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Tudo sobre Debra f*cking Morgan

Por: em 23 de setembro de 2014

Tudo sobre Debra f*cking Morgan

Por: em

Spoiler Alert!

Este texto contém spoilers pesados,

siga por sua conta e risco.

Há um ano o público da Showtime deu adeus a uma das produções mais bem sucedidas do canal. Após oito temporadas, Dexter exibiu seu controverso series finale e voltou a ser alvo de debates calorosos sobre o processo de humanização do protagonista. Sempre se falou muito sobre a complexidade psicológica do serial killer e analista forense, mas alguém tão importante quanto o personagem título nunca recebeu a atenção merecida: Debra Morgan (Jennifer Carpenter) ou, para os íntimos, Deb.

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Humor

Uma série repleta de corpos esquartejados e assassinatos brutais poderia ser muito pesada sem um alívio cômico, e Debra desempenhou esse papel com maestria, conseguindo fazer o público rir até mesmo em momentos dramáticos. Deb tinha um humor ácido, rápido, um ar meio insolente e uma resposta na ponta da língua pra tudo. Até mesmo a sua postura durona e o fato de não levar desaforo pra casa acabavam rendendo gargalhadas.

E é claro que não dá para falar do senso de humor de Deb sem citar seus onipresentes palavrões. A maior boca suja da TV parecia ter uma criatividade inesgotável para enfiar palavras de baixo calão em todos os tipos de frase. E não se trata apenas de usar “fuck” como vírgula – afinal, isso é para amadores – ela realmente tinha um altíssimo grau de refinamento para contextualizar palavrões em qualquer situação.

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Is it your dick dance?” – 2×12: The British Invasion

Carreira

Por incrível que pareça, o lado cômico era a característica menos importante sobre a Debra. Ninguém, nem mesmo Dexter (Michael C. Hall), teve uma evolução tão acentuada ao longo das temporadas quanto a personagem, e isso fica muito claro quando analisamos a sua trajetória profissional. A garota começou no departamento de homicídios ainda insegura, lutando pelo seu distintivo de detetive, e foi bem mais além,  lidando de forma muito competente com situações difíceis e alcançando em poucos anos o posto de Tenente.

Apesar da ascensão meteórica na vida profissional, Debra foi injustiçada pelos roteiristas, que diversas vezes incluíram fatores para diminuir o mérito das suas promoções na trama. Por exemplo, na primeira temporada, quando ela encontrava pistas importantes sobre o Ice Truck Killer, isso era atribuído às dicas dadas por Dexter. Quando se tornou Tenente, foi por causa de uma provocação pessoal do superior de LaGuerta (Lauren Vélez).

Deb cresceu profissionalmente apesar destes fatores, e não por causa deles. Ela sempre foi uma profissional séria, ética, destemida e sagaz, além de trabalhar duro sem perder a empatia e a sensibilidade. Apontar Angel (David Zayas) como favorito ao cargo de Tenente e criar um conflito pessoal para justificar a promoção de Debra foi como desmerecer as inúmeras qualidades da personagem.

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I could give a fuck who you fuck. Just don’t fuck with my investigation, you fuck!” –  6×06: Just Let Go

Vida amorosa

E se em sua carreira ela foi injustiçada, na vida amorosa Deb sofreu um verdadeiro massacre. Uma mulher forte, inteligente, bem sucedida e engraçada tem tudo para conseguir um parceiro bacana, certo? Não para ela. Debra se apaixonou pela “identidade secreta” do Ice Truck Killer e quase terminou fatiada. Se envolveu com Anton (David Ramsey), que compôs uma música fofa em que a chamava de “Vadia magra malvada” , e até com um bandido aleatório assassinado por Dexter. Ela chegou a viver um relacionamento saudável com Frank Lundy (Keith Carradine), mas ele sangrou até morrer na sua frente, em mais um ato sádico dos roteiristas para com a personagem.

