Aquele em que dizemos adeus

Pra quem não sabe, o Apaixonados por Séries existe há quase dez anos. Eu e Camila…

O que esperar de 2018

Antes de mais nada, um feliz ano novo para você. Que 2018 tenha um roteiro muito…

Skins – 7×01 e 7×02 Fire (Part 1 e Part 2)

Por: em 12 de julho de 2013

Skins – 7×01 e 7×02 Fire (Part 1 e Part 2)

Por: em

O tempo passa. Cruel e implacável. E todos somos reféns dele. Assistimos, impotentes ou não, a nossas vidas tomarem rumos diferentes ou não daquilo que sempre sonhamos.

6 anos, 3 gerações e diversos personagens icônicos depois, Skins deu o primeiro passo para encerrar sua jornada na televisão, com a realidade, crueldade, transparência e melancolia que já lhe são habituais e apostando nessa velha verdade universal: Ninguém resiste ao tempo. Desde a primeira cena, com as pessoas andando com guardas chuvas e a câmera nos levando, pouco a pouco, até Effy, foco de Fire, o primeiro de três episódios duplos que encerrarão o seriado, Skins estabelece sua força. A ideia de episódios “tributo” (segundo o Channel 4, a 7ª temporada será uma grande ode a tudo que Skins foi) é uma extensão do formato que a série segue desde sempre (fazendo episódios voltados para personagens e não para tramas) e é interessante por dar ao show a chance de sair de cena relembrando figuras marcantes e mostrando como a vida não foi boa para nenhum deles. É a vida adulta quebrando seus ossos, como dizia um dos pôsteres de divulgação.

Effy Skins Fire

Effy chamou a atenção desde quando era apenas a irmã de Tony, lá nos tempos da primeira geração. Ao assumir um papel central na segunda, ganhou ainda mais fãs, seja por seu jeito impulsivo, suas ações desmedidas, sua necessidade absurda de se sentir pertencente a um lugar e seu jeito curioso e até um pouco distorcido de mostrar que se importa. A Effy que vimos em Fire já superou (em partes, ao menos – falo disso mais embaixo) a morte de Freddie e procura uma maturidade e uma estabilidade financeira e emocional que, a pessoas do seu gênio, é complicada de se atingir.

O mais interessante é ver como o roteiro do episódio duplo começa mostrando uma Effy que, na casca, aparenta ser uma versão diferente e evoluída da garota que um dia conhecemos, mas vai, pouco a pouco, deixando cair todas as barreiras e máscaras que ela se colocou e revelando que, no fundo, o tempo passou, mas a essência de Effy ainda é (e sempre vai ser) a mesma. Mais madura? Talvez. Mais centrada? Quem sabe. Mas cometendo os mesmos erros e sendo exatamente a mesma garota problema que todos amaram (ou amaram odiar).

Sua relação com Naomi é um exemplo claro. Effy se importa com a amiga, de verdade, e isso fica claro a qualquer um que a olhe nos olhos. Mas seu jeito de se importar é diferente, seu jeito de mostrar que gosta é diferente e ela sofre por isso. Effy não é (nunca foi, na verdade) uma pedra. Ela tem sentimentos como qualquer outro, mas os guarda para si e, quando explode, nem ela própria se aguenta. Ela precisa de alguém ali para ela, de alguém que lhe dê suporte. Ela precisa se sentir amada . E aqui, como Naomi estava mergulhada em seus dramas, surgiu a figura de Dom para suprir tal necessidade.

É interessante ressaltar aqui a capacidade do roteiro em inserir um personagem novo e conseguir fazê-lo funcionar. Dom é construído em cima de uma personalidade suave, sem muito destaque, mas que consegue seu lugar ao sol por, naquele momento, retratar exatamente o que Effy precisa. Não apenas no sentido de Dom ser a “fonte” para que Effy ascenda profissionalmente (por mais que no futuro isso lhe custe caro). Mais do que uma escada nesse sentido, Dom representa o que um dia Freddie e Cook representaram – aquele que fará Effy se sentir desejada, amada e amparada. Mas, como todo mundo, um dia Dom se cansa. E não há reação mais humana e crível do que essa e Effy já está mais do que acostumada.

Effy e Jake Skins

Seu relacionamento com Jake e a maneira como ela reagiu ante a ‘traição’ reforçam o quanto Effy se acostumou a ser passada para trás pela vida. Diferente de Dominic, aqui fica claro que Effy desenvolve algum tipo de sentimento pelo chefe, mesmo que apenas físico. Vejo, aqui, muito da relação que Effy mantinha com Freddie (e talvez seja alusão forçada, mas até mesmo os traços do rosto e o modo de andar e falar de Jake lembram, de longe, o garoto). Não sabemos exatamente quanto tempo se passou da morte dele, mas para o roteiro sequer mencionar o acontecimento (nem Effy, nem Emily e nem Naomi tocam no nome do garoto), anos devem ter transcorrido. Por mais que não exista nenhuma associação direta em texto, gestos ou qualquer coisa do tipo, talvez a atração inicial de Effy por Jake se dê a uma velha ferida nunca fechada (e quando ela encontra um sócio que também se chama Freddie, talvez alguma ruga apareça em sua cara ou um rápido olhar se desvie).

