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Mad Men – 6×04 To have and to hold

Por: em 26 de abril de 2013

Mad Men – 6×04 To have and to hold

Por: em

Do início ao fim desse episódio eu senti raiva de Don Draper. As vezes ele é charmoso e gostamos de acompanhar suas conquistas, mas quando se trata de mulheres, ou de como ele trata as mulheres, dá muita raiva ver tudo o que ele faz. Acho que a intensão dos escritores é realmente esta, nos incomodar com uma situação que era comum na década de 60, e que infelizmente ainda vemos por aí. Assim como o Don há 50 anos achava que o homem tem direito de se divertir, de trabalhar e fazer o que quiser e a mulher não, ainda vemos isso hoje em dia.

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Mas voltando à Mad Men, por um lado fiquei feliz de ver mais da Joan, que andou sumida nos últimos episódios, por outro acho que a história que veremos da ruiva daqui pra frente não será das mais agradáveis. Acho que em vários momentos a sua sociedade na agencia será questionada. Todos ainda veem Joan como uma super secretária, não como a gerente que é, mesmo que tenha muito tempo que ela não é secretaria de ninguém e mantem aquele lugar funcionando. Acho que foi a primeira vez que ouvi o tempo que ela trabalha lá: 15 anos. É muito tempo para uma mulher naquela época, ela começou muito cedo e foi muita confiança para desbravar o mundo. Não é a toa que ela é tão segura e gerencia tão bem aquele lugar.

E mesmo assim ainda vem os Cranes da vida para desmerece-la e desafiar sua autoridade e ninguém falar nada para defendê-la, ou dar a chance da própria se defender. Tudo bem que ela conseguiu exigir sua parte na sociedade de uma maneira não ortodoxa (não pelas vias legais, mas infelizmente acho que isso acontece muito), mas ela merece estar ali, os outros só não enxergam isso. Imaginem se a Joan decide deixar o trabalho, mudar de cidade, de vida, casar, o que for, mas que implique em sair da agência. Aquele lugar vai desmoronar sem ela para colocar tudo funcionando. E mesmo que contratem alguém para o trabalho, vai demorar um tempo para que a pessoa consiga fazer o que ela faz. Mas se o Mr. Crane for mandado embora, o que acontecerá?

Mas de certa forma mostra que não vemos muito de como as coisas são gerenciadas na SCDP, ou não são gerenciadas? Existe uma política para subir na carreira? Ou tudo vai da veneta dos acionistas naquela reunião com as portas fechadas mas à vista de todos que passam pelos corredores e morrem de medo dela? As vezes acho que essa mudança de cenário, a negligencia, a insatisfação vão levar à falência deles, e esse será o fim de Mad Men (que está próximo, a sétima será a última temporada). Não consigo imaginar um final feliz para essa série que não segue padrões Disney, ninguém “merece” a felicidade só por ter nascido, são todos como a gente, tem perdas e ganhos ao longo do caminho, só saber balancear.

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O que me fez pensar nisso com mais certeza dessa vez foi o plot da Dawn. Pela primeira vez temos um pouco mais da sua vida, um pouco mais do que saber que ela sofre preconceito por ser negra e mora longe. Pra mim ela era uma “cotista” dentro de Mad Men, mas que bom que contornaram isso e vão abordar um pouco mais o preconceito recebido por ela, partindo da coerção dos colegas. Espero mais uma crítica na série, já que os roteiristas sabem como ninguém nos deixar com raiva e sentindo mal pelo que somos. Sei que ela não é uma das personagens principais, mas mostrar a sua história não faz mal a ninguém. Até porque ela é tão isolada dos outros que a sua percepção da vida do escritório é diferente. Ou pelo menos mais sincera. É a Dawn que nos faz perceber que todos ali vivem com medo e choram pelos cantos. Aí olhamos para trás na série e vemos que todos são desvalorizados ali. Todos. Até o cheque que o Crane recebe e a conversa entre o Roger e o Cooper mostram isso, e a área da TV está crescendo muito, mas ninguém vê. Só o Don é gênio. E nem isso ele é mais.

Aposto que a Peggy vai ganhar a conta do Ketchup da Heinz, e se bobear a do feijão também. Tem tempo que a solução criativa da SCDP era dada por ela, Peggy era a muleta do Don, agora ele tá tropeçando e vai cair. Enquanto ele ainda era casado com Betty ele gerenciava melhor o seu trabalho e as mulheres. Agora parece que ele não consegue fazer isso direito e o trabalho está negligenciado. Sua criatividade não é genial mais – talvez geniosa. E foi triste vê-lo ficar ali atrás da porta escutando o trabalho da Peggy, que poderia ter sido deles. Mas de certa forma ele mereceu. Só a Peggy não mereceu perder um amigo.

E falando em amizades, tivemos um tanto quanto de amigos para pontuar o episódio que fez valer o título, to have and to hold. A amiga (de infância?) de Joan veio para escancarar o que é e o que poderia ter sido, mostrando como a vida das duas é diferente, tanto em conquistas quanto em desejos. E se as duas estavam prontas para festejar toda a noite, o casal Draper foi muito mais certinho e convencional. Pena que o Don não percebeu que dividir os desejos e ser sinceros um com o outro é o que faz o casal de “amigos” da Megan estar junto até hoje. Don poderia tentar vencer todo o preconceito e neurose que ele tem parar de mentir e tentar se divertir junto. Para alguém que gosta tanto de sexo e tem tantas amantes, ele é muito puritano.

E “é uma puta falta de sacanagem” o que ele fez com a Megan, diminuiu tanto a sua importância, a sua condição como mulher e esposa, quando a traição dele é que é o problema! Ele reclama do trabalho dela de tarde, mas de manha e de noite corre pra cama de outra. Chega em casa beija a esposa sem nenhum remorço, mas no dia que Megan tem uma cena importante e uma grande chance de progredir na carreira, ele tenta sabotar.

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Espero o dia que ela também irá abandoná-lo. E se possível armando barraco.

PS.: Adorei a trilha de espionagem quando Stan passa para a sala secreta e todos ficam se perguntando o que era o projeto K.


Camila

Mineira, designer, professora que gosta tanto de séries que as utiliza como material didático.

Belo Horizonte/MG

Série Favorita: Fringe

Não assiste de jeito nenhum: Supernatural

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