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The Walking Dead – 2×09 Triggerfinger

Por: em 20 de fevereiro de 2012

The Walking Dead – 2×09 Triggerfinger

Por: em

The Walking Dead dá dois passos para frente e dez para trás. Por mais que a sensação passada pelo episódio dessa semana tenha sido boa, quando você pára para pensar nele, percebe o quanto a série encontra-se estagnada (chegando a regredir em alguns aspectos) e se pergunta se um dia será possível elogiá-la sem alguns “poréns”.

Triggerfinger esteve longe de ser ruim. O problema é o que ele traz para a série a longo prazo: seus acontecimentos representam uma regressão na narrativa e expõem as falhas do trabalho mediano dos roteiristas.

Na review passada, eu disse que Nebraska nos dava uma luz no fim do túnel. Triggerfinger chega perigosamente perto de apagar esta luz. Se, na semana passada, algumas tramas nos davam a impressão de que a série está sem rumo, aqui a situação é diferente: existe um rumo, mas ele não parece levar a lugar algum. Todo o desenvolvimento sugerido no episódio anterior não passou de teorias dos telespectadores. O que Jenner disse não foi mencionado, o dilema de Glenn e Maggie não era indício de que o grupo estava prestes a sair da fazenda, e sim uma crise boba no relacionamento dos dois, a filha de Hershel não parece ter sido infectada, o luto de Carol foi quase que completamente esquecido e Lori não perdeu o bebê. O que sobra? Um impasse desnecessário acerca do novo habitante da fazenda e a rivalidade entre Rick e Shane, provavelmente a única storyline que vale a pena ser acompanhada.

O episódio começou muito bem, prometendo estar no nível de Guts, What Lies Ahead Save the Last One, os mais tensos que a série já teve. É fato que o bom ritmo e as cenas fortes se mantiveram até o fim do episódio, mas conforme eu fui percebendo como as coisas estavam se delineando, fui gostando menos e menos de Triggerfinger. Voltando ao bom início, Lori, personagem mais irritante do trio protagonista, brilhava em batalhas viscerais contra walkers em uma estrada deserta (como essa série sabe fazer cenas de ação, né?). Rick, Glenn e Hershel enfrentavam o grupo de Tony e Dave (e agiam feito idiotas, diga-se de passagem – como eles não bloquearam a porta do bar com uma cadeira? E o Rick, tentando convencer os amigos dos caras que ele tinha acabado de matar com aquela conversinha? Acreditou mesmo que aquilo ia colar? Mas tá valendo), mais uma vez lidando com uma ameaça humana.

Na realidade que The Walking Dead retrata, tudo é justificável. Preceitos morais e laços afetivos caem por terra frente ao instinto de sobrevivência. Como disse Robert Kirkman em uma entrevista, eles estão vivendo fora dos limites seguros da civilização, e a série acertou mais uma vez ao retratar todo esse desespero em Triggerfinger. As ruas viraram um campo de batalha, sobrevivente matando sobrevivente, companheiros sendo deixados para morrer, gente gritando e gemendo… até aqui, só tínhamos noção desse caos através das situações vividas pelo grupo liderado por Rick e pela Família Hershel. Ver um grupo genuinamente mal caráter, aparentemente disposto a qualquer coisa para manter-se seguro, nos dá uma ideia do que deve estar acontecendo ao redor do mundo: saques, assassinatos, guerras e Deus sabe o que mais.

Tinha até me esquecido de que Glenn e Maggie são bons personagens, e do quanto eles funcionam juntos. Maggie contando aquela história sobre a irmã para Andrea, Glenn assustado durante o tiroteio… eles não são durões, não andam por aí com colares de orelhas de zumbis, mas reagem àquilo tudo da maneira como pessoas comuns e psicologicamente despreparadas reagiriam. O problema é que os roteiristas não se dão por satisfeitos enquanto não conseguem estragar algo que é bom. Maggie abraçando Glenn e ignorando o pai: precisava? Glenn brigando com Maggie porque… bem, esqueci o motivo, precisava? Eles também pesaram a mão no Daryl (quase escrevi Sawyer), e eu espero que eles consertem o personagem, que vinha sendo uma dos pontos altos da temporada. E a Carol? A mulher perdeu a filha, todo mundo ficou afetado por causa daquilo, e ela tá lá, cuidando do jantar, seguindo Daryl feito um cachorrinho… parece que eu tive uma reação mais forte à morte da Sophia do que a mãe dela.

