguma coisa tá errada. É diferente do jeito que a série mostra o vício da Betty. Ela não tem metade do tempo de tela que Don tem, mas assim como ele sempre apela pras bebidas na hora de encarar seus problemas, ela sempre apela pro cigarro. E isso fica claro pra caramba na hora em que ela encontra Don no restaurante e vai correndo pro banheiro fumar. Não foi preciso nenhum recurso além das tomadas (sempre lindíssimas) que Mad Men usa. Todo o detalhamento de todos os episódios anteriores são suficientes pra que a gente entenda perfeitamente tudo o que se passa.

Como na história da Joan, que talvez tenha sido o ponto alto do episódio. Dá uma pena gigante dela, porque a personagem tá cada vez mais sozinha. Ela não tem ninguém. Em casa, o marido tá indo pro treinamento que eventualmente o levará pro Vietnã (e se for pra fazer aposta, acho que o cara não termina essa temporada vivo), e no ambiente de trabalho, gente babaca tipo o Joey não a deixa sossegada. Na verdade, não só o Joey… Mas alguém precisava ganhar o destaque necessário pra que a Peggy provasse mais uma vez que não tá nesse jogo de brincadeira. Foi lindo ver o cara sendo demitido, mas também foi compreensível (e até mesmo um pouco frustrante) descobrir logo depois como a Joan tinha razão na conversa com a Peggy no elevador. Peggy pode ter tentado ajudar a Joan, mas no fundo no fundo, o gostinho de soltar um ‘You’re fired’ provavelmente falou mais alto do que qualquer instinto altruísta que ela tinha.

Mad Men Don Draper

O mais irritante no episódio, apesar das minhas reclamações lá no começo, foram as cenas com Henry. Aos poucos, o que ele faz é justamente colocar a Betty na mesma posição em que ela sempre esteve no casamento com o Don. Além disso, o jeitão de santinho me dá raiva porque é a garantia de que o personagem nunca vai ter o colhão de sair de sua zona de conforto. O máximo que ele faz é dar aquela batidinha ridícula nas caixas de Don — e, por sinal, é de uma cara-de-pau gigantesca pedir que o cara tire as caixas da garagem, já que, no final das contas, ele que é o intruso ali. Não sei se eu acabei perdendo algum detalhe em algum episódio, mas se nada mudou desde a season premiere, Don ainda é o proprietário da casa. Se Henry quer arrumar espaço pra guardar seu barco novo, que arrume na sua própria casa. Canalha.

Quando a Betty fala no final do episódio que eles dois têm tudo, eu não compro por um segundo que ela realmente acredita nisso. Enquanto ela se vê presa às mesmas regras, mesmas rotinas, mesmos sofrimentos, Don é o cara que agora tem liberdade pra encarar seus problemas de frente e resolvê-los. Eu entendo a raiva de Betty porque deve ser de uma frustração enorme ver o homem que ela expulsou de casa tendo a oportunidade de dar a volta por cima. “He doesn’t get to have both families”, diz ela. O problema é que ele tem SIM esse direito, e o ressentimento de Betty só se mostra tão presente porque… ela não tem. Sua ‘nova família’ não é exatamente nova.

Em todas as cenas mostrando Don nadando no começo do episódio, ele era o único na piscina nadando pro lado oposto. Ele é o cara diferente. Ele nada contra a maré. Mas as palavras que ele começou a escrever tão surtindo efeito. No final, ele nada lado a lado com outra pessoa, ele consegue aos poucos fazer parte do mundo que tanto o espancou. E é assim que ele também consegue aos poucos sentir uma conexão forte com Gene. Em determinado momento ele escreve no diário: “He was conceived in a moment of desperation and born into a mess”. Don também nasceu nesse mesmo ambiente. A ligação entre os dois é mais forte do que parecia, e fecha o episódio com um sentimento muito mais otimista do que no começo. Lá na primeira metade de The Summer Man a gente ouve os Rolling Stones cantando a música da vida do Don, afinal, he tries, and he tries, and he tries, but he can’t get no satisfaction. Isso até podia ser verdade…

Mas talvez esteja na hora de escolher outra banda.

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P.S.: Outra coisa que Don escreve em uma parte do episódio: “People tell you who you are, but we ignore it because we want them to be who we want them to be”. Foi exatamente assim que eu me senti em relação aos voice-overs. Don não precisa dizer quem ele é. O que a gente viu em todos os episódios é suficiente pra interpretarmos que tipo de pessoa a gente quer que ele seja.

P.S. 2: Muito legal acompanhar como de todos no escritório, Pete é o cara isolado que nunca participa das brincadeiras escrotas com a Joan (com ninguém, na verdade). Apesar do que ele faz com a Peggy nas primeiras temporadas, o amadurecimento do personagem de lá pra cá é demais.

P.S. 3: Gostei de ver a Francine de volta.

P.S. 4: Mil desculpas pelo atraso. Aliás, vi o 4×09 ainda há pouco e achei beeeem mais legal do que esse aqui. Mulheres de Mad Men em seu auge.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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