A mensagem que fica é que não importa o quão incrível uma mulher seja, se ela decidir viver sua afetividade e sexualidade de forma livre, empoderada e desafiando os padrões de como uma “moça de bem” deve se comportar, ela não vai conseguir um cara minimamente decente e vai ter que se contentar com homens como Quinn (Desmond Harrington) – um policial corrupto e um rapaz mimado que não sabia lidar com a rejeição. Muita gente torceu o nariz para a paixão de Deb por Dexter, mas é compreensível que depois de tantos relacionamentos traumáticos ela tenha se apegado à única figura masculina que pareceu amá-la e respeitá-la em toda a sua vida.

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Trust me. No one knows what it’s like to fall in love with the wrong person more than I do” – 8×07: Dress Code

Debster

A relação entre Debra e Dexter foi uma das melhores coisas da série. A cumplicidade e proteção mútua, as noites comendo bife e tomando cerveja, a aparente intimidade… tudo poderia ser perfeito – se não fosse baseado em mentiras. Debra era uma grande admiradora do irmão, e nutriu durante a vida um sentimento de carinho e respeito que em certo momento se transformou em um interesse romântico não correspondido. Mas aquela paixão não foi seu único sentimento unilateral em relação a ele.

Enquanto Debra foi capaz de perdoar, ajudar e até mesmo matar para encobrir os crimes de Dexter, ele em pouco retribuiu esse amor incondicional. Dex dizia que Deb era a pessoa mais importante para ele, mas depois de ter escolhido a vida dela em vez da vida do outro irmão (que conhecera semanas antes), ele não fez lá muita coisa para ajudá-la. Interferia nas investigações da irmã para levar os bad guys para a sua mesa e não pensou duas vezes antes de decidir deixá-la para trás pra viver à base de alfajor e tango com Hannah (Yvonne Strahovski).

No piloto, Dexter diz que se amasse alguém, essa pessoa seria Deb. Mas ele assumiu amar Harrison, Astor, Cody, Rita e Hannah antes de declarar seu amor por ela – e só quando a detetive já estava em coma. Debra morreu um pouquinho quando descobriu que ele era um serial killer, mais um pouco quando ele escolheu Hannah em vez dela e mais ainda quando matou LaGuerta para salvá-lo. Desligar os aparelhos foi o de menos, já que Dexter a estava matando aos poucos desde muito antes.

Debster

You’re a serial killer and I’m more fucked up than you are!” – 7×08: Argentina

Jornada

O clima latino de Miami pode ter dado ares melodramáticos à trajetória de Debra Morgan, mas ela sempre deu um jeito de superar as dificuldades para manter sua essência, sua vitalidade e a fé que tinha nas pessoas. Por isso soa tão injusto pensar que ela foi morta de uma maneira tão banal pelo vilão mais insosso da série. Enquanto Rita (Julie Benz) teve uma morte emblemática pelas mãos de um personagem importantíssimo, Debra morreu de repente e, como se não bastasse, foi desovada no mar, igualada à escória que Dexter costumava descartar de seu barco, sem a chance de ter ao menos um velório, um enterro digno e muito menos algum tipo de redenção.

Atrás das câmeras infelizmente a coisa não foi muito melhor, já que Jennifer Carpenter nunca conseguiu sequer uma indicação aos prêmios mais importantes da TV. Como assim, Deb?

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Shit a brick and fuck me with it” – 5×07:  Circle Us


A vida pode não ter sido muito justa com Deb, mas quem acompanhou a sua jornada durante oito anos nunca vai esquecer do seu humor, sua garra e sua dedicação ao trabalho e àqueles que amava. A TV no último ano foi um pouquinho mais triste sem os seus palavrões, mas a lembrança das suas frases mais marcantes sempre conseguirá tirar um sorriso até do fã mais ranzinza. 

E você? O que achava da personagem? Também sente falta da Debra “fucking” Morgan? Deixe seu comentário!


Laís Rangel

Jornalistatriz, viajante, feminista e apaixonada por séries, pole dance e musicais.

Rio de Janeiro / RJ

Série Favorita: Homeland

Não assiste de jeito nenhum: Two and a Half Men

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