Effy sempre foi manipuladora. Mesmo quando suas cenas eram mudas, já ficava perceptível o poder de influência que ela exercia em seus pais. Sendo assim, é possível, também, atribuir o início do relacionamento a rápida antipatia que ela desenvolveu por Victoria na empresa.

O trabalho de direção de Fire é formidável e, ao lado do talento de Kaya Scodelario (se Effy é a personagem marcante que é – ouso dizer que a mais marcante da série -, muito disso se deve a construção impecável da atriz), resultou em sequências e closes intimistas que permitiram uma viagem sensorial ao estranho mundo de Effy Stonem. Várias das cenas da garota sozinha no episódio (a primeira, a última, diversas outras) traziam closes pesados no rosto, no olhar, na expressão vazia e enigmática de Effy, que deixam até mesmo pairando no ar o que realmente aconteceu com a garota.

Tudo leva a crer que Effy realmente foi presa, mas se tratando da garota, realmente podemos descartar uma virada? Acredito que não. E acho que essa dúvida é a magia de Skins. Não vejo como um final inconclusivo, longe disso. Vejo como um final real. É nisso que Skins se sustenta desde a sua primeira temporada e não havia motivos para imaginar que a última temporada (uma ode ao show, como o canal definiu) se arriscaria pelo caminho de finais fechados e preto-no-branco.

Naomi e Emily Skins

O casal preferido de 10 entre 10 fãs da série, Naomi e Emily, também sentiu na pele as consequências de uma vida adulta. Para Naomi, a vida foi mais cruel do que para sua namorada ou para Effy. Câncer é uma barra que poucas pessoas enfrentariam e especialmente poucas pessoas jovens, com uma vida inteira pela frente, como Naomi. Mas, cabe aqui a dúvida, ela realmente tinha essa vida inteira pela frente? Durante quase toda a primeira parte de Fire, quando o roteiro ainda não deu nenhuma mostra de que a garota está doente, o que vimos é uma Naomi ressentida pelos caminhos que tomou. O brilho no olhar e o desejo de dominar o mundo sumiram;  no lugar, rancor, drogas, cigarro e bebida. A dor de estar distante de Emily, mas ao mesmo tempo sabendo que a namorada está realizando um sonho e conseguindo um lugar ao sol. E quem é que não deseja isso para a pessoa amada?

Quando o câncer vem a tona, toda a amargura guardada por Naomi se intensifica e a decisão de esconder a doença de Emily é a mais “Naomi” possível. Uma das cenas mais fortes do episódio é o momento em que a garota desabafa com Effy sobre Ems.

“Prometi a Emily que nunca mais a machucaria novamente. E quando surgiu o estágio em Nova York, eu sabia que não seria um obstáculo, porque nós somos Naomi e Emily. Não importa, porque nós nos amávamos. E agora… Agora terei de machucá-la tanto.”

O altruísmo de Naomi em esconder de Emily sua doença com medo de que a namorada largue tudo em Nova York é louvável, mas como Effy apontou, não é justo em momento nenhum. Ele traz a tona, também, todo o amadurecimento da personagem. A garota debilitada pelo câncer e jogada em uma cama de hospital em nada nos lembra aquela que conhecemos no começo da terceira temporada. E é disso que Skins sempre falou: Crescimento.

Naomi Skins

Por mais que Fire não mostre o momento em si, fica claro que, sim, Naomi morreu.  Se não morreu ali, nos braços de uma Emily completamente desesperada irrompendo pela porta do quarto, morreu depois. Ela não estava respondendo ao tratamento e, mais do que isso, não demonstrava desejo de lutar. Fisicamente, Naomi estava ali, mas por dentro, ela já tinha morrido há muito tempo. E o mais assustador e cruel disso tudo é que bate perfeitamente com a forte personalidade da jovem que um dia conhecemos e aprendemos a amar. A morte de Naomi se diferencia das outras de Skins porque, até então, elas eram repentinas e nos pegavam de surpresa. Chris, Freddie e Grace morreram de súbito. Com Naomi, a tragédia foi sendo construída aos poucos e que não tenhamos visto seu ato final é apenas um detalhe, porque sabemos o que aconteceu. E isso é o que é mais duro.

Nas próximas duas semanas, Pure traz o retorno de Cassie e, em seguida, cabe a Cook a missão de fechar a série de uma vez com seu Rise. Se o fogo nos dois episódios duplos for tão pesado como foi aqui, não resta dúvidas de que Skins saíra de cena sendo aquilo que sempre foi: A série que retratou da forma mais realista, dura e melancólica o universo jovem.


Alexandre Cavalcante

Jornalista, nerd, viciado em um bom drama teen, de fantasia, ficção científica ou de super-herói. Assiste séries desde que começou a falar e morria de medo da música de Arquivo X nos tempos da Record. Não dispensa também um bom livro, um bom filme ou uma boa HQ.

Petrolina / PE

Série Favorita: One Tree Hill

Não assiste de jeito nenhum: The Big Bang Theory

×