Quanto ao acidente de Lori, claro que ainda existe a possibilidade dela ter perdido o bebê, mas ela agora é pequena, e de qualquer maneira, foi muito decepcionante vê-la saindo ilesa daquele carro. Lori volta para a fazenda como se nada tivesse acontecido, explica para o filho de onde vêm os bebês, tem aquela discussão mal escrita com o Shane (o que estava sendo discutido ali? O sumiço de Rick, a morte de Otis ou o relacionamento deles?) e bola pra frente. Felizmente, foi tomada a corajosa decisão de colocar Lori como a flamethrower do embate entre Rick e Shane. Ela já era o pivô das desavenças dos dois, mas daí a tentar convencer Rick a matar o ex-melhor amigo? Novamente, na situação em que eles se encontram, não dá para julgá-la. Ela age de acordo com o que acredita ser melhor para aqueles que ama. Também é muito bacana ver os personagens tomando partido: team Rick e team Shane vão se formando, mas o bom-mocismo de Rick e a impulsividade de Shane, que beira a psicose, excluem qualquer possibilidade de indecisão da parte do telespectador. Mesmo assim, essa storyline é um dos maiores trunfos da temporada.

Entretanto, ao passo em que sua trama principal avança, somos introduzidos a uma nova situação que parece ter como única função amarrar o desenvolvimento da série ao prolongar a estadia dos sobreviventes na fazenda. O nome do novo filler é Randall, o garoto resgatado por Rick que será, agora, o novo motivo para discórdia entre os sobreviventes. Tá certo que a cena do resgate valeu muito a pena. Uma horda de zumbis cercando Rick, Hershel e Glenn enquanto eles tentavam amputar a perna de um cara no melhor estilo Jogos Mortais? Que sequência! Aí eu li a sinopse dos próximos episódios e percebi que o roteiro vai ficar preso à esse personagem e deu vontade de chorar. Porque The Walking Dead não vai saber conduzir isso tão bem quanto Lost conduziu a situação Ben Linus na segunda temporada. Porque as chances disso ficar chato e/ou desinteressante são muito grandes. Porque isso tem cara de “busca por Sophia”. Porque eu queria que eles saíssem daquela fazenda logo. Porque tem personagens que não têm nenhuma fala durante os episódios e eles ficam gastando tempo com essas storylines que não mostram a que veio. Porque eu não vejo isso acrescentando muito para a série. Espero que The Walking Dead surpreenda.

Abandonando muito do desenvolvimento insinuado em Nebraska, Triggerfinger aumenta a sensação de que o roteiro não tem para onde ir. Fora Rick versus Shane e Randall, o que está sustentando a série? Apesar de ter sido um ótimo episódio, as consequências do que vimos aqui não parecem animadoras. Assim como disse durante a trama de Sophia, não descarto a possibilidade dos roteiristas terem um domínio muito maior do que eu imagino sobre a série, e que consigam trazer novas tramas muito interessantes a partir destes dois únicos fios condutores, mas talvez The Walking Dead devesse reavaliar seus rumos antes que encontre-se completamente perdida.

Acredito que a maioria tenha gostado mais do episódio do que eu. O que você achou?

P.S.: E Shane e Andrea? Tão gostando? Eu acho que tem muita química ali, e quero ver mais do relacionamento dos dois.


João Miguel

Bela Vista do Paraíso - PR

Série Favorita: Arquivo X

Não assiste de jeito nenhum: Reality Shows

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