Quem gosta de séries cheias de enrolação, certamente não gosta de The Good Wife. Nos últimos episódios, já era claro que o vencedor da eleição para a Procuradoria seria mesmo o marido de Alicia e essa constatação não tardou a se tornar fato. Guardar tudo para o final, esperar a season finale e despejar todos os grandes acontecimentos, de vez, na cara do espectador? Não, The Good Wife é por demais requintada pra esse artifício barato usado na maioria das séries.
Aqui tudo acontece aos poucos, gradativamente, como deve ser; assim como o envolvimento de Alicia na campanha de Peter. Ela se manteve afastada por todo o tempo, mas se o marido de Wendy Scott-Carr sabe jogar baixo e aparecer na tv junto com as filhas, então talvez ela também possa. Não usar as crianças, Alicia é ética demais para fazer isso com seus filhos. Mas, usar a si própria, porque não? E assim a boa esposa entrou no jogo aos 45 minutos do segundo tempo e, ao que parece, decidiu a partida.
E o melhor momento da entrevista concedida pela Sra. Florrick talvez esteja muito além do estúdio de tv: a curiosa a cena em que Will e Kalinda assistem Alicia. Will é completamente apaixonado por Alicia. A essa altura, seus sentimentos pela colega já nem encontram mais respaldo no mundo real. São tantos anos de amor não correspondido, que parece ser difícil pra Will se arriscar a transformar esse sentimento platônico em real. Na única vez que ele se arriscou, quis o destino (ou os roteiristas da série) que tudo saísse errado, o dito acabou ficando pelo não dito, e Alicia e Will acabaram exatamente no mesmo lugar que começaram a série, há quase dois anos atrás.
Hoje, ele pode até gostar sinceramente de Tammy (Elizabeth Reaser), mas alguém tem alguma dúvida de que, ao primeiro chamado de Alicia, ele deixará a namorada a ver navios?
Algo semelhante acontece com Kalinda. A investigadora da Lockhart/Gardner parece ter se encantado com Alicia a ponto de considerá-la sua amiga. Agora que sabemos o que houve entre Kalinda e Peter, é difícil não pensar o que levou a jovem a se envolver de uma forma tão sincera com a mulher do seu antigo chefe. Me inclino até mesmo a acreditar que essa reviravolta na história só foi pensada nesse segundo ano de série, e que o envolvimento de Kalinda e Peter jamais esteve previsto na sinopse de The Good Wife. Seja como for, agora é realidade, e cabe a Kalinda (e sua intérprete, Archie Panjabi) se adequar a ela.
E é visível em seus olhos, ao observar Alicia na tv, como será difícil não tê-la mais como alguém presente em sua vida. Porque sim, era claro que mais cedo ou mais tarde a verdade viria à tona. E se, no passado, o que mais magoou Alicia foi a traição de Peter, dessa vez com certeza será o silêncio de Kalinda.
Mas falemos de coisas agradáveis, falemos de Ugly Betty America Ferrera. Sua babá-corretora parece ter mesmo abalado as estruturas de Eli Gold, e é uma pena que a personagem não venha a se tornar recorrente. É interessante ver esse lado oculto e fofo de Eli, que nem sua filha consegue trazer à tona, e seria interessante ver um relacionamento inesperado como esse tomar forma. Mas, ao que parece, não será dessa vez. De qualquer forma, o caminho foi aberto para Natalie Flores: ela prestou serviço para a Lockhart/Gardner e impressionou Will. Então, se os roteiristas assim decidirem, não será tão difícil trazê-la de volta à série.
E, de certa forma, foi até surreal a trama legal criada para o seu retorno. Não bastava um cliente que falasse e fizesse contratos em espanhol, tinha que ser o Hugo Chavez? Mais uma vez, o “caso do dia” não me impressionou, tudo muito abstrato, muito político. Ou talvez eu seja uma romântica incurável que só se sensibiliza com casos como o do casal acusado de assassinar um farmacêutico.
E assim, com Peter finalmente eleito e Alicia a par de toda a verdade sobre o seu passado, terminou mais um excelente episódio de The Good Wife. Quais serão os desdobramentos da verdade? Alicia vai confrontar Peter? Se fechará de vez para Kalinda? Chegou a vez de Will? A dois (ou três?) episódios da season finale, a série se abre para infinitas possibilidades, tudo graças, mais uma vez, à vida sexual do Sr. Florrick.
P.S.: A partir de hoje assumo oficialmente as reviews de The Good Wife. Nos vemos no próximo episódio?
