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Mad Men 4×10 – Hands And Knees

Por: em 5 de outubro de 2010

Mad Men 4×10 – Hands And Knees

Por: em

Mad Men Roger Sterling Lee Garner Jr

A tradução de Hands and Knees geralmente é um pouco mais pejorativa do que a expressão em inglês significa. Ficar de quatro praticamente nunca é visto como algo bom (e você, mente maldosa, já tá imaginando onde tá a exceção dessa regra). Mas tanto em inglês quanto em português, o tema desse episódio se encaixa perfeitamente com seu título. Hands and Knees foi um episódio sobre segredos, sobre a forma como cada um os mantém e, principalmente, sobre as consequências de se tê-los expostos. Em maior ou menor grau, todos esses segredos afetam diretamente na vida de cada personagem envolvido, e seja através da paranoia, ou seja através de uma crise de risos involuntária, a forma como cada um lida com a situação nunca traz a esperança de resultados positivos. Parando pra pensar em tudo o que eu já escrevi e a gente já comentou nesses episódios da quarta temporada, Mad Men tá se provando uma das séries mais pessimistas do mundo, mas é através de todas essas dificuldades que os personagens passam que o nosso envolvimento aumenta e a nossa relação com a série fica tão interessante de se cultivar.

A paranoia do Don nesse episódio — que provavelmente fez uma dobradinha perfeita com o episódio de Rubicon na noite de domingo na AMC — é envolvente porque levanta um outro aspecto do segredo que o personagem guarda desde a primeira temporada. Don tava tão bem se abrindo aos poucos durante a série — principalmente durante essa quarta temporada —, mas faltou considerar as implicações logísticas disso. Quando ele conta a verdade pra Faye, a coisa flui numa naturalidade enorme, mostrando como o peso daquele segredo tá longe de ser como um dia já foi. Mas além de qualquer questão sobre verdades, mentiras, identidades e falsidades, existe toda uma sociedade que não dá a mínima com o que o Don sente. As implicações filosóficas (na falta de uma palavra melhor) do que se passa na cabeça de Don são interessantes pra caramba de acompanhar e de se discutir, mas as implicações disso no mundo ao redor do personagem precisam ser mais pragmáticas e menos abstratas. Foi esse fator que Don acabou esquecendo nos últimos anos e o atinge em cheio no episódio, o derrubando como uma avalanche através daquele ataque nervoso.

E mais uma vez, Jon Hamm merece todo e qualquer tipo de elogio pela maneira sensacional que ele expressou o nervosismo e a ansiedade na pele de seu personagem. Não sei se é uma emmy-tape tão forte quanto The Suitcase, mas não importam as premiações. O cara tá mandando bem DEMAIS e não é preciso nenhuma estatueta pra provar isso. Da mesma forma que não era preciso nenhuma estatueta pra provar as habilidades criativas de Don na publicidade, mas mesmo assim o Clio foi uma obsessão sua. Don é um personagem MUITO ligado às aparências e na forma como as pessoas ao seu redor o observam, e mesmo que o segredo dele não seja mais um mistério pra algumas pessoas, ele ao menos se sente confortável com aquelas que já o conhecem de verdade. O FBI descobrindo a verdade sobre Dick Whitman significaria que o segredo seria exposto a todos de uma vez só, e apesar de toda a evolução do protagonista durante a série, ele ainda não tá preparado pra isso.

Assim como o Roger não tá preparado pra revelar o seu segredo, que provavelmente foi a maior bomba que o episódio soltou não só em cima de Sterling, como em cima da gente também. Eu tô muito, muito, muito curioso pra descobrir a forma como a série ira tratar do abandono da Lucky Strike e o buraco enorme que será deixado com a saída da conta multimilionária. A SCDP conseguiu crescer nos seus negócios durante a temporada, mas não o suficiente pra se dar ao luxo de perder o seu maior cliente — que já era o maior até na época da agência antiga. Além disso, a forma como Roger quer tentar reverter a situação sozinho mostra como ele sabe que a Lucky Strike era a sua única responsabilidade. Envolver o resto da empresa no problema seria assumir de vez o título de dispensável que já o colocam. Até no segredo de Joan o personagem é inútil, já que a questão da gravidez confirmou tudo o que a gente aprendeu sobre ela e Roger em Mad Men: enquanto ele toma um esporro certeiro do médico (que foi um pouco intrometido demais, mas pelo menos disse a verdade), a Joan toma as rédeas da situação com a calma e elegância de sempre, resolvendo o problema sozinha sem precisar em momento algum da ajuda de Roger.

Mad Men Pete Campbell

É completamente diferente da forma como Don precisa da ajuda de Pete pra guardar seu segredo. E o jeito como Pete controla a situação faz com que meu respeito por ele aumente ainda mais. No final da temporada passada eu fiquei com muita impressão de que o Don chamou o Pete pra SCDP muito mais pelas contas que ele carregava do que pelo talento e o compromisso dele com o trabalho. Lá, ele ainda parecia muito mais um garoto mimado que simplesmente ambicionava uma boa posição na carreira. Mas agora, surpreendentemente, Campbell é o nome entre os sócios que mais merecia estar na fachada da agência (talvez junto com o Pryce, pelo menos), e injustamente, é o único que não tá, e de sobra, ainda sofre com as decisões de Draper. Ele diz pra Trudy em determinado momento do episódio como as pessoas honestas são as únicas que enxergam e sofrem com o egoísmo de pessoas como o Don, e ele tá certíssimo nisso. Enquanto Don morre de medo de ser descoberto, é Pete que tem que tomar as dores pela perda da conta da North American Aviator. O mais legal, porém, é ver como Pete toma as dores de cabeça levantada, tendo coragem (e razão) ao encarar Don de frente, jogando na sua cara a covardia e a injustiça da situação.

Com a trama de Lane, o triste é ver como a injustiça vem de seu próprio pai, que solta aquela porrada com a bengala e o deixa no chão, pisando em sua mão, humilhando o próprio filho pra que ele volte pra Inglaterra e conserte uma vida que ele não quer consertar. Nos Estados Unidos, Lane encontrou a tranquilidade que ele não vinha conseguindo em seu casamento e é tocante acompanhar o carinho que ele sente por essa nova terra que ele aprendeu a amar. Ele não se importa que sua namorada seja negra e trabalhe como garçonete, vestida de coelhinha da Playboy. Ele se importa com seus sentimentos a respeito dela, e a sua sinceridade de certa forma ingênua e inocente aumentam ainda mais a pena de assistir a maneira pesada que seu pai o trata. O presente que Lane daria pro filho, o Mickey com os balões nas cores da América, ganha um ar muito triste quando é jogado num canto qualquer da agência, representando bem pra caramba os sentimentos do próprio Pryce durante o episódio.

No final, a cena da reunião de sócios é perfeita na hora de juntar todos os segredos de Hands and Knees em um único lugar. Pete carrengando os problemas de Don, assumindo o peso da conta perdida por algo que ele não tem culpa nenhuma; Roger despejando o seu próprio desespero em cima da “incapacidade” de Pete e tendo uma crise de risos pelo desastre completo quando chega a vez de Lane expressar as implicações de seu próprio segredo: ter que ficar semanas na Inglaterra a mando pelo pai. Na última cena do episódio, Megan entrega a Don os ingressos pro show dos Beatles que ele comprou pra Sally e comenta como tudo deu certo. Mas depois de tudo o que a gente acompanhou, chega a ser engraçado a inocência dela ao não saber que, na verdade, todo o resto deu errado. Os segredos ainda tão guardados, mas não é por isso que os personagens envolvidos em cada um deles estejam realmente satisfeitos com o peso que ainda precisa ser carregado.

Em Mad Men, Do You Want To Know A Secret? é uma pergunta muito mais forte do que a música do quarteto britânico faz parecer. Mas a ironia disso tudo é justamente o que faz os Beatles se encaixarem tão bem nos créditos finais de mais esse ótimo episódio.

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P.S.: Detalhes fazem a diferença, e Mad Men se prova espetacular nisso quando numa cena de cinco segundos, a gente vê uma tomada tão bonita quanto a da Joan no ônibus, voltando pra casa após o aborto. Não era preciso mais nada. Cinco segundos em silêncio só olhando pra Joan eram suficientes pra gente entender tudo o que se passava na cabeça dela.

P.S. 2: Golpe baixo reconquistar o carinho de Sally através de um ingresso pro show dos Beatles. Mas como é UM INGRESSO PRO SHOW DOS BEATLES, perdoo o Don por qualquer coisa que ele tenha feito durante a sua vida inteira. Sério.

P.S. 3: Seria tensa se não fosse muito engraçada a forma como Don e Betty começaram a fingir no telefone, como se a ligação tivesse sendo ouvida, interceptada, ou coisa do tipo. Paranoia sempre é empolgante de se assistir.

P.S. 4: Trudy tá uma bola. Mas uma bola linda. Demais.

P.S. 5: Esses textos tão ficando maiores do que o normal. Mas juro que a culpa não é minha. É de Mad Men.


Guilherme Peres

Designer

Rio de Janeiro - RJ

Série Favorita:

Não assiste de jeito nenhum